No maior desastre natural do Rio Grande do Sul, abre-se um grande debate – que é necessário – para discutir causas, efeitos, investimentos, soluções, para que no futuro essas situações extremas possam ser enfrentadas com menos perdas. Ambientalistas acusam o homem de destruir a natureza e sofrer as consequências. Acusam governos de omissos. E por ai vai. E com suas razões. Mas daí vejo dados intrigantes. No passado, há mais de 100 anos, quando o Rio Grande ainda era quase só mato, aconteceram muitas enchentes grandes que alagaram Porto Alegre, como registra o livro sobre a história do Correio do Povo, citando as enchentes de outubro de 1873, que chegou até a rua dos Andradas, e de setembro de 1928, que desalojou 30 mil pessoas. E a de maio de 1941, considerada a maior de todas, que elevou o Guaíba a 4.73 metros. Claro que todas ainda foram menores do que a de agora, em maio de 2024, que alcançou 5.35 metros.
Tenho afirmado desde a enchente de setembro de 2023, que as cidades vão ter que repensar a ocupação urbana, especialmente no Vale do Taquari. E isso já está acontecendo. Roca Salas vai mudar uma parte da cidade, que está dentro de uma curva do rio Taquari, para área mais alta. Cruzeiro do Sul vai reconstruir o bairro Passo da Estrela em outro local. Em Mariante o prefeito Jarbas da Rosa diz que não vai reconstruir posto de saúde e escola na localidade, sob risco da próxima enchente levar tudo de novo. E ele vai fazer casas em Estância Nova, para famílias que perderam sua casa em Mariante e que queiram morar em Estância. É um processo inevitável, que vai forçar outras cidades do Vale do Taquari, como Muçum, Encantado, Arroio do Meio, Lajeado e Estrela também repensarem a ocupação urbana nas áreas onde o rio Taquari inunda.
Paralelo a esse debate, tem um outro ponto que é levantado, mas não ganhou, ainda, a importância que precisa ter, que é o assoreamento dos rios. Faz 10 anos que a Fepam proibiu a retirada de areia do Jacuí e do Guaíba, atendendo pedido do Ministério Público, como denuncia o deputado Giovani Cherini (PL), pois a exploração estava sendo danosa ao meio ambiente. Sem retirar areia do fundo, os rios vão assoreando e perdendo profundidade. Com isso espalham a água lateralmente, atingindo lugares nunca antes alcançados. Teria sido esta uma das causas da enchente histórica que ainda estamos vivendo, a perda de profundidade dos rios depois as enchentes de 2023?
Imagine então depois da cheia de agora, quanto material de entulho tem no leito do rio Taquari, com as casas e árvores que arrastou, para citar só um exemplo. Vai ser preciso pensar nisso e incluir entre as ações necessárias.
Airton Artus: área do IPM foi um teste
O deputado estadual Airton Artus (PDT), ex-prefeito reeleito de Venâncio, que é da base governista na Assembleia, divide sua atenção entre atividades parlamentares e o acompanhamento das ações do governo estadual para atender os gaúchos atingidos pelas cheias dos rios neste mês de maio.
Artus reforçou pedido protocolado pelo prefeito Jarbas da Rosa (PDT) no dia 9 de maio junto ao Estado, solicitando a liberação da área remanescente de 5,7 hectares do Instituto Penal de Mariante (IPM), que está desativado, em Vila Estância Nova, para implantar ali um projeto habitacional de 40 casas para atender famílias de Vila Mariante, que perderam suas casas na enchente do rio Taquari.
O governador Eduardo Leite, em sua visita ao Vale do Taquari no último sábado, 18, acenou positivamente ao pedido feito pelo prefeito Jarbas. E agora na quarta, 22, veio a autorização do Estado para o Município ocupar a área. É essa celeridade que se espera do poder público, não só em emergências, mas como algo natural. E além de repassar a área do IPM, Leite ainda anunciou na quinta, 23, em Estrela, a construção de 538 casas para famílias que perderam a sua na enchente. Venâncio foi contemplado com 40 casas que vão ser construídas na área do IPM.
“A possibilidade de um loteamento (ou novo bairro ou conjunto) habitacional em Estância Nova era um desafio às autoridades”, definiu Artus. “A área é boa, é elevada, está disponível, a comunidade aceita, a população quer”, enumera o deputado, afirmando que foi um teste para os governos municipal e estadual, para mostrar que na área pública as coisas podem andar mais rápido.
Agora é preciso correr com a infraestrutura na área, com ruas, energia e água, para iniciar a construção das casas.
Recolocação de empresas
As três enchentes do rio Taquari, em oito meses, que destruíram bairros inteiros, casas, empresas, ruas, estradas, fazem a região repensar localização de residências, empresas e infraestrutura. Faz as comunidades repensarem a ocupação próxima dos rios. E Teutônia, que fica mais distante do rio Taquari e é imune às enchentes, já sente o movimento de empresas que buscam por nova localização. A Câmara de Indústria e Comercio (CIC) e a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, Inovação e Turismo, já tratam do tema por lá.
Venâncio é outra cidade que tem sua área industrial distante das cheias, tanto do rio Taquari, quanto do arroio Castelhano. E tem o diferencial estratégico de localização geográfica privilegiada, com a RSC-287 e a RSC-453, rodovias que nos ligam à região metropolitana, centro do estado e serra gaúcha.
O prefeito Jarbas da Rosa, me disse que tem recebido contatos, mas que essa não é a hora de tratar isso, publicamente, no momento de tragédia. Mas diz que está atento.
O deputado Airton Artus trabalha com Jarbas para que saia a licença da Fepam para a área de 80 hectares em Estância Nova, destinada para um novo distrito industrial e possa ser receber empresas em área privilegiada as margens da RSC-287 e fora da área de enchente do rio Taquari.
Relatório de Sustentabilidade da China Brasil tabacos
Nos chega aqui na Folha e Terra FM o Relatório de Sustentabilidade 2023 da China Brasil Tabacos (CBT), empresa com matriz em Venâncio, que tem na direção Ricardo Jackisch, como diretor geral, Qu Yongsheng, como vice-diretor e Roberto Naue, como diretor Administrativo e Financeiro.
A CBT opera desde 2012, para abastecer a China com tabaco brasileiro. Em 2014 uma joint-venture entre a China Tabaco Internacional do Brasil (CTIB) e a Alliance Onde Brasil (OAB), fortaleceu as operações da CBT, que passou a ter sede em Venâncio Aires, no complexo industrial da Alliance One, na rua Senador Pinheiro Machado, no bairro Gressler.
Nos últimos cinco anos a China Brasil tabacos (CBT) passou de um faturamento de R$ 772 milhões, em 2019, para R$ 1.834 bilhão em 2023, mostra o relatório, que destaca as ações sustentáveis da tabacaleira, uma das três maiores empresas do município na geração de Valor Adicionado Fiscal (VAF) em 2022.
Notinhas
- Lideranças de partidos políticos no estado recebem contatos de correligionários sugerindo adiamento da eleição municipal, marcada para dia 6 de outubro. Em 2020, na pandemia da Covid, a eleição municipal foi adiada em todo o país, para o dia 15 de novembro. Agora, diante do caos gerado pela enchente, só no RS, existem posições para adiar a eleição para 2025. Entendo ser pouco provável isso acontecer, mesmo que seja ruim trocar prefeitos em meio à reconstrução das cidades atingidas pela enchente. Qualquer alteração precisa ser autorizada pelo Congresso e o TSE não cogita isso, conforme eeu presidente Alexandre Moraes.
- Prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo (PP), está no seu segundo mandato e já anunciou como pré-candidata a prefeita pelo governo, a sua vice, Glaucia Schumacher, também do PP, filha do ex-prefeito, por três mandatos, Claudio Schumacher. Caumo é nome para concorrer a deputado em 2026 pelo Vale do Taquari, que não elegeu nenhum representante nas últimas eleições. Ele fez 29.719 votos em 2020 (71% dos votos válidos) na sua reeleição em Lajeado. Pode eleger sucessora em 2024 e se eleger deputado em 2026.
- Prefeito de Chapecó, João Rodrigues, chegou à Arroio do Meio, na terça, 21, com um comboio de 30 caminhões, carregados de máquinas, equipamentos, doações e 200 voluntários, com provisões, para ajudar na limpeza da cidade atingida pela enchente do rio Taquari. É comovente a solidariedade de cidades catarinenses na ajuda às cidades gaúchas atingidas pela enchente.
- Semana movimentada em Brasília. Enquanto o TSE rejeitava por 7 a 0 a cassação do senador do Paraná, Sergio Moro, a pedido do PT e PL, o STF anulou mais uma ‘penca’ de condenações da Lava Jato, que foi comandada por Moro e colocou políticos e empresários corruptos na cadeia. Dias Toffoli, advogado do PT que Lula colocou no STF, anulou as condenações de Marcelo Odebrecht, réu confesso. Edson Fachin, nomeado por Dilma, anulou condenações por recebimento de propina dos senadores Renan Calheiros e Romero Jucá, enquanto a segunda turma do STF, com Nunes Marques indicado por Bolsonaro, anulou condenações por corrupção de José Dirceu. Uma farra de impunidade.
Do X (Twitter)
- UOL: Lula diz que tendência é vetar taxação de compras internacionais de até US$ 50, caso a proposta seja aprovada pelo Congresso
- Gazeta do Povo: Haddad critica Bolsonaro e diz que governo “herdou” problema fiscal de R$ 300 bilhões
- O Globo: Racismo ambiental: favelas e periferias registram temperaturas 10º mais altas do que bairros de elite
- Revista Oeste: Rio Grande do Sul garante abastecimento de arroz, sem necessidade de importação
- Cristian Deves: O Plano Marshal do governador Eduardo Leite com a vinda do Paulo Pimenta virou Plano Murchou