A entrevista e as cucas

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Briga de Peso

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Foto: Divulgação / Tudo & TodasCuca em plena segunda-feira?
Cuca em plena segunda-feira?

Segunda-feira. Depois de um fim de semana bombástico (uma verdadeira bomba de calorias!), é dia de colocar a dieta na linha. Tomo um café da manhã saudável, preparo as frutinhas para o lanche e me vou faceira para o trabalho. às 16h, bem naquele horário em que o estômago começa a encostar nas costelas, saio para uma entrevista na casa de uma pessoa.

O céu coberto de nuvens, o chuvisqueiro e a baixa temperatura me fazem pensar que aquela é a tarde perfeita para as gulodices. O problema é que não foi só eu que pensei assim. Chego no meu destino, e a entrevistada me aguarda com uma bandeja repleta de cucas. Entro em pânico, afinal, tenho certeza que ela irá me oferecer. Mesmo assim, respiro fundo, e sigo o roteiro do trabalho.

Começamos de forma inocente. Eu explico para ela o propósito da entrevista e ela serve um chimarrão para si mesma. Por enquanto, nem uma menção às cucas. Sigo, pergunta após pergunta, consciente daquela bandeja de saborosos e macios pedaços do bolo alemão. Há essa altura, já identifiquei os sabores presentes: açúcar, chocolate e abacaxi (embora fique na dúvida se não é laranja).

A entrevistada ‘ronca’ o chimarrão, serve outro e me oferece. Nesse momento, o coração começa a bater mais rápido, afinal, conforme o manual do bom anfitrião, assim que eu tomar o meu, ela irá me oferecer a guloseima. Para ganhar tempo, pergunto sobre os mínimos detalhes e sorvo o chimarrão devagarinho, golinho por golinho, mostrando com linguagem corporal que é muito difícil escrever e beber ao mesmo tempo.

Já estamos no fim da entrevista e a dona da casa começa a olhar aflita para o chimarrão, e em seguida, para as cucas. Claramente, ela se preocupa sobre o tempo que terei para comer. Tanto eu, quanto ela, somos capazes de sentir o aroma daquele lanche.

Eu, com páginas e páginas de detalhes, ronco o chimarrão, e já vou guardando bloco, caneta e máquina fotográfica. Esse é o ponto crítico e não tenho um minuto a perder. Sem dar chance para minha anfitriã, já emendo:

– Obrigada pela entrevista, a matéria vai ser publicada no…

Mas ela pressentiu o golpe e foi mais rápida do que eu:

– Mas você já vai? Nem comeu um pedacinho de cuca!

Ao dizer isso, ela pega a bandeja e a coloca a 15 centímetros de mim. Tenho uma visão privilegiada de cada um dos sabores, e agora posso ver: a cuca, de fato, é de abacaxi.

Mas meses de prática fizeram com que eu também reagisse rápido. Coloquei no rosto minha melhor expressão de ‘coitadinha de mim’ e disparei:

– Ah, que pena… sou alérgica ao glúten… não posso comer esse tipo de alimento…

(Pausa para contar que nunca tive, nem acho que vou ter, qualquer intolerância e esse elemento.)

Imediatamente, a culpa me invadiu, afinal, a querida da mulher havia se preocupado em me receber bem, e eu, no medo de sair fora da dieta, me saio com aquela. Felizmente, para me redimir, a anfitriã não mostrou sinal de decepção. Ao contrário, foi mais do que compreensiva:

– Não me conta! Minha filha também é alérgica ao glúten. é complicado, não é? A alimentação fica tão restrita!

Pausa para o suspiro quase imperceptível de alívio. Estou salva!

Concordei com ela sobre as dificuldades de não poder comer glúten, agradeci mais uma vez pela entrevista, e fui embora. Naquela noite, comendo um iogurte zero gordura, pensei na minha entrevistada. Será que ela estava tomando um café acompanhado das cucas?

O que a gente não faz por uma dieta?

    

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