Foto: Divulgação / Tudo & Todas “Plante um pouco de humanidade”
“Plante um pouco de humanidade”

Enzo era um menino cheio de sonhos e ele sempre dizia que portava os maiores sonhos do mundo e que, algum dia, todos eles se tornariam realidade. Enzo era humilde, usava chinelo de dedo, calça rasgada, camiseta velha, mas havia algo que ele sempre levava consigo: um grande número de sementes de flores. O menino, que tinha 10 anos, morava com seus avós paternos em um humilde chalé de uma favela da cidade.

Enzo frequentava uma escola que ficava perto de sua casa e, todos os dias, após sair da mesma, ele não vendia, mas doava as sementes de flores que ele sempre carregava consigo. Depois disso, ele voltava para casa. Todas as vezes em que uma pessoa passava por ele, ele pegava algumas de suas sementinhas e dizia: “plante um pouco de amor”, “plante um pouco de solidariedade”, “plante um pouco de confiança”, “plante um pouco de humanidade”. As pessoas que por ele passavam, achavam ridículo a atitude do pobre menino, pois sementes não dão sentimentos, mas, sim, flores e outras plantinhas.

Seguido, as pessoas retrucavam: “deixe de besteira, menino. Todos os dias, passo por aqui e você vem com a mesma história. Desista disso, jamais nascerá, dessas sementes, o que você sempre fala”.

Mesmo sendo contrariado por muitos, Enzo não desistia. Continuava, todos os dias, distribuindo sementes às pessoas que por ali passavam. Uma mulher, de 32 anos, muito mal humorada e sem vontade de viver, voltava do trabalho sempre no horário em que Enzo distribuía suas sementes. Para ela, Enzo sempre dizia: “plante um pouco de amor”. Ela ignorava o garoto e continuava caminhando. Seu nome era Madalena.

Certo dia, Madalena descobriu que estava muito doente e que precisava urgentemente ser operada. Preocupada e praticamente sozinha no mundo, ela precisava de alguém que a apoiasse e lhe desse forças em um momento tão difícil. Madalena continuava passando pelo mesmo caminho todos os dias quando voltava para casa, e Enzo, como de costume, estendia a mão e oferecia algumas sementes de flores e falava: “senhora, plante apenas um pouco de amor.”

Curiosa com a atitude do menino e também triste por estar tão sozinha no mundo, Madalena resolveu conversar. Aproximou-se do pequeno Enzo e questionou:

– Menino, por que você, todos os dias, distribui sementes e diz que, com elas, conseguimos plantar amor, solidariedade, justiça e tantos outros valores? De onde você tira essas sementes e o que pretende com tudo isso?

O humilde garoto respondeu:

– Minha senhora, as sementes, meu pai que fornece. Somos muito humildes, mas um dos bens mais preciosos que temos é o nosso jardim com uma diversidade de flores. Distribuo sementes para também poder compartilhar essas belezas. O que eu pretendo com isso? Bom, todos os dias, percebo o quanto a grande maioria das pessoas não vê a beleza desse mundo. Muitas delas apenas se preocupam com o ter e não com o ser. Vejo milhares de pessoas passando por mim e nem se quer olham para mim. Quando falo que é possível plantar um pouco de amor, de solidariedade e gratidão, as pessoas acham um absurdo, uma vez que elas acham que me refiro às sementes, enquanto me refiro às atitudes, ao caráter. As sementes são apenas complementos, assim como os bens materiais em nossas vidas. As pessoas esquecem de que tais valores são elas mesmas que devem plantar. As pessoas me chamavam de louco, mas elas são tão loucas quanto eu, pois achavam impossível plantar esses valores. Eu só estou tentando construir um mundo melhor, em que os seres humanos não achem impossível amar, sonhar, ser solidário, amigo e bom. Eu só quero que as pessoas olhem para essas sementes e pensem naquilo em que estão plantando todos os dias. Não são as sementes de flores que farão crescer o amor, mas, sim, nossas atitudes de todos os dias e nosso caráter.

Madalena pôde perceber que aquele pobre menino que ela via todos os dias era tão sábio quanto ela. Ele apenas estava ali com o objetivo de construir o bem e ela percebeu que, apesar de pequeno, Enzo levava, em sua alma e em seu coração, o que, para ele, sempre foram os maiores sonhos do mundo!