Foto: Divulgação / InternetDe volta à escola
Novo ano letivo chega cheio de novidades e desafios

Era difícil para o pequeno entender por que tudo havia mudado, de novo, e de novo, e de novo.

Aceitei que ele deveria lidar com as frustrações. Que o poderia ter deixado chorando. Hoje, tenho dúvidas. Aceitei que fazia parte do desenvolvimento, que não o poderia ter colado em mim o tempo todo, que eu tinha compromissos e era necessário que ele aceitasse a nova rotina.

Parecia tão fácil para as outras mães.

Era tão difícil para mim.

E quando parecia que o problema nunca teria uma solução, as coisas começaram a melhorar. Bruno foi para a escola grande, ainda na educação infantil, pois me aterrorizava o medo de ter que fazer uma adaptação escolar nas séries iniciais, no período decisivo da alfabetização.

Ele já havia visitado a escola, já havíamos conversado muito. E eu estava assustada com tamanha mudança pela qual passaria e como seria a sua reação. Por alguns dias, o acompanhei mais de perto, cheguei a entrar em sua sala umas duas ou três vezes. Depois, sentei no banco do corredor, e garanti ao menino que só sairia quando ele assim me autorizasse. Quando estivesse seguro e tranquilo.

Logo, já não precisava mais de mim. Estava integrado aos novos colegas, à turma. Sentia-se parte de um grupo. Acolhido e seguro, Bruno amadureceu, criou vínculos, fez amizades. Hoje, três anos depois, espera ansiosamente pela hora de ir para a escola, se arruma sozinho. Vibra ao ver os colegas. Eu me desmancho de amores ao perceber o quanto ele é querido no grupo e como sabe retribuir. Está criando sua história, dando seus passos com firmeza, crescendo na frente de meus olhos. O bebê, que virou um menino tímido, hoje é um garoto confiante e feliz.

E me faz feliz.

Com o Thomaz, tudo foi mais fácil. Ele chegou em nossas vidas num momento mais tranquilo. Com ele, não mudamos de cidade, nem de casa, nem mesmo de babá. Só de escola. Conseguimos começar aos poucos, com um turno só, mesmo assim, no final do ano passado, o garoto mostrava-se cansado da rotina.

– Mas por que preciso ir de novo na escola?

Para quem tem três anos, a rotina não parece algo interessante. Ele até gostava de ir, mas precisava ser todos os dias?

Decidimos que aproveitaria as férias em casa e, na volta, já iria para a escola do irmão. Mesmo horário, mesmo uniforme, chegariam e sairiam juntos.  

Ele estava tranquilo e feliz. Até chegar a hora.

Thomaz chorou, não queria se vestir. Tirou a bermuda e fugiu pela casa. Tirou os tênis e as meias. Com amor e paciência, fomos conversando com ele, recolocando a roupa mesmo contra sua vontade. Os tênis, levei junto no carro.

Não queria descer, não queria ficar. Não queria que eu o deixasse na escola. Mas sem o choro intenso que o irmão fazia. Aos poucos, ia se soltando de mim, aos poucos, ia me liberando. Na volta, estava feliz, havia gostado. Até chegar a manhã seguinte, quando já não queria mais nada de novo. 

E a novela se repetiu no segundo dia. Após o final de semana, foi pior, o menino regrediu, chorou mais, relutou mais para me deixar ir. Confiei nas professoras e o deixei assim mesmo. Esperto, Thomaz tinha um risinho no canto da boca, penso que estava me testando. Medindo forças. Mãe percebe quando há sofrimento ou quando há tirania. Não havia sofrimento.

Na noite seguinte, a chegada do segundo sol deve ter realinhado os planetas. Não eram 6:30 da manhã e lá estavam meus dois garotos prontos. De uniforme, tênis e meia. Quase a réplica um do outro. Lindos, felizes, aguardando a hora de irem para a escola. Ninguém complicou, ninguém reclamou. Tentei ser silenciosa, não tratar do assunto.

Seguimos a rotina do dia. Pai no trabalho, Bruno no portão grande da escola. Estaciono e o pequeno vem feliz para meus braços. Pegamos sua mochila e entramos na escola.

– Bom dia, profe, hoje trouxe um moço para a escola.

Confesso que ele me pediu para ficar mais um pouquinho, mas não foram dois minutos e Thomaz seguiu nosso combinado de dias atrás. Um beijo, um abraço e tchau.

– Brinca bonito e aproveita o dia que logo a mãe vem te buscar.

Saí da escola e me senti perdida. Não havia nem chegado às 7:30 e eu, que tinha avisado que atrasaria na empresa, cheguei antes de quase todos os outros. Havia um estranhamento e uma felicidade enorme com a manhã tranquila. Eu não estava suada, nem descabelada. Estava intacta, assim como havia saído de casa.

Achei o dia mais claro, a vida mais linda. E já não me aguento para chegar a hora de buscar esses dois.

Que o dia de amanhã seja tão maravilhoso quanto o de hoje. Mas se não for, estarei pronta para mais uma vez lidar com as emoções e espertezas de meus garotos.

Um excelente ano letivo a todas as crianças e suas famílias.

 

E para quem não acredita na chegada do segundo sol, lembro da música de Nando Reis, interpretada por Cássia Eller, e de como faz sentido para mim. Eu e meus dois sóis, fazendo a vida arder sem explicação. Mas com todo o vigor e entusiasmo que a infância nos permite. às vezes, com algumas teimosias também.

 

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O Segundo Sol

Quando o segundo sol chegarPara realinhar as órbitas dos planetasDerrubando com assombro exemplarO que os astrônomos diriam se tratarDe um outro cometa

Eu só queria te contarQue eu fui la fora e vi dois sóis num diaE a vida que ardia sem explicação