Carine Wendland é natural de Vera Cruz e doutoranda em Educação pela Unisc (Foto: Arquivo pessoal)
Carine Wendland é natural de Vera Cruz e doutoranda em Educação pela Unisc (Foto: Arquivo pessoal)

Rio Grande do Sul - A 30ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudanças Climáticas, a COP30, realizada em Belém, no Pará, contou com a participação de uma representante do Vale do Rio Pardo. Natural de Vera Cruz, a doutoranda em Educação pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Carine Josiéle Wendland, 28 anos, participou do evento como delegada da Federação Luterana Mundial (FLM), pela Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) e pelo Município de Vera Cruz.

Esta foi a terceira vez que a jovem integrou uma Conferência das Partes. Segundo Carine, a Federação Luterana atua diretamente na pauta da justiça climática, especialmente junto a populações vulneráveis. A entidade mantém o mecanismo permanente de defesa do clima denominado Ação pela Justiça, que articula igrejas, organizações religiosas, sociedade civil e comunidades afetadas pelos impactos das mudanças climáticas.

No Município de Vera Cruz, Carine também atua como presidente do Conselho Municipal de Cultura e representante no Conselho Municipal de Desenvolvimento e destaca ser importante levar as iniciativas locais e regionais de enfrentamento à emergência climática para o cenário internacional.

AVALIAÇÃO DA COP

Carine avalia que a COP30 foi encerrada com a aprovação de 29 decisões, que representam avanços importantes na agenda climática global, mas também evidenciam impasses. Entre os principais resultados estão o reforço à chamada “transição justa”, o comprometimento de triplicar os recursos destinados à adaptação às mudanças climáticas até 2035, a adoção de 59 indicadores voluntários para monitorar a meta global de adaptação e o lançamento do Fundo Florestas Tropicais para Sempre, voltado à remuneração de países que preservam florestas tropicais.

Também foram introduzidos mecanismos relacionados a financiamento, tecnologia e igualdade de gênero, com a aprovação de um Plano de Ação de Gênero, além da apresentação, por 122 países, de novas contribuições nacionais voluntárias para a redução de emissões. Por outro lado, apesar dos avanços e da aprovação de textos relevantes, permaneceram sem solução temas centrais, como a queima de combustíveis fósseis e o desmatamento.

“Em análise com delegados e delegadas da Federação, o resultado da COP, em poucas palavras, ainda é decepcionante e um reflexo da crise em que nos encontramos. Outra vez, numa COP, o consenso mínimo foi alcançado. A confiança no multilateralismo climático não pôde ser significativamente estabilizada”, avalia.


“Vimos nosso país queimar e submergir em pouco tempo”

Carine Wendland carrega a pauta da justiça climática como algo que antecede a universidade e os espaços internacionais. A motivação, segundo ela, nasceu do território e da vivência no interior. Vinda da agricultura familiar e de uma agroindústria de rapadura, recorda o contraste entre o esforço da família em plantar árvores e a presença de uma mineradora de pedras ao lado de casa, símbolo de um “desenvolvimento” dissociado do cuidado com a terra. “Busquei seguir sempre fazendo alguma diferença.”

Essa trajetória ajuda a explicar a presença de Carine na COP30 como delegada da Federação Luterana Mundial. Para ela, os debates globais dialogam diretamente com o que já é visível no cotidiano. “Antártica verde, deserto inundado, Amazônia em chamas, Sul imerso em água”, enumera, ao lembrar que 2024 foi o primeiro ano a ultrapassar o limite considerado seguro de 1,5°C de aquecimento global. Dados do IPCC e da Organização Meteorológica Mundial reforçam, segundo ela, que não se trata mais de projeção, mas de realidade concreta, marcada por eventos extremos cada vez mais frequentes.

No Brasil, lembra Carine, os impactos recentes tornaram essa percepção ainda mais urgente. Ela cita episódios como as enchentes no Rio Grande do Sul, com centenas de mortos e feridos, milhares de desabrigados e territórios indígenas atingidos, e a seca histórica que levou o país a registrar milhões de hectares queimados, que escancaram perdas que vão além da economia.

Ela considera que, para a juventude, esse sentimento é ainda mais imediato. “Nós, jovens, sentimos isso de perto, vimos nosso país queimar e submergir em pouco tempo”, cita.

Alan Faleiro

Com foco na produção de notícias sobre negócios, contribui para divulgar o que é relevante no mundo corporativo e tudo o que mais impacta a comunidade local.

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