Em época de isolamento social, sem aulas presenciais e sem autorização para curtir um rolê com a galera, a rotina em casa virou de ponta-cabeça? A noite virou sinônimo de ‘encontrar’ a galera nas redes sociais ou nos jogos on-line e dormir com a luz do dia virou normalidade pra você também?
Para muita gente, a impossibilidade de ir para a escola ajudou para a ‘troca’ do dia pela noite. Por mais que a situação atual permita essa liberdade de escolher os horários para dormir, estudar, jogar ou assistir àquele filme, estudos clínicos apontam que o organismo precisa de uma regularidade. Abre os olhos, boceja um pouquinho e confere essa edição especial para os sonolentos e os corujas de plantão. Boa leitura!
Rotina é fundamental
Por mais que os jovens se sintam confortáveis dormindo poucas horas ou trocando o dia pela noite, estudos clínicos apontam que a qualidade do sono é essencial para o bem-estar das pessoas. A médica pediatra Fernanda Sousa de Almeida explica que as horas de sono ideais de um adolescente são as mesmas de um adulto: ou seja, oito horas por dia. “Recém-nascidos dormem de 16 a 18 horas por dia e conforme a criança vai crescendo o tempo vai diminuindo”, diz.
A profissional ressalta que o maior problema é que os adolescentes, muitas vezes, não têm rotina de dormir cedo e o que tem acontecido, principalmente agora, durante o período de quarentena, é trocarem o dia pela noite. “É uma questão de criar a rotina, é aconselhado que os adolescentes tenham um limite para ir dormir”, sugere.
Fernanda ressalta que o sono durante a noite é essencial, pois o hormônio do crescimento age no sono noturno. Além disso, dormir mal interfere diretamente no aprendizado, na concentração e deixa as pessoas mais irritadas. “Por uma questão hormonal, os adolescentes já sentem mais sono e, se não dormem bem à noite, naturalmente não rendem da mesma forma durante o dia”, observa.
Sobre relatos de insônia, a pediatra diz que isso é reflexo da ansiedade do momento em que se vive. “É uma situação que ninguém estava preparado para viver e os adolescentes ficam mais preocupados, ansiosos por gostar de conviver com outras pessoas, sair de casa e não poder”, completa.
SE LIGA
A pediatra Fernanda Sousa de Almeida afirma que o ambiente do sono deve ser escuro e calmo. Sem televisão ligada, aparelhos eletrônicos e fones de ouvido, pois são coisas estimulantes que não deixam relaxar.
Uma maneira de se concentrar melhor
Dormir de manhã e ficar acordada durante a madrugada tem sido a rotina da estudante de Enfermagem da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Deise Micaela dos Santos, 21 anos. Para ela, a noite é uma maneira de produzir mais.
Antes da pandemia, a jovem costumava acordar em torno de 9h, almoçar, ir para a faculdade, voltar para casa de noite e dormir pelas 2h. “Sempre dormi tarde, porque gosto de estudar depois que meus pais dormem. É quando me concentro melhor.”
Agora, período em que as aulas são on-line, a guria que trabalha com assessoria de trabalhos acadêmicos, costuma acordar perto do meio-dia, estudar e ajudar nos afazeres da casa à tarde. Depois disso, se dedica às atividades acadêmicas até por volta das 7h, quando deita para dormir. “Tem vezes que eu viro o dia e nem durmo, mas isso já me deixa muito cansada.”
Mesmo que essa rotina seja mais produtiva para ela, Deise admite que fica mais cansada ao longo do dia. “Sinto dor nos olhos e de cabeça com mais frequência, mas, ainda acho a madrugada o melhor período para estudar”, afirma. Além disso, nos fins de semana, usa a madrugada para assistir a filmes e séries.
Para ajudar a ficar acordada durante a tarde e noite, o café está sempre quentinho na xícara. “Faço uns dois bules de café por dia, tomo sem açúcar e me ajuda a ficar acordada e me focar melhor nos trabalhos de aula e serviço, porque são conteúdos que preciso estar atenta.”
“Eu sempre me concentrei melhor estudando de madrugada, mas por conta da rotina de ir para a faculdade era mais difícil. Agora, com aulas on-line, consigo fazer essa troca de dormir de manhã e ficar acordada na madrugada.”
Deise Micaela dos SantosEstudante
Dormir de dia me deixa mais cansado
O estudante de Engenharia Civil Douglas William Bohnen, 22 anos, prefere manter o equilíbrio do sono durante a noite. Ele tenta manter, mesmo no fim de semana, a rotina de dormir pelas 23h30min ou, no máximo, meia-noite. “Mesmo estando afastado do serviço durante a pandemia, eu tento acordar sempre pelas 8h para fazer minhas tarefas e estudar.”
Para ele, manter a rotina é uma maneira de garantir a saúde e de não sofrer mudanças no horário biológico. “Tento não dormir demais para não me desacostumar com a rotina. Assim, quando tiver que voltar a ela, não será um transição muito brusca”, comenta. Para isso, ele tenta não ficar sem afazeres. “Busco manter um controle e não ficar entediado para não dormir durante o dia. Todas as noites, me preparo para assistir às aulas e depois dormir.”
Bohnen explica que, quando dorme sete horas por noite, como é acostumado, se sente mais disposto ao longo do dia. “Se acontece de dormir mais, como nos domingos, eu acordo indisposto, até mal-humorado e fico o resto do dia assim”, comenta.
ADOLESCÊNCIA
Foi no período da adolescência que o jovem aprendeu a regular as horas de sono, porque ficava acordado até tarde e dormia mais pela manhã. “Saí do Ensino Médio e estava desempregado. Então ficava no computador jogando até de madrugada e acordava muito tarde. Quando precisei arrumar essa rotina, foi difícil me acostumar.”
“Eu acho que a noite se torna mais propícia para descansar, o ambiente mais escuro e calmo facilita isso. Durante o dia, a agitação de pessoas na rua e a luminosidade podem trazer um sono ruim, logo você se sente mais cansado.”
Douglas William Bohnen
Estudante