Na quinta, 9, o presidente Lula anunciou um pacote de 12 medidas que beneficiam os atingidos pela enchente no RS. O pacote soma R$ 50,94 bilhões de recursos, dos quais R$ 35 bilhões são linhas de crédito, para municípios e empresas acessarem em condições especiais.
Entre as medidas do pacote também estão ações já anunciadas, como liberaçã o do FGTS, antecipação da restituição do IR, incluindo agora ampliação de dois meses no seguro-desemprego, antecipação do abono salarial, antecipação do pagamento do bolsa família, benefícios diretos ao cidadão atingido pela enchente. Tem mais um Fundo de R$ 200 milhões para o Estado e Municípios, estruturem projetos.
É um conjunto de medidas importantes, mas que deixa prefeitos frustrados. Os prefeitos clamam por recursos diretos para começar a reconstruir a infraestrutura. Jarbas da Rosa, prefeito de Venâncio e presidente da Associação dos Municípios do Vale do Taquari (Amvat), a região mais atingida, calcula que para reconstruir a infraestrutura em Venâncio serão necessários R$ 300 milhões, que é o orçamento de um ano do município. “Anúncios, medidas, não vão reconstruir estradas, pontes, escolas, postos de saúde, que foram destruídos, precisamos de dinheiro”, cobrou Jarbas, em apelo dramático que fez nesta semana. O governador Eduardo Leite projeta que o RS vai precisar de R$ 19 bilhões para reconstruir infraestrutura no estado.
Venâncio faz 133 anos na tragédia da enchente
Venâncio Aires completa neste 11 de maio, 133 anos de emancipação político-administrativa de General Câmara, em 1891. E é um aniversário diferente. Neste 11 de maio, quando o Parque do Chimarrão era para estar lotado de gente na 17ª Fenachim, todos estão voltados para contar prejuízos, ajudar pessoas a começar reconstruir boa parte do município, depois das enchentes históricas do arrio Castelhano e do rio Taquari.
E o maior estrago foi justamente em Vila Mariante, por onde começou a ocupação do território que hoje é Venâncio, onde chegaram portugueses para explorar os vastos campos existentes na imensa planície, do que é hoje os distritos de Vila Mariante e Vila Estância Nova.
Mariante, que sofreu muitos prejuízos com as enchentes de setembro e novembro do ano passado, agora sofre uma muito pior, que levou boa parte da vila rio a baixo. Um local que hoje é inóspito, inabitável, como disse o prefeito Jarbas, quando conseguiu chegar em Mariante nesta semana, depois da água do rio baixar. Não tem mais água, não tem energia, não tem mais posto de saúde, não tem mais escola, e não tem mais a maioria das casas ao longo do da costa do rio.
Mas ficou em pé a igreja Nossa Senhora dos Navegantes, que pode ser o marco de uma reconstrução de Vila Mariante, mesmo que a maioria dos seus moradores estejam decididos a deixar a vila e procurar outro local para morar.
Além de Mariante, centenas de casas na cidade baixa foram invadidas pelas águas do arroio Castelhano, causando muitos prejuízos. E na região serrana do município, a chuva torrencial gerou volume de água nos arroios, destruindo estradas, levando pontes, redes de energia elétrica, e provocou deslizamentos de encostas.
Este é o quadro desolador de Venâncio Aires, assim como é em outros municípios do Vale do Taquari, onde áreas urbanas foram ainda mais atingidas, como Cruzeiro do Sul, onde o bairro Passo da Estrela desapareceu levado pelas águas, Lajeado, Estrela, Arroio do Meio, Roca Sales, Encantado e Muçum, que tiveram a força da água do rio Taquari em suas áreas centrais.
O Vale do Taquari, com terras entre as mais férteis do mundo, está mobilizado para se reconstruir e conta para isso com recursos dos governos estadual e federal, mas especialmente da sua brava gente.
Vamos reconstruir a Capital do Chimarrão. Vai demorar, mas vai acontecer, pelas mãos de todos nós.
A solidariedade brota por todos os lados
Repetindo situações extremas anteriores a solidariedade está muito presente em todas as cidades atingidas por inundações de rios neste início do mês de maio em quase todo Rio Grande do Sul. Na cobertura por rádio, digital e impresso da Folha e Terra FM, foram incontáveis as iniciativas divulgadas, de ações de clubes de serviço, de entidades de todas as áreas, de pessoas conhecidas e de muitas anônimas.
A frase que mais se ouve nestas iniciativas é esta: Ninguém pode ajudar todo mundo, mas todo mundo pode ajudar alguém.
Neste contexto vi em redes sociais uma iniciativa da odontopediatra Marina Sbruzzi, que também é modelo e tem 45 mil seguidores no Instagram. Ela mobilizou seus seguidores ainda durante e enchente e começou a receber muitas doações, de pessoas e de empresas. Ela já arrecadou R$ 110 mil, que estão sendo investidos na compra de colchões, travesseiros, material de limpeza, cestas básicas, que foram entregues no Centro de Eventos São Sebastião Mártir, onde a vice-prefeita Izaura Landim coordena a distribuição de doações. Este é um dos exemplos da força de mobilização que as pessoas muitas vezes nem sabem que tem. Marina se disse surpresa com a proporção que sua iniciativa solidária tomou.
Na quinta, o comediante Badin, O Colono, – ele faria show na Fenachim – que já arrecadou mais de R$ 65 milhões em doações na sua rede digital, anunciou a destinação de R$ 500 mil para a reconstrução de ponte de ferro entre Lajeado e Arroio do Meio, cidade que está isolada. E destinou R$ 100 mil para os Rotary’s e Lions’s organizarem ações em favor de atingidos pelas cheias aqui.
A transportadora Henkes, em Minas Gerais, vai transportar doações para o RS. O governador Romeu Zema enviou 7.2 mil cestas básicas, além dos recursos de salvamento que já tinha enviado. O Instituto Galo, do Atlético Mineiro, anunciou a destinação de pix de R$ 100 mil para o governo do RS, R$ 20 mil para a Paresp de Venâncio, mais 12 mil litros de leite, água e roupas. Juninho Henkes, filho de Dirceu Henkes, fez os contatos por lá e vai transportar tudo para o Sul.
Aqui, o ator Sergio Rosa, a produtora cultural Jaqueline Gonçalves e Simone Malmann, fazem uma campanha para crianças dos abrigos instalados em Venâncio, nos ginásios de Mangueirão, Estância e Santa Tecla. Já doaram 60 kits com livros, guloseimas e brinquedos. O trio já recebeu doações de SP, MG, BA, PR, GO e RS. Agora trabalham para conseguir mochilas para estas crianças.
O tem muitos outros que não estão em redes sociais e fazem seu trabalho silencioso, que ajuda muitas pessoas. Todos compõe um verdadeiro exército de solidariedade, ação que se espalhou pelo Brasil e pelo mundo, com mobilização para ajudar o Rio Grande do Sul.
Pedido de ajuda de Jarbas teve resposta
Jarbas na quinta, 9, implorava por ajuda quando o desvio por estradas secundárias que ele traçou para chegar até Vila Mariante, foi tomado por carros e caminhões. Não tinha presença nem da Polícia Rodoviária nem da Rota de Santa Maria, concessionária da RSC-287, rodovia que está interditada entre Picada Mariante e Vila Mariante, onde a água levou o asfalto. “Estou sozinho aqui”, clamou Jarbas. “Me ajudem”, chamou pela PR e Rota Santa Maria. No final do dia Jarbas teve uma crise de hipertensão e ficou de repouso ontem, mas hoje coloca o colete novamente.
No mesmo dia empresários da cidade, em reunião do Rotary Clube, se mobilizaram e ontem pela manhã foram à Prefeitura para auxiliar na construção da via lateral na RSC-287. Hoje pela manhã tem uma nova reunião com a presença da Rota Santa Maria e MP.