Chorão não foi o único

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O Na Pilha! de hoje (12.03.13) aborda o fato que gerou tristeza a muitos dos amantes do rock brasileiro. Para auxiliar os leitores a compreender o ocorrido, nossa equipe contou com o apoio do psiquiatra, Alex Terra, o qual fez um apanhado sobre a vida do artista. “No dia 06 de março de 2013, tivemos mais um exemplo de como as drogas cobram o seu preço, mais cedo ou mais tarde, com a morte do vocalista de banda Charlie Brown Júnior, Alexandre Magno Abraão, o Chorão”, afirma. Segundo o profissional, ele engrossa uma ampla lista de pessoas famosas que morreram por overdose ou por complicações decorrentes da dependência química.

Assim como Chorão, outros artistas tiveram um destino indesejado por causa das drogas nos últimos tempos. Dentre estes, Terra cita Whitney Houston, Amy Winehouse, Michel Jackson e Cássia Eller. “Porém, se formos um pouco mais para trás e incluirmos não apenas a morte por overdose, mas também outros prejuízos que as drogas tenham causado, então a lista fica bem maior. Entre eles, temos alguns personagens nacionais de peso, como Cazuza e Elis Regina, e internacionais, como Kurt Cobain, Marylin Monroe, Elvis Presley, Janis Joplin, Jim Morrison…”.

Terra explica que as maiores suspeitas em relação à morte de Chorão estão sob o uso de cocaína, misturada com bebidas alcoólicas e medicações. Pelo que se sabe, ele já era usuário antigo de cocaína e, nos últimos quatro anos, voltou a fazer uso novamente, com intensificação no último ano e meio.

“O cantor e compositor vinha passando por uma fase emocionalmente difícil, com uma uma separação conjugal, de um casamento de 15 anos. Segundo a ex-mulher, havia sido uma última tentativa dela de fazê-lo parar, como uma espécie de coação para que ele se visse obrigado a se tratar”, diz o profissional. Terra aponta que a história de vida do protagonista foi bastante difícil, principalmente na infância, passando por uma série de privações, tais como a separação dos pais aos 11 anos, derrame cerebral da mãe aos 14 anos e o fracasso escolar.

O psiquiatra pondera que, como todo artista bem sucedido, Chorão vinha cumprindo uma extensa agenda de apresentações e quando olhar para a sua produção artística passada, é possível ficar impressionado. Além disso, Terra aponta que o artista era uma pessoa muito talentosa e, certamente, muito sobrecarregada com os compromissos que o sucesso traz consigo.

“Temos aí um panorama geral e que nos possibilita vislumbrar como uma dependência química pode trazer desfechos trágicos como este que assistimos recentemente. Chorão era um indivíduo com uma infância de privações, com uma dificuldade de controle das suas respostas emocionais, sobrecarregado com as suas atividades profissionais, fazendo uso de drogas regularmente, em processo de separação conjugal e muito deprimido. Aí estão todos os ingredientes que operaram em conjunto para esse desfecho trágico”, complementa.

Terra aponta que, muitas vezes, a cocaína aparece como a droga de escolha por indivíduos extremamente sobrecarregados, pois ela tem como característica principal a de ser um estimulante do Sistema Nervoso Central. Ela induz, de forma artificial e muito intensa, o aumento do estado de vigília, a sensação de bem estar, euforia, elevação da autoconfiança e aceleração do pensamento. São sensações que, superficialmente, se enquadram com a necessidade de uma vida de muita atividade.

O grande problema é que o nosso cérebro se adapta a esses efeitos, em um fenômeno que se chama de ‘tolerância’. Isso significa que, ao fazer uso da cocaína de forma habitual e repetida, o indivíduo passa a não sentir mais as sensações desejadas com a mesma intensidade, obrigando-se a aumentar a dose para sentir a mesma estimulação. Esse é um aspecto central na dependência química, a necessidade de aumento de doses para sentir o mesmo ‘barato’ de antes”, explica.

Como vemos, não foi apenas um fator que desencadeou o trágico fim de Chorão. O contexto de vida e a não (ou má) administração de sentimentos o levou a esconder-se dos problemas ao invés de encará-los de frente. Isso não tira dele o mérito pelo artista que foi. Contudo, impossível negar que suas atitudes poderiam ser diferentes. Todos os dias, a vida nos apresenta diversos caminhos, cabe a nós sermos fortes para fazermos as melhores escolhas, independente de tudo que nos cerca.

Dizem que o inteligente aprende com seus próprios erros, mas o sábio aprende com os erros dos outros… Sejamos sábios.

    

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