No início da alfabetização trocar letras em uma palavra é comum. No entanto, quando isso se torna frequente é preciso ter atenção, pois pode se tratar de um distúrbio de aprendizagem conhecido como dislexia. Dividido em três graus, o transtorno é percebido principalmente durante a alfabetização. Cabe aos educadores e pais ficarem atentos a essa troca de letras, dificuldade de leitura e decodificação das palavras. Além de alguns casos precisarem de acompanhamento até a vida adulta, o disléxico tem uma legislação que ampara, fato que garante atendimento diferenciado dentro da sala de aula. Bem como, a provas com mais tempo e avaliação oral. Nesta edição do Na Pilha! será possível entender mais sobre o assunto e conhecer a história de Nathan, diagnosticado com dislexia no início da alfabetização.
+ números – letras
Os livros sobre a mesa mostram o gosto de Nathan Augusto Teixeira, 13 anos, pela matemática. Aluno desde os anos inicias da escola Benno Breunig, ele mora próximo a escola e garante que além da matemática, gosta muito dos oito cavalos, da bicicleta e da moto de trilha. Conforme a mãe, Cristiane Buzata, 35 anos, desde muito cedo o filho criou o gosto pelas motos de trilha. No entanto, é ao lado dela que supera as dificuldades do transtorno de dislexia. Diagnosticado ainda nos primeiros anos de vida, Nathan é inteligente e não esconde que lidar com números é mais fácil do que com letras.
Conforme a psicopedagoga institucional e clínica, Maria Zulmira Portella de Moura, jovens disléxicos apresentam dificuldade, principalmente, com as palavras e decodificação. É por isso que quando uma prova é marcada na turma do 6º ano da Benno, a mãe Cristiane dedica-se para ler os materiais preparatórios em voz alta com o filho. “Tudo que é oral sempre é mais fácil para ele”, comenta. A maior dificuldade é na troca das letras, Cristiane conta que percebe entre ‘q’ e ‘g’, ‘s’ e ‘z’.
AvançoDesde que foi diagnosticado, muitos profissionais médicos acompanharam Nathan e, atualmente, precisa realizar visitas a neuropediatra apenas de três em três meses. Além disso, com a Ritalina L-A, especial para quem possui transtorno de dislexia, tudo ficou mais fácil. “Essa medicação é tomada somente uma vez ao dia nos dias que tem aula”, comenta Cristiane.
O que é dislexia?A dislexia é caracterizada pela dificuldade específica na fluência da leitura e escrita (dificuldade da tradução das letras em sons e dos sons em letras) ou seja uma dificuldade para manipular os sons. Segundo a coordenadora do Centro Integrado de Educação e Saúde (Cies), Viviane Oliveira, o transtorno é primordialmente hereditário pois surge de herança genética afetando famílias e suas gerações. “Causas ambientais também podem estar relacionadas, porém de maneira alguma acontece se não houver a predisposição genética”, afirma. As principais são prematuridade, baixo peso ao nascer, anóxia neonatal e processos epilépticos.
Segundo ela, não existem exames específicos para detectar a dislexia, mas assim que os sintomas surgirem é necessário fazer uma investigação multiprofissional. A psicopedagoga institucional e clínica, Maria Zulmira Portella de Moura, explica que o transtorno é percebido nos primeiros anos da alfabetização e, principalmente, em meninos. “É perceptível uma troca de letras, como entre o ‘s’ e ‘b’”, salienta. No entanto, existem níveis de dislexia e, conforme cada um, a situação pode ser mais agravada ou não.
O papel da escola na intervenção Para a coordenadora do Cies Viviane, a escola também possui um papel importante no processo de diagnóstico e intervenção, pois o professor tem as melhores informações sobre o desempenho escolar da criança. As características mais comuns que os alunos demonstram na escola podem ser a demora na aquisição da leitura e da escrita para ler, compreender, escrever, expressar-se, e a grafia incorreta, com trocas, omissões, junções e aglutinações de fonemas, são os primeiros indícios de que a criança pode apresentar o distúrbio”, afirma.A escola pode dar o suporte para que o aluno supere o problema em conjunto com outros profissionais que buscarão estratégias tanto no consultório quando em sala de aula para o melhor desenvolvimento do aluno.”É importante ressaltar que nem todas as crianças com dislexia tem as mesmas características e que deve ser elaborado um plano de desenvolvimento individual para cada aluno de acordo com as suas necessidades.”
Alguns sinais na pré-escolaDispersão;
Fraco desenvolvimento da atenção;
Atraso do desenvolvimento da fala e da linguagem Dificuldade de aprender rimas e canções;
Fraco desenvolvimento da coordenação motora;
Dificuldade com quebra-cabeças;
Falta de interesse por livros impressos.
Alguns sinais na idade EscolarDificuldade na aquisição e automação da leitura e da escrita;
Pobre conhecimento de rima (sons iguais no final das palavras) e aliteração (sons iguais no início das palavras);
Desatenção e dispersão;
Dificuldade em copiar de livros e da lousa;
Dificuldade na coordenação motora fina (letras, desenhos, pinturas etc.) e/ou grossa (ginástica, dança etc.);
Desorganização geral, constantes atrasos na entrega de trabalho escolares e perda de seus pertences;
Confusão para nomear entre esquerda e direita;
Dificuldade em manusear mapas, dicionários, listas telefônicas etc.;
Vocabulário pobre, com sentenças curtas e imaturas ou longas e vagas;
Filme sobre dislexia Lançado em 2007, a produção ‘Como Estrelas na Terra’ conta a história de uma criança que sofre com dislexia e não é compreendida pelos professores e pais. Ishaan Awasthi, 9 anos, já repetiu uma vez o terceiro período (no sistema educacional indiano) e corre novamente o risco de reprovar. As letras dançam em sua frente, como diz, e não consegue acompanhar as aulas nem focar sua atenção. A história é emocionante, além de ser uma forma para compreender ainda mais sobre o assunto.