Mente concentrada e dedos ágeis: uma combinação necessária para montar o cubo mágico. Os quadradinhos coloridos, que desafiam a mente e a agilidade, já conquistaram muita gente, ao longo das últimas décadas. Passam os anos, mas ele segue sendo um passatempo divertido e desafiador para muita gente.
É isso que mostramos na edição de hoje, a partir de exemplos de pessoas de diferentes idades que não podem ver um cubo mágico e já sentem aquela coceira na mão para montá-lo.
Se você não é lá um craque do cubo, como o William, o Augusto e o Tiago, não se preocupe. O próprio criador do quebra-cabeça em três dimensões, o húngaro Erno Rubik, levou um mês – sim, um mês! – para conseguir resolver o cubo pela primeira vez, quando ele foi inventado, em 1974. Aliás, antes de ser batizado de cubo mágico, ele era chamado ‘cubo Rubik’, em homenagem a seu criador.
O bacana de tudo isso é que, além de aprender matemática, é possível desenvolver o raciocínio lógico e treinar a paciência a partir do jogo, além de se divertir, é claro.
O gênio do cubo mágico
Entre os amigos, Augusto Kist de Almeida, 8 anos, já tem um apelido: o gênio do cubo mágico. Incentivado pelos pais, Fabiana e Antônio Augusto de Almeida, ele aprendeu as técnicas de montar cubos, aos 5 anos. “Não sei explicar como eu aprendi a fazer isso, eu sempre analisava como o pai fazia e copiava dele”, diz o estudante do 3º ano do Ensino Fundamental do Colégio Bom Jesus Nossa Senhora Aparecida.
Na coleção, o guri já conta com 20 cubos mágicos de diferentes formatos e tamanhos: triangulares, quadrados, pequenos e grandes. De todos eles, Augusto já sabe montar quatro. Geralmente, ele está mais envolvido com os jogos de computador, mas, quando lembra dos cubos, se arrisca a montar um modelo diferente. “Gosto mais de brincar nos fins de semana. O modelo de cubo mágico básico eu consigo montar em dois minutos”, afirma.
A facilidade de aprendizado, enquanto observa a agilidade e as dicas do pai, faz ele ser desafiado com frequência pelos colegas. “Dá este para o Augusto, para ver se ele sabe, já que ele é o gênio dos cubos”, são alguns dos comentários que ele ouve, frequentemente.
Uma forma de acalmar a mente
Para William Matheus Vogt, 11 anos, brincar com o cubo é uma forma de terapia, que pratica desde os 6 anos. Ele conheceu o brinquedo pela internet e sentiu curiosidade em tentar. “Tenho quatro cubos mágicos, um está desmontado, mas os outros ainda uso, pois eles podem mudar a técnica de montar de um para o outro, mesmo sendo do mesmo formato.”
William lembra que, na primeira vez que conseguiu montar todo o cubo, demorou cerca de uma hora. “É técnica, depois que pega o jeito, é bem mais fácil”, explica e diz que, quanto mais praticar, mais rápido se pega a ‘manha’ do cubo. “Escolho a primeira cor que vou montar, depois faço uma cruz nessa cor e vou girando e cuidando todos os lados para não desmontar o que já tem”, explica sobre sua forma de montar.
Para o garoto, que mora em Linha Antão, o cubo ajuda a raciocinar e a ter paciência. “Antes de ter provas ou quando estou um pouco irritado, eu pego o cubo e tento montar, porque minha mente fica voltada somente para isso e mostra que consigo resolver um problema. No início, está tudo misturado e, com tempo, analisando tudo, consigo montar”, comenta o estudante da Escola Estadual de Ensino Fundamental Cristiano Bencke.
“Todos deveriam praticar, pois ajuda a ter mais paciência e a pensar mais em como resolver um problema.”
William Matheus Vogt – Estudante
Primeiro lugar na categoria 7x7x7
O cubo mágico também desperta a curiosidade dos adultos. O advogado Tiago Wachholz, 30 anos, começou a montar cubo mágico por lazer e, depois que desenvolveu habilidade no passatempo, buscou conhecer mais sobre este universo. “Conheci o Fórum Brasileiro de Cubo Mágico e descobri que havia competições esportivas desta modalidade pelo mundo. Em 2013, fiz alguns contatos e formamos um grupo pelo Facebook para debater sobre o assunto”, conta.
No mesmo ano, ele participou da primeira competição de cubo mágico no estado, que contemplava várias categorias (3x3x3, 5x5x5 e 7x7x7). Ao todo, Tiago já soma cinco campeonatos: em Novo Hamburgo (2013), Porto Alegre (2014 e 2015), o Campeonato Mundial de Cubo Mágico, em São Paulo (2015), e em Gravataí (2016).
No evento de 2014, ele conquistou o terceiro lugar na categoria 7x7x7, e no último que participou, em Gravataí, garantiu o ouro na categoria 7x7x7 ao montar um cubo mágico em 5 minutos, 54 segundos e 91 centésimos. Além disso, obteve terceiro lugar na categoria 5x5x5. “Nas competições que participei não tive custos com nada, sempre fiquei em casas de amigos. Geralmente, o prêmio entregue aos vencedores não era de muito valor”, compartilha.
Atualmente, ele não participa mais de competições, mas, todos os dias, monta o cubo mágico para aliviar o estresse. “Montar cubos virou algo automático, agora eu pratico por lazer. Além disso, a atividade também trabalha com o foco e o raciocínio”, observa.
Ele explica que a prática para competição é bem diferente. “Para os campeonatos, é preciso mirar em um objetivo para solucionar o problema no menor tempo possível. A gente aprende técnicas novas e segue todo um sistema para montar o objeto. A modalidade para competição também exige memória muscular”, acrescenta.
“Tenho saudade de participar dos campeonatos. Mas a pandemia, os compromissos da vida adulta e os custos com deslocamento são alguns dos fatores que me impedem de voltar.”
Tiago Wachholz – Advogado
Jogos e aprendizagem
No Instituto Federal Sul-rio-grandense (IFSul) Venâncio Aires, passatempos como o cubo mágico são trabalhados como conteúdo de jogos e estruturas lógicas – um módulo na iniciação acadêmica dos cursos. “Temos os jogos propriamente ditos, explorando múltiplas habilidades e temos a gamificação, uma ferramenta pedagógica que explora design e a mecânica de jogos em algumas disciplinas”, explica o diretor do campus, Cristian Oliveira da Conceição.
De acordo com o professor, os jogos podem ser uma excelente ferramenta pedagógica e cultural se bem utilizadas, pois desafiam, provocam e despertam a curiosidade, além de divertir as pessoas. Assim, a utilização deles pode ajudar no entendimento de conteúdos.
“No momento que conseguimos construir e alinhar, independentemente do tipo de jogo, ao conteúdo da escola, é possível conseguir romper os preconceitos dos estudantes com o conteúdo, engajar e focar os alunos. Dependendo do tipo jogo, é possível desenvolver habilidades importantes para a vida”, destaca o diretor, ao lembrar que, assim, o educador e o aluno também interagem melhor.
HABILIDADES LÓGICAS
Cristian explica que o cubo mágico trabalha, no minímo, com três habilidades lógicas: geometria espacial, análise combinatória e probabilidade. “Porém, para desenvolver o raciocínio lógico, deve-se praticar, e certamente se houver uma orientação teórica para auxiliar na prática, esse processo pode ser potencializado”, salienta.
Sobre a facilidade de algumas pessoas em montar o cubo, ele acredita que isso ocorre porque existem diversos tipos de inteligência (corporal-cinestésica, musical, naturalística, espacial, lógico-matemática, entre outras), que podem ter uma pequena base genética, mas que são muito mais determinadas e podem ser desenvolvidas pelas experiências de cada pessoa.
“Acho que algumas pessoas podem ter, naturalmente, essa habilidade mais desenvolvida e, por ter mais facilidade nessa área, tendem a buscar mais desafios relacionados e desenvolvem ainda mais a habilidade. Em contrapartida, quem tem dificuldade tende a se afastar dessas atividades e, consequentemente, não pratica e desenvolve seus potenciais”, analisa.