Amor de irmão

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Ele está sempre implicando contigo e pronto para te entregar para os pais. Mas, quando alguém mexe contigo na escola ou brinca com teus sentimentos, é o primeiro a te defender. Se tu tens um irmão, sabes do que estamos falando. E esta edição é pra ti.

Nos últimos meses, a suspensão das aulas e de tantas outras atividades, por conta da pandemia do coronavírus, fez com que a convivência entre irmãos ficasse ainda mais frequente. Estar em casa 24 horas por dia, sete dias por semana, é um desafio – e é normal que surjam atritos, briguinhas e discussões.

Mas, ao mesmo tempo, esse é um período e tanto para você aproveitar com seus manos e fazer coisas legais. É por isso que aproveitamos essa edição para contar histórias de irmãos, explicar questões da convivência e dar dicas de como curtir com seus manos. Boa leitura!

Um sonho de irmão

Ter um irmão é a realização de um sonho para Lívia Cristina Graff Laner, 15 anos. A vontade era tanta que, quando tinha 9 anos, fez um pedido – durante a passagem da Cruz Peregrina por Venâncio – para que fosse presenteada com um mano ou mana.

A confirmação de que o pedido tinha virado realidade veio no dia 2 de julho de 2013, uma data que ficará para sempre na memória da guria. “Nossa, eu fiquei muito feliz quando fiquei sabendo. Era tudo o que eu queria”, conta.

Em março de 2014, nasceu Nícolas Renato Graff Laner, hoje com 6 anos. Desde os primeiros dias, Lívia ajudou a cuidar do pequeno e conta que tinha ciúmes quando outras pessoas o pegavam no colo. Hoje, o sonho foi transformado numa sintonia incrível entre os dois, que dividem o quarto, as tarefas e as descobertas – cada um em uma fase da vida.

Lívia e Nícolas (Foto: Cassiane Rodrigues/Folha do Mate)
Lívia e Nícolas (Foto: Cassiane Rodrigues/Folha do Mate)

Os irmãos estudam na Escola Estadual de Ensino Médio Monte das Tabocas. Nícolas, no 1º ano do Ensino Fundamental, e Lívia, no 1º ano do Ensino Médio. No início do ano letivo, quando começaram as aulas presenciais, o pequeno não queria ficar longe da irmã e fugia para a sala dela. “Quando menos esperava, entrava o Nícolas na minha sala. Todos meus amigos já conhecem ele”, recorda Lívia. Já o mano, diz que precisava matar um pouco da saudade. “Eu só queria dar um abraço”, conta o gurizinho, que não esconde o carinho e admiração pela mana.

Sem aulas presenciais, os dois estudam juntos em casa. Curioso, característica comum das crianças dessa fase, Nícolas está sempre perto querendo participar do que Lívia faz. “Quando minhas amigas estão aqui ele está sempre junto, tem ciúmes”.

A menina afirma que faz o papel de irmã mais velha na hora de dar uma bronca, mas também na hora de ocultar aquela sapequice da mãe. Ela também ajuda nas tarefas da escola e o pequeno já mostra facilidade com Matemática, matéria que a irmã também domina.

Os pais, Renato Laner, 38 anos, e Cristina Graff, 35, notam uma diferença grande no dia a dia dos filhos se compararem os dois na mesma fase. “Muitas coisas que vivencio com o Nícolas nem existiam na época da Lívia”, diz o pai. Ele destaca a facilidade do mais novo para utilizar a tecnologia e fazer várias atividades ao mesmo tempo. “Ainda mais nessa época mais em casa, estamos sempre procurando alguma coisa para ele gastar energia”.

Perfil no Instagram

Nícolas é muito ativo e surpreende a família com seus comentários e sapequices. Para compartilhar um pouco do dia a dia dos manos, eles criaram um perfil no Instagram. No @pv_graffzinhos, Lívia posta as aventuras dos dois. Além das brincadeiras, atividades escolares e jogos, os manos gostam de testar os dotes culinários. Bolo é o prato normalmente escolhido para preparar, mas, independentemente da comida, o ingrediente principal é a diversão.

Entre ‘tapas e beijos’

Marcelo Vinícius de Oliveira, 17 anos, não recorda da sua primeira lembrança com o irmão, Lucas André Wilgelmann, 14 anos, porque ele tinha 2 anos e meio quando o caçula nasceu. No entanto, Marcelo sempre dividiu as coisas com o mano, o ensinou a jogar futebol, brincar de carrinho, levava para a escola e, também, por muito tempo, eles dormiram no mesmo quarto. “Quando eu comecei a crescer, ficou chato, porque queria privacidade e ele não me deixava sozinho, agora temos cada um o seu quarto e é bem melhor”, conta Marcelo.

Marcelo e Lucas (Foto: Eduarda Wenzel/Folha do Mate)
Marcelo e Lucas (Foto: Eduarda Wenzel/Folha do Mate)

Lucas sempre teve o irmão como referência e lembra que o relacionamento deles é ‘entre tapas e beijos’ desde a infância. “Já brigamos e falamos que nunca mais iriamos conversar, mas nunca dura muitas horas”, afirma o mais velho. O caçula lembra que isso é normal, principalmente, na adolescência. “Na hora da raiva falamos isso, depois quando precisamos um do outro vemos a importância que temos”, acrescenta Lucas.

Mesmo com as briguinhas de adolescentes, ambos reconhecem que esse sentimento é único e que serão sempre amigos verdadeiros. “Eu posso brigar e zoar meu irmão, mas se outra pessoa faz isso eu já corro para defender ele”, diz Marcelo. Lucas admite que a vida tem mais graça tendo um mano para dividir os momentos. “Eu sei que sempre poderemos contar um com outro, é um laço forte para toda vida, porque é ele quem está comigo nos piores e melhores momentos”, finaliza o caçula.

Irmão: parceria para toda a vida

Natália Möhler de Araujo, psicóloga (Foto: Arquivo Pessoal)
Natália Möhler de Araujo, psicóloga (Foto: Arquivo Pessoal)

Ter um irmão por perto para compartilhar experiências, contar segredos e pedir um apoio quando precisa é sempre muito especial. De acordo com a psicóloga Natália Möhler de Araujo, a relação com os irmãos ajuda na formação pessoal. Afinal, no dia a dia com eles, elaboramos angústias e desenvolvemos a criatividade, principalmente por conta da disputa da atenção do pai e da mãe, durante a infância. Além disso, o convívio com os irmãos facilita as relações futuras com amigos e parceiros na vida adulta.

A presença de um irmão é fundamental em todas as fases da vida. Segundo a psicóloga, o irmão mais velho, por exemplo, pode ser uma referência para o caçula. Além disso, ter um irmão representa um suporte para manter o equilíbrio familiar, principalmente, nos momentos mais difíceis. “O irmão pode trazer conforto e segurança para vencer os problemas, como a separação dos pais, doença repentina na família, morte e demais situações de crise”, comenta.

Mas é claro que nem tudo são flores. Em meio à convivência, é comum que surjam algumas ‘briguinhas’ de vez em quando. A psicóloga explica que este comportamento é normal e que, geralmente, os desentendimentos duram pouco.

Natália esclarece, inclusive, que essas briguinhas são saudáveis e importantes, pois ensinam a lidar com os sentimentos de perdas e ganhos, apontam limitações e modos de tentar superá-las e ensinam a dividir e compartilhar.

“As ‘brigas’ ocorrem principalmente com a finalidade de conquistar e preservar um espaço dentro do meio familiar e, geralmente, têm um caráter mais lúdico do que agressivo, por isso, são passageiras.”

Natália Möhler de Araujo- Psicóloga

Ideias para se divertir com os irmãos

  • Olhar fotos antigas de quando vocês eram crianças
  • Maratonar séries
  • Buscar jogos antigos para jogar
  • Inventar novas receitas
  • Ouvir músicas que vocês gostavam na infância e dançar

Relato pilhado

Por Duda

Às vezes, quando o irmão incomoda muito a gente pensa ‘como eu queria estar sozinho’, mas só quem já foi filho único sabe o quanto é ruim não ter irmão. Durante toda minha infância, eu pedi para ganhar esse presente, mas só quando tinha 19 anos isso se concretizou. Para ser mais exata, em uma sexta-feira, no dia 23 de junho de 2017, nasceu a Aurora. É uma grande diferença de idade, por isso, muitas vezes, acham que ela é minha filha e, eu acredito que o sentimento seja tão forte quanto.

Duda com a mana Aurora (Foto: Arquivo Pessoal)
Duda com a mana Aurora (Foto: Arquivo Pessoal)

Eu ajudo a cuidar dela desde o primeiro dia, a dar banho, almoço, arrumar, brincar e fazer dormir – que é a parte mais difícil. Agora, em época de quarentena, sou ‘irmã-babá’ por meio turno, então, as brigas acabam acontecendo, mesmo com a diferença de idade. Me pego fazendo birra igual a ela e, às vezes, até falo como “não vou mais ser tua amiga” e “ela é minha mãe, não tua”, mas são momentos bons iguais.

Hoje, fico imaginando como era um tédio a casa sem uma criança e como vivi tanto tempo da minha vida sem minha mana. Tudo isso porque é maravilhoso ouvir “minha maninha linda” ou “eu quero minha mana.” Acredito que seja assim para irmãos de idade parecidas também, porque os irmãos são aqueles amigos que, independentemente da diferença de idade ou de pensamentos, serão sempre um porto seguro.

    

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