Quase 50 gavetas abarrotadas com fichas de crianças e adolescentes. São centenas, se não milhares, de casos atualmente em atendimento no Conselho Tutelar de Venâncio Aires. O volume de documentos não surpreende, ao se comparar com o total de atendimentos em 2024: mais de 2,5 mil.

São inúmeras situações de infrequência escolar, que são comunicadas com a parceria importante das escolas. Mas chama atenção que, de tudo que chegou ao conselho de Venâncio no ano passado, cerca de 70% tiveram sua origem em conflitos familiares. Ou seja, problemas que, infelizmente, acontecem dentro de casa e envolvem situações graves de abuso sexual, violência doméstica, alcoolismo e drogas. As denúncias chegam semanalmente, mas há tantos outros que ficam omissos, muitas vezes por medo ou vergonha.

Fato é que essa é a realidade de centenas de crianças e adolescentes em Venâncio Aires. Para muitos deles, se não houver a assistência, no futuro há o risco de as histórias se repetirem. “São situações que se repetem nas gerações seguintes da mesma família, porque é muito difícil cortar esse ciclo”, comentou Maria Roseli Henz, a mais experiente dos conselheiros em Venâncio Aires, em reportagem na página 4 da edição deste fim de semana. Toda essa demanda passa por ela e outros quatro profissionais. Como Venâncio tem menos de 100 mil habitantes, a resolução federal diz que precisa um conselho com cinco titulares e cinco suplentes.

Só em janeiro de 2025, foram 198 atendimentos. No ano passado, no mesmo período, foram 131. Um aumento de 51%. Esses números confirmam o crescimento contínuo das demandas e as quais também refletem no trabalho do Centro de Referência de Assistência Social (Cras), Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), Centros de Atenção Psicossocial (Caps Adulto e Caps Infantil), da Brigada Militar e do Ministério Público.

Felizmente, a rede assistencial de Venâncio Aires é bem estruturada e com profissionais engajados. Mas até quando o serviço dará conta dessa demanda? Essa não deve ser apenas uma preocupação do poder público e dos órgãos de segurança. Deve ser uma preocupação da sociedade, sabedora dos deveres que tem para garantir os direitos das crianças e adolescentes.