Ao longo do mês de fevereiro, o Facebook foi palco de uma ‘corrente’ que desafiava mães a postarem fotos e compartilhar as alegrias da maternidade. No entanto, quando uma das desafiadas, Juliana Reis, negou-se a participar, optando por mostrar a ‘maternidade real’ – como ela mesma intitulou a nova onda de desafios -, a brincadeira virou polêmica. Ao dizer que se recusava a “ser mais uma ferramenta pra iludir outras mulheres de que a maternidade é um mar de rosas e que toda mulher nasceu pra desempenhar esse papel”, Juliana foi alvo de inúmeros comentários, tanto contra, quanto a favor de seu relato.

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Assim, veio à tona o questionamento sobre a intrínsica relação entre maternidade e plenitude, e sobre o conceito de que toda mulher sonha em ter filhos. Conforme explica a psicóloga Adriana Oswald, a pressão para que as mulheres desejem ser mães e amem a maternidade é uma percepção que já vem de uma construção histórica acerca do próprio papel da mulher na sociedade.

“Em gerações anteriores à nossa, como nossas avós por exemplo, a principal função da mulher era cuidar do lar e dos filhos”, ressalta. “Eram poucas, na época, as mulheres que desempenhavam papéis diferentes deste”.

De acordo com Adriana, a sociedade sempre vai tentar impor uma linha de raciocínio comum, a fim de organizar e padronizar aqueles que vivem nela.

“Temos que ser capazes de distinguir aquilo que queremos, daquilo que a sociedade em questão quer, por mais difícil e desconcertante que esse processo possa ser”, alerta. “Ter um filho porque uma sociedade dita que a mulher deve ter filhos é uma tamanha irresponsabilidade para ambos os lados”.

A profissional frisa, também, a importância de a mulher querer ser mãe, amiga, filha ou tantos outros papéis.

Foto: Marília Schuh / Tudo & TodasA psicóloga Adriana Oswald ressalta a importância da mulher gostar e cuidar de si mesma, mesmo na maternidade
A psicóloga Adriana Oswald ressalta a importância da mulher gostar e cuidar de si, mesmo com os afazeres da maternidade

A psicóloga relata, ainda, que uma mãe que cuida somente do filho e não cuida de si, muito em breve poderá não conseguir tomar conta nem da criança. “Como tudo na vida, deve haver equilíbrio”, ressalta. “Sabe-se que o bebê recém-nascido, até por volta de um ano, tem um vínculo de extrema dependência com a mãe, em função das necessidades emocionais e de sobrevivência”, comenta Adriana. Contudo, conforme a criança vai crescendo e adquirindo novas capacidades, esse vínculo vai dando lugar à uma nova forma de cuidar.

“A mulher precisa se sentir inteira além dos filhos, marido e outros”, ressalta a profissional. “Não precisamos e não devemos a ninguém uma mulher cheia de poderes, mas podemos oferecer uma mulher que se gosta, se cuida e lida bem com suas imperfeições”, acrescenta ela.

Portanto, segundo Adriana, tanto mulheres que sentem que nasceram para a maternidade, quanto mulheres que não acham tudo realmente uma maravilha, estão corretas. “Cada uma tem seu ponto de vista, e o que importa é como se sentem com esse posicionamento”, frisa ela. Ainda, conforme a psicóloga, essa obrigação da mulher quanto a amar ser mãe pode acabar extinta em um futuro não tão distante assim.

“Estamos caminhando com as novas gerações e acompanhando uma mudança no pensamento e no comportamento”, ressalta. “Somos diferentes, apesar de sermos iguais”.

>> Matéria publicada no T&T Press – especial Dia da Mulher.