Certo dia, perdida entre os meus pensamentos, pensei sobre o quão importante cada um de nós é. Exercemos funções diferentes, mas cada uma delas é importante para formarmos um todo. Pensei também no quanto os outros “Joãos” e “Marias” deste mundo são essenciais. Percebendo a importância de cada profissional, dá uma vontade de ser todos eles ao mesmo tempo. E até mesmo quem não é diplomado ou não tem faculdade é importante.

Muitos seres humanos podem não levar nas costas uma mochila cheia de livros e cadernos, mas podem levar consigo, nesta bagagem, o conhecimento, o amor, o comprometimento, a força de vontade, garra, caráter, ética e tantos outros valores. Mas isso não significa que aquele que estuda não leve consigo tudo isso.

Como todo o jornalista é um contador de histórias, eu, como futura jornalista, crio aqui uma historinha para você, caro leitor (a), refletir:Era uma vez uma menina muito, mas muito podre. O nome dela era Maria, tinha 10 anos. Seu pai, João, viúvo, não sabia mais o que fazer. Estava desiludido. Fora dispensado do emprego e precisava migrar para outra cidade. A pequena Maria foi junto. Pegou a mochila que tinha, onde o branco não era mais branco e sim, amarelo, e percorreu com o pai rumo a uma nova morada. João tinha apenas algumas moedas, as quais chegavam para comprar ao menos alguns pães para a filha. Estava preocupado. Onde conseguiria emprego na cidade grande?Pés e pernas cansados, barriga roncando. Assim, chegaram na cidade. Instalaram-se embaixo de uma ponte, pois ao menos não ficariam na chuva. Maria já estava com fome e perguntou ao pai:

-Pai, o que vamos comer? Precisamos nos alimentar.

João, preocupado, falou à filha:

-Minha menina, estamos em uma situação difícil. Hoje não dará mais tempo para eu procurar emprego e não tenho mais dinheiro. Gastamos as moedas que tínhamos. Dorme, que a fome passa.

A pequena Maria baixou a cabeça, fez que sim e deitou no colo do pai até pegar no sono.

No meio da noite, a pequena criança ouviu o pai soluçando, aos prantos, angustiado, sem saber o que fazer. Levantou, pegou a mochila velha, único bem material que tinha, sentou ao lado do pai e olhou-o com olhos de compaixão.

João, percebendo que a filha havia notado seu abatimento, chorou mais ainda. Havia perdido as forças, não tinha vontade de mais nada, nem de procurar emprego. Então perguntou:

-Filha, por que você trouxe esta mochila vazia?

Ao que a menina respondeu:

-Pai, o senhor não vê que ela não está vazia? Ela está cheinha de coisas. Todos os dias, carreguei comigo, dentro da minha bagagem, vários sentimentos e valores. Carreguei o amor, pois sem ele vi que não havia razão pela qual viver. Carreguei a esperança, pois ela é a luz que sempre acende quando eu estou na escuridão. Carreguei a sabedoria, para me dar conta de que mesmo a situação estando difícil, temos que encontrar soluções para lidar com ela e viver melhor. Carreguei a alegria, o que alimentou a minha alma todos os dias e fez passar a minha fome. Carreguei forças, o que me fez continuar andando mesmo sem vontade. Dentro da minha mochila também levei a compreensão, o que me fez entender a situação que estamos passando e perceber que nada acontece por acaso. Carreguei a ternura e a gratidão, pois embora estejamos embaixo desta ponte, com fome e com um pouco de frio, estamos bem de saúde, conseguimos andar e temos uma cobertura, o que faz nós não pegarmos chuva. Sou grata por isso. Ainda carrego na minha bagagem o orgulho, pois tenho orgulho de você pai, do ser que você é, do ser que se tornou. Obrigada! Agora fecharei a minha mochila, pois não posso perder estes meus tesouros.

O pai, com água nos olhos e admirado com tamanha sabedoria da filha, a abraçou com carinho, enxugou as lágrimas e respondeu:

-é verdade, filha, nós temos tudo, somos muito ricos. Guarde bem esta preciosa mochila. Ela irá nos acompanhar amanhã para que possamos achar um emprego e uma casa para morar.

Pois bem, caro leitor (a), a história é simples, mas nos diz muito. Diversas vezes na vida achamos que não temos nada e que somos nada. Desistimos de viver quando temos as ferramentas da vida em nossas mãos. Apenas não a usamos. Podemos não ser ricos, mas se tivermos os valores citados anteriormente, seremos grandes seres humanos.

Que sejamos todos “Marias”, carregando conosco, em nossas bagagens, grandes tesouros, aqueles que nos fazem seguir a vida. A bagagem de Maria era simples por fora, mas possuía preciosidades dentro. Nós, seres humanos, somos assim. Tornamo-nos importantes por aquilo que somos, fazemos, agimos e cultivamos!