Carne armazenada na banha, banho de bacia, luz de velas. O que pode parecer descrições de costumes de décadas atrás, quando a eletricidade ainda não era uma realidade em todos os lares, foi vivido e sentido na pele, nesta semana, por moradores da área rural de Venâncio Aires.
Logo após o forte temporal registrado na noite do dia 16, milhares de pessoas ficaram às escuras. Nesta sexta-feira, 26, 10 dias após o evento climático, ainda chegavam à redação da Folha do Mate relatos de moradores sem luz.
Se já não bastassem os estragos causados pela força do vento, a demora para o restabelecimento da energia testou a paciência dos moradores. Diante de tantos casos que chegaram ao conhecimento da equipe de reportagem, na quinta-feira, 25, a Folha percorreu cerca de 70 quilômetros e foi até algumas propriedades para conversar com essas pessoas e relatar esse cenário de prejuízos e tamanha indignação. “A gente perde até a dignidade”, desabafou uma agricultora.
Tudo que se ouviu e vivenciou nos últimos dias, expôs a fragilidade de um sistema e escancarou a ausência de planos de contingência. Como agir diante de situações de crise? É essencial que os responsáveis adotem medidas para evitar que episódios como esse se repitam. A segurança e o bem-estar das comunidades não podem ser negligenciados.
Este cenário colocou ‘na mesa’ a necessidade de investimentos que ajudem Municípios e as empresas, neste caso, a RGE, a enfrentar situações adversas. É preciso ter fluxos bem estabelecidos para agir em momentos de calamidade, caso contrário, o plano de ação dará lugar à falta de comunicação e a demora no retorno dos serviços.
Entre as lições que ficam deste temporal, está a necessidade de agilizar a substituição de postes de madeira e a urgência na implementação de planos de arborização, afinal, a queda de árvores foi uma dos agravantes. Em muitos casos, a demora no restabelecimento de energia se deu por situações complexas que envolveram quedas de árvores. Um problema que não foi só em Venâncio, mas em todas as cidades atingidas pelo temporal. A situação levou, inclusive, o governador Eduardo Leite a anunciar que encaminhará à Assembleia um projeto de lei que definirá parâmetros para a arborização nos municípios. Em Venâncio, essa pauta também já vem sendo tratada com prioridade após o temporal. O prefeito Jarbas da Rosa garantiu que um plano de arborização será projetado para toda a cidade, a começar pela Praça Evangélica, que foi devastada e precisará de uma reconstrução.
Agora, cabe aos gestores se preparar, cobrar investimentos das empresas e, colocar em prática um plano que seja ágil e eficaz para enfrentar eventos dessa magnitude e que, infelizmente, poderão se repetir.