
Bruno conta os dias para deixar de usar a elevação de assento no carro. Está se sentindo mais responsável e independente. Já não se importa com os alienígenas do Ben 10 que povoavam sua imaginação, dezenas de personagens ficaram escondidos, no fundo de um baú, à espera do Thomaz, que vez ou outra resolve espalhá-los pelo chão. Alguns sem pernas, outros sem cabeça. Todos eles perderam sua criança e esperam ser adotados pelo irmão mais novo.
Seus livros também mudaram. As historinhas de bichinhos deram lugar à primeira enciclopédia, a livros sobre insetos, monstros do fundo do mar, dragões e castelos. Na última semana, ainda me pediu numa livraria o tal Diário de um Banana. Confesso que estou resistente a esse título.
Na TV, já passou pelo Discovery Kids e Cartoon Network, mas agora começa a se interessar mesmo é pelas séries do Nickelodeon e por filmes de ação.
Noite passada, o menino estava olhando um desses episódios, quando me chamou no seu quarto.
– Mãe, estava pensando numa coisa… Precisamos mudar a decoração do meu quarto.
– Por que, Bruno? O que houve?
– Olha para as paredes, olha para a minha cama. Meu quarto era legal quando eu tinha quatro ou cinco anos. Agora, está um pouco, assim, de criança…
– Mas tu é criança. (Reação normal para a mãe de um menino de sete anos)
– Tá, eu sei. Mas quando começa a adolescência?
– Uhm.. A mãe não tem bem certeza, preciso pensar…
Enquanto a mãe pensa, o menino conclui.
– Tá, mãe, é pelos 12, 13 anos?
– Acho que sim.
– Mas eu já queria um quarto mais maneiro.
– Mais o que?
– Sei lá, minha cama poderia ser bem mais legal, poderia ter umas figuras com caveiras. Essa parede azulzinha poderia ser vermelha.
– Vermelha, Bruno? Isso é muito gritante. E caveiras eu não deixo (ou será que deixo?)
Os tons bebê já não estão mais no quarto de meu menino grande há muito tempo, mas ainda assim ele não está totalmente satisfeito. No estojo, já não há mais giz de cera nem canetinha, apenas alguns lápis de cor remanescentes, quebrados e mordidos.
Cheio de ideias, cheio de vontades para compartilhar. Sei que ainda vai chegar o dia que a porta de seu quarto estará fechada, mas vou aproveitando enquanto meu menino segue crescendo e me chamando:
– Mãe! Estive pensando numa coisa…
Me conta, Bruno. Sempre que quiser estarei pronta para te ouvir.