Muito antes de o bullying ganhar o tom negativo que tem hoje, os novos funcionários da Folha do Mate sofriam nas mãos dos veteranos. Naquela época, o funcionamento do jornal era um mistério para a maioria das pessoas, assim como os equipamentos que usávamos para produzir as edições. Isso dava aos nossos colegas muitas opções para fazer trotes com os novos colegas, que muitas vezes nunca tinha sequer usado uma folha de papel carbono.
Lembro que certa vez encontrei um novo funcionário na sacada, meio confuso, procurando por algo. O jornal funcionava no prédio onde hoje é a Prefeitura. A redação ficava no último andar e o pobre rapaz havia subido até lá, a mando do seu superior, atrás de ‘um par de andarolas’.
Um dos trotes mais engraçados que já vi aconteceu mais ou menos na mesma época, lá pelo início dos anos 1990. Mais uma vez, a vítima era um funcionário recém-contratado do setor de expedição e encadernação.
Certa tarde fui até a cozinha, que ficava ao lado da redação. Quando entrei, percebi aquele rapaz lavando algo na pia. Me chamou a atenção a quantidade de sujeira. àquela altura, a pia já estava toda manchada com algo escuro. Não podia ver bem o que era, então me aproximei.
Quando parei ao lado da pia, vi que meu novo colega estava coberto com uma tinta escura, azulada, até a altura do cotovelo. Alguns respingos haviam se espalhado pela roupa dele e já não se via mais a cor da pia. Dentro da cuba havia uma água igualmente escura, de onde dava pra ver alguns pedaços de papel.
Já rindo, percebendo que estava diante de mais um trote dos colegas do andar de baixo, só consegui perguntar pro rapaz o que ele estava fazendo. Enquanto eu ainda conseguia segurar as gargalhadas, ele me explicou:
– Me mandaram lavar esses papéis carbono pra usar de novo, mas não to conseguindo limpar!
é realmente, os tempos mudaram…
