A venda de sabonetes durante o inverno costuma cair 8% no Rio Grande do Sul. Esse é um dado de pesquisa feita há já alguns anos pela Associação Gaúcha de Supermercados. Isso confirma o ‘enforcamento’ do banho que ocorre nos dias muito frios. Porém, olhando ‘friamente’ os números, conclui-se que não chega a ser tão grande a quantidade de pessoas que pulam o banho. Já tivemos tempos piores.
Há 60 anos, o homem já viajava pelo espaço sideral, mas algo singelo como um banho ainda tinha seus mistérios junto aos simples mortais. Mulheres menstruadas não deviam banhar-se porque a menstruação “recolhia”. Após o parto, a mãe não podia tomar banho completo por quarenta dias, era a “quarentena”. Pessoas gripadas não se banhavam, algumas até por recomendação médica. Também era proibido tomar banho após as refeições porque isso dava ‘congestão’. O meu professor de química não tomava banho porque, segundo sua teoria, a fricção da pele eliminava elétrons do corpo. Ele fedia um pouco.
Olhando mais para trás, observa-se que o banho sempre teve alguns mistérios. Os franceses, por exemplo, raramente usavam esse método de higiene. Foi para disfarçar o budum geral que a perfumaria francesa se desenvolveu tanto. O rei Luís XIV, que possuía 16 amantes e morreu aos 77 anos, orgulhava-se em dizer que não tinha tomado mais de cinco banhos “inteiros” durante a vida. Mas ele era consciente do seu fedor e trocava roupa e peruca três vezes ao dia tentando diminuí-lo.
Na época da peste, que matou milhões de pessoas, espalhou-se a crença de que o banho quente dilatava os poros da pele e isso facilitava a entrada da doença no corpo. Muitos médicos, pasmem, afirmavam que a sujeira da pele servia como barreira para proteger o corpo contra males contagiosos. A Igreja Católica também deu a sua contribuição para a falta de asseio considerando o banho imoral. Para não cometer pecados, os fiéis só podiam lavar as partes visíveis do corpo.
O imperador Napoleão Bonaparte, que acompanhava pessoalmente o seu exército nas batalhas, ao regressar a Paris costumava mandar um mensageiro levar um bilhete para sua esposa Josefina, ou para a amante Desiré, com o seguinte recado: “Chego em breve. Não lave.” Alguns historiadores relacionam maliciosamente essa preferência do imperador ao gosto que os franceses têm por queijos de forte odor.
Os europeus têm até hoje alguns problemas com o banho. Eles estranham quando recebem, em casa, hóspedes, como os brasileiros, que costumam se banhar diariamente. Nos hotéis, ainda há banheiras de imersão. Os chuveiros são complicados, alguns são de segurar com a mão. As torneiras quente e frio são uma parafernália de metais com tantas regulagens que necessitam, às vezes, de explicações sobre o seu funcionamento. Quando há boxes, um banho demorado pode inundar o quarto.
Falamos muito mal do Brasil, mas em matéria de banho somos um dos países mais evoluídos do mundo. O brasileiro aprendeu isso sozinho, a despeito do preço da energia e do gás. Ainda bem que o Governo ainda não tomou para si esse ‘sucesso nacional’. Mas não estamos livres de, um dia, criarem uma estatal tipo “Banhobrás”. Aí, sim, vamos feder.