projeto muda arroio castelhano (3)
Profissionais da Unisc e da CTA com Elstor Uhlmann, proprietário da área onde está sendo realizada a obra de bioengenharia (Foto: Juliana Bencke/Folha do Mate)

Desenvolvido desde 2023, em Venâncio Aires, em parceria entre a CTA Continental e a Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), o projeto Muda tem como foco a recuperação das margens do arroio Castelhano. Nas últimas semanas, foram iniciadas as atividades da chamada fase 3, com a utilização de técnicas de bioengenharia, para estabilização do talude – área inclinada na margem do arroio – e recuperação da mata ciliar.

O trabalho ocorre em uma propriedade do bairro Santa Tecla e contempla um trecho de 120 metros do Castelhano. Ele foi um dos 33 pontos identificados no diagnóstico de toda a bacia hidrográfica do arroio que abastece Venâncio Aires – desde a nascente, em Linha Datas, até a foz, no rio Taquari. Segundo a coordenadora do projeto Muda, a professora da Unisc, Priscila Pacheco Mariano, a partir do estudo foi possível identificar os trechos onde são necessárias intervenções para conter a erosão e recuperar as margens.

No ponto do arroio no bairro Santa Tecla, uma ilha havia se formado, a partir de diversos pneus que haviam sido utilizados em uma barragem e foram carregados pela água, ao longo do tempo. “Com essa ilha, a água era represada e gerava uma erosão nas margens. Por isso, o trabalho iniciou com reestruturação do leito do arroio. A primeira ação foi a retirada desses sedimentos que formavam a ilha, para dar vasão à água, retomar o fluxo natural”, explica Priscila, que é doutora em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental.

Reestruturação do leito do arroio, com a retirada de uma ilha formada por sedimentos e pneus, foi o primeiro passo do trabalho

Na sequência, o foco foi tornar o talude menos íngreme, a fim de garantir a estabilidade – impedir que desbarranque. De acordo com Priscila, a inclinação era de cerca de 90°. “Para minimizar esta inclinação, foi utilizada a técnica de enrocamento, que é a utilização de rochas, em diferentes formatos e tamanhos. Pensando no histórico de inundações, ele foi projetado para que, caso ocorra uma cheia, possa amortizar o efeito”, comenta.

No próximo mês, na área do talude, serão plantadas mudas de sarandi – espécie nativa indicada para beira de rios e arroios, por conta da flexibilidade. Na área superior, uma biomanta de fibra de coco será utilizada para cobrir e proteger o solo. No local, serão inseridas outras mudas nativas, de porte maior, para recuperar a mata ciliar. A área será cercada para impedir que o gado chegue ao local. A projeção é que o trabalho seja concluído nos próximos meses, mas o monitoramento seguirá durante 4 anos. “A expectativa é de que, em 2 anos, a recuperação da margem esteja consolidada, mas o acompanhamento segue por 4 anos. Mudas que, por ventura, morrerem, vão ser substituídas”, informa a coordenadora.

Técnica de enrocamento (colocação de rochas) foi utilizada para estabilizar o talude (Foto: Juliana Bencke/Folha do Mate)

Para o proprietário da área onde está sendo realizado o trabalho, Elstor Uhlmann, 64 anos, a forma como a obra tem sido feita é garantia de sucesso. “Só de olhar já dá para ver que é algo bem feito. Diferente de quando só foram plantadas árvores na beira do Castelhano, anos atrás”, observa. Para ele, que mora no local desde a infância e acompanhou muitas transformações em torno do arroio ao longo dos anos – inclusive a mudança do leito -, a recuperação da margem é motivo de felicidade. “Sempre tive esse sonho de recuperar. É algo para deixar para os filhos e netos.”

Soma de esforços pela preservação e qualidade da água

Uma das maiores empresas de Venâncio Aires, a CTA Continental é pioneira na parceria com a Unisc no projeto Muda em Venâncio Aires. De acordo com o gerente de Sustentabilidade Agrícola da CTA, Edson Menezes, a empresa tem buscado desenvolver e apoiar projetos consistentes na área ambiental, com efeito significativo na vida da população. “Essa ação estratégica de sustentabilidade está dentro do nosso programa AgroTop que prevê ações nos pilares social, ambiental e agronômico”, enfatiza.

Para Menezes, o trabalho do projeto Muda é estratégico no contexto técnico, social e ambiental, pela proximidade do ponto de captação de água. “O que está sendo feito no local vai refletir para todas as pessoas, à medida que a água captada terá menos sedimentos e, consequentemente, menos necessidade de tratamento”, observa, ao lembrar que 95% da população de Venâncio Aires é abastecida pelo Castelhano.

Outro aspecto destacado por ele é a intenção de sensibilizar outras empresas a se somarem ao projeto. “Com o diagnóstico já realizado, há o conhecimento técnico e a expertise da Unisc. Agora é dar sequência. Outras empresas podem adotar um dos 33 trechos para que seja recuperado”, salienta.

Juliana Bencke

Editora de Cadernos