É só digitar trollagem no Google, que chovem vídeos. A gíria que significa “zoar, chatear, tirar sarro”, viralizou na internet. Com milhares de visualizações, os vídeos com ‘brincadeiras’ e desafios inspiram uma galera a repetir as trollagens entre amigos e colegas.
Em alguns momentos, no entanto, a zoação sai dos limites e fere física e psicologicamente. Uma brincadeira em específico, na qual dois jovens derrubam outro no chão, tem preocupado pais, médicos e educadores. Em outubro do ano passado, uma menina de 16 anos do Rio Grande do Norte morreu após participar do ‘desafio do quebra crânio’.
Na edição de hoje, colocamos o assunto em pauta, para tentar entender o que leva alguém a prejudicar um colega em uma brincadeira, como driblar as trollagens e por que algumas zoações podem ser perigosas.
OS LIMITES DA TROLLAGEM
Diversos vídeos com o ‘desafio da rasteira’ ou ‘quebra crânio’ circularam nas redes sociais nos últimos meses. Com mais de 2,13 milhões de seguidores, o youtuber Robson Calabianqui, o Fuinha, postou um vídeo no qual derrubava a própria mãe, em uma trollagem.

Na semana passada, no entanto, Fuinha divulgou um novo vídeo alertando os seguidores sobre os riscos da ‘brincadeira’. “Por favor, não façam essa brincadeira com ninguém. Ela é muito perigosa e pode matar. Eu estou muito arrependido de ter brincado com algo tão sério, eu poderia ter perdido minha mãe”, destacou.
CONSCIÊNCIA
Os estudantes Ana Caroline Machado Ramires e Camile Rosa, de 12 anos, e José Augusto da Silva de Brito e Kauan Nathan Machado Ramires, ambos de 15 anos, já assistiram a vídeos com o desafio da rasteira.
Os adolescentes, que ilustram a foto principal desta matéria, para mostrar que “amigo que é amigo caminha junto e não te faz cair”, frequentam a Organização Não Governamental (ONG) Parceiros da Esperança (Paresp) e consideram que rasteira não é brincadeira. “É uma trollagem perigosa, porque alguém pode se machucar e até morrer”, considera José.

Eles já estão conscientes que não devem zoar os outros colegas e são preparados para respeitar o próximo. “Se eu visse alguém fazendo eu iria chamar um adulto e tentar evitar”, diz Ana. Entre os relatos, eles lembram de vezes que sofreram ou praticaram bullying. “Quando fiz, uma vez, logo me senti um valentão, mas depois percebi que não era certo, porque quando eu fui a vítima me marcou muito”, expõe Kauan.
Na semana passada, youtuber Fuinha se desculpou pelo incentivo à ‘brincadeira’ da rasteira e alertou para os riscos
“Tudo o que coloca alguém em risco, deixa de ser uma brincadeira”
Brincadeiras de mau gosto e diversas formas para zoar alguém sempre estiveram presentes entre os adolescentes, especialmente no ambiente escolar. Com as redes sociais, no entanto, esse tipo de trollagem ficou ainda mais comum, impulsionada por youtubers que lançam ideias na rede. Se nos vídeos, as trollagens parecem apenas engraçadas, na vida real, podem representar um perigo e tanto.
“Tudo o que coloca alguém em risco, passa dos limites e deixa de ser uma brincadeira”, observa a professora de Filosofia e Sociologia Camila Ribeiro Menotti. Além disso, ela lembra que toda trollagem que faz o outro se sentir inferior ou ser agredido, é um tipo de bullying.
“Em muitos casos, o foco é aparecer nas redes. Fazer a brincadeira, postar e ganhar likes. Infelizmente, isso influencia muito os jovens.”
CAMILA RIBEIRO MENOTTI – Professora
De acordo com a professora, as brincadeiras estão sempre sendo reinventadas e, quando surgem, muitos jovens acham engraçado e querem fazer, até que alguém com mais

responsabilidade – normalmente um adulto – perceba o perigo e converse com eles. “É preciso falar sobre isso tanto na escola como em casa. Assim conseguimos conscientizar que o que eu não quero para mim, eu não faço para o outro”, ressalta.
Camila explica que, normalmente, as vítimas são pessoas encabuladas ou que não sabem dizer não. “Um colega tímido ou aquele que não pertence ao grupo, mas quer pertencer”, exemplifica. Ela reforça que é essencial o jovem ter sua opinião e expressá-la: dizer que não gosta de brincadeiras assim, que não quer participar e não fazer. “É preciso defender a própria ideia e não se oprimir diante dos outros.”
CUIDADO

O médico traumatologista e ortopedista Maicon Dreher explica os riscos da ‘brincadeira’ da rasteira. Conforme o profissional, o tombo pode causar fraturas nos braços, punhos, ombros e antebraços. Além disso, um tombo mais grave pode levar a traumatismo craniano, lesões na coluna torácica e na cervical. “É muito perigoso, essas lesões podem levar uma pessoa a óbito”, salienta.
TE LIGA – NÃO É BRINCADEIRA:
→ Colocar o pé na frente para alguém cair
→ Cutucar
→ Dar tapa
→Tirar a cadeira quando alguém vai sentar
O QUE FAZER DEPOIS DE UM TEMPO?
→ Se a pessoa estiver desacordada, deixe-a como está e chame ajuda de um profissional.
→ Se estiver acordada, leve até uma unidade de saúde, mesmo que ela não sinta dor.