Mais passado que futuro

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Depois de uma certa idade, o ser humano deveria ficar impedido de fazer projeções para o futuro. Mas, o que é exatamente “uma certa idade”? É quando a gente não passa nem por velho nem por novo. Ou, em outras palavras, é quando tentar adivinhar a idade de alguém se torna um risco embaraçoso. Quando uma criança tem sete anos, ela anseia por chegar logo aos dez a fim de obter mais liberdades para brincar. Quando se tem dez anos, queremos logo ter doze. Quem tem doze quer ter quinze e, estes, por motivos óbvios querem logo chegar aos dezoito. Daí em diante, ansiamos pelo dia da formatura aos 25 e depois não nos importamos com a idade até os 40. Aí, chegou a hora de pisar no freio do tempo.

Porém, ainda aos 40 anos, podemos fazer planos pessoais e profissionais seguros para os próximos vinte ou trinta anos, podemos ainda acreditar que, num futuro não muito distante, ainda veremos o governo retornar os nossos impostos em obras, as estradas fiquem perfeitas, a violência diminua. Podemos, por exemplo, sonhar que as rodovias brasileiras sejam um tapete como as ‘rutas’ uruguaias. Boa parte da população brasileira com essa idade não conhece um asfalto perfeito, a não ser que já tenha dirigido pelo país vizinho.

Na nossa região, as RST 287 e 453 e a Tabaí-Canoas são obras com mais de 40 anos de existência. Quando comparamos a população e a quantidade de veículos daquela época com a de hoje, ficamos estarrecidos. Apenas nos últimos dez anos, a frota veicular do Rio Grande do Sul cresceu catorze vezes mais que a população gaúcha. São quase 7 milhões de veículos para uma população de pouco mais de 11 milhões.

Ou seja: estamos hoje nos engarrafando basicamente na mesma malha rodoviária de 40 anos atrás. O que foi feito dos pesados impostos embutidos no preço dos carros que variam de 37 a 54 por cento sobre o seu preço final? Onde gastaram o IPVA renovado a cada ano como se comprássemos de novo o nosso próprio carro? Onde aplicaram os 44 por cento sobre o litro da gasolina? E os pedágios? E as multas?

Se você, meu leitor que já está numa “certa idade”, parar para pensar, verá que nas últimas quatro décadas só transitou por duas novas obras rodoviárias importantes: a duplicação da Tabaí-Canoas que, a rigor, é um projeto econômico cheio de falhas técnicas e insegurança, e a Rodovia do Parque, que nos permite chegar a Porto Alegre sem o engarrafamento de Canoas e nos larga na tranqueira da Free-Way, outra obra com mais de 40 anos. De resto, você tem andado pelas mesmas estradas dos Opalas, Mavericks, Chevetes e Fuscas da década de 1970-80. Bons tempos em que os governos abriam novas rodovias em tempo recorde!

(Não custa lembrar que isso era no tempo dos governos militares em Brasília e dos governadores dos Estados nomeados pelos militares. Saudades da ditadura, eu? Não. Tenho saudades, sim, da ordem, da eficiência, do controle na aplicação dos recursos, das obras que começavam e terminavam. Tenho esperança de que a presença maciça de militares no atual governo possa, dentro da democracia, melhorar o Brasil. Isso, se os tramposos de sempre não atrapalharem demais.)

Mas, como eu dizia lá no começo, a gente, quando envelhece, deveria ir perdendo a capacidade de fazer cálculos para o futuro. Essas contas nos trazem a consciência da nossa finitude. Esperar mais sete anos para a duplicação de “trechos” da RST 287 entre Venâncio e Santa Cruz e achar que isso é uma grande coisa? Ora, tenha paciência! Quem é que aguenta?



Cassiane Rodrigues

Cassiane Rodrigues

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), atua com foco nas editorias de geral, conteúdos publicitários e cadernos especiais. Locutora da Rádio Terra FM, tem participação nos programas Terra Bom Dia, Folha 105 1° edição e Terra em Uma Hora.

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