Moradores que residem e possuem comércio em Vila Estância Nova estão revoltados com a maneira com que alguns brigadianos estão agindo na localidade. Um grupo deles entrou em contato com a Folha do Mate e denunciou o que consideram abordagens abusivas. “Eles chegam agredindo, colocando a arma na cabeça das pessoas e só então pedem a identificação. Nos tratam como se nós fôssemos os marginais”, resumem.
Satisfeitos com o trabalho que é desenvolvido pela Brigada Militar, os denunciantes deixam claro que se referem a um pequeno grupo de brigadianos. Entre as situações citadas, mencionam a ocorrida no mês de fevereiro, dentro de um restaurante e pousada que funcionava na localidade.Segundo descreveram, passava das 19h30min de um dia da semana quando os brigadianos chegaram. Três clientes estavam sentados na frente do estabelecimento, onde também se encontrava um funcionário. Na cozinha estava um dos proprietários do restaurante e pousada.
Conforme os denunciantes, dois brigadianos fizeram a volta para entrar pelos fundos do prédio. A porta estava fechada e um deles apontou uma arma para o proprietário e mandou ele erguer os braços e abrir a porta. Ato contínuo, o outro brigadiano derrubou a porta e ambos entraram. “Falei que ele era o dono, mas mandaram eu calar a boca e sair, pois se não sobraria para mim”, descreveu o funcionário. Só depois das ameaças é que o comerciante foi orientado a se identificar. Por causa deste modo de agir, garante o proprietário, o local está fechado desde o dia do fato.
Outra situação narrada foi de uma abordagem feita em uma estrada que liga a RSC-287 à localidades vizinhas a Estância Nova. Os denunciantes citaram que um rapaz que circulava com sua moto parou em uma abordagem e foi agredido a tapas e socos e só então lhe pediram a documentação pessoal e do veículo. “Se tivesse fugido, até compreendo que a reação dos brigadianos seria outra, mas ele parou e mesmo assim foi agredido”, citou um dos moradores.Os denunciantes também citaram que é comum os presos saírem das dependências da Colônia Penal Agrícola de Venâncio Aires (Cpava) e irem comprar bebidas alcoólicas e outras mercadorias nos arredores. “Mas não temos como saber se eles são do presídio ou são clientes que estão passando pelo local. Isso não é culpa nossa. Quem tem que impedir que eles saiam não somos nós”, desabafam.
Os moradores observaram que os apenados que compram, pagam e rapidamente retornam à casa penal não representam perigo. “Agora se nos negarmos a vender, eles vêm e levam do mesmo jeito. E se fecharem todos os estabelecimentos da Estância, eles vão buscar em outros lugares, como em Venâncio, pois dinheiro e veículos para isso eles têm”, garantem.
Inconformados, decidiram denunciar à Folha do Mate o que entendem ser um abuso de autoridade e um desrespeito com os moradores e clientes que passam pelos estabelecimentos comerciais da localidade. “Este grupo de PMs está abusando do poder que a farda lhe dá”, sintetizam.
Sobre a manutenção do semiaberto na Cpava, todos são unânimes em dizer que o sistema é ultrapassado e que a única solução é a construção de um presídio fechado. “Podem perguntar por aqui. Só uma minoria não quer o fechado, mas não se dão conta que o semiaberto é um caos.” A pedido dos denunciantes, seus nomes não serão revelados.
AVERIGUAR
Colocado a par das denúncias, o major Ailton Pereira Azevedo disse que vai averiguar a situação. Mencionou que com o fim da ‘Operação Golfinho’ o projeto Convivência em Harmonia – que no próximo dia 13 completa um ano de funcionamento na localidade – terá novo reforço e gostou de saber que as abordagens estão sendo feitas em Vila Estância Nova e arredores. “O que temos que verificar é se as denúncias procedem e avaliar como o trabalho está sendo feito”, explicou.
Azevedo, que segue respondendo pelo comando do 23º Batalhão de Polícia Militar, ressaltou o trabalho de aproximação com a comunidade. Sobre as denúncias de excesso, ressaltou que a arma é uma ferramenta de trabalho do policial. Ele evidenciou que há técnicas para cada tipo de abordagem e destacou que em primeiro lugar, o brigadiano prima pela sua vida e de quem está ao seu redor. “Quando ele não conhece ou não reconhece a pessoa abordada e principalmente se o trabalho for à noite, deve adotar todas as técnicas e agir com precaução e evitar ser surpreendido”, argumentou o oficial.
Segundo ele, o uso da arma é comum. “Nossa arma é uma ferramenta de trabalho. Ressalto sempre que as pessoas abordados não devem reagir. O que não pode acontecer é arbitrariedade ou abusos”, salientou. O major ressalta que os brigadianos devem agir com cautela, técnica e segurança e, se necessário, fazer uso da de força para controlar determinadas situações.