A desnutrição é a principal complicação nutricional nos pacientes com câncer, principalmente em se tratando de doença em estágio mais avançado, que exige medidas terapêuticas mais agressivas. Neste cenário, manter ou recuperar o estado nutricional de cada paciente é a missão diária de nutricionistas, nutrólogos e gastrônomos no ambiente hospitalar e, para tanto, são estabelecidos protocolos clínicos para triagem e acompanhamento destes pacientes em centros de referência em Oncologia.
O suporte ao paciente oncológico começa na internação, oportunidade na qual ocorre a triagem nutricional. Segundo a nutricionista Mônica Lameza, determina-se o plano terapêutico de cada paciente a partir do estado nutricional dele. Para tanto, levamos em conta o peso, para ver, por exemplo, se ele perdeu muito peso em um espaço curto de tempo, a altura e se há comorbidades como diabetes e hipertensão.
Esta triagem, acrescenta Mônica, é uma estratégia para definir se determinado paciente se insere em um grupo de risco nutricional. Caso esteja inserido, é adotada uma dieta específica para este paciente, pois ele possui um perfil mais suscetível à desnutrição ao longo do tratamento. Um paciente bem nutrido acaba respondendo melhor ao tratamento cirúrgico, rádio ou quimioterápico.
Além de ser uma doença catabólica, ou seja, que consome as reservas nutricionais do paciente, o câncer está bastante associado com sintomas como náuseas, diarreia e vômito, efeitos estes que podem ser causados por quimioterapia e radioterapia, formas de tratamento com diferentes graus de toxidade. Outros efeitos colaterais possíveis são constipação, mucosite, alteração no paladar, xerostomia (boca seca), além da alteração da absorção de nutrientes, dentre outros. Cabe aos nutricionistas – dentro de um conceito multidisciplinar – oferecer a melhor qualidade de vida possível para o paciente por meio da dieta mais adequada.
Nutrigenética em câncer – A dieta equilibrada, principalmente quando inserida em um contexto mais amplo de vida saudável, é um importante agente contra o câncer. Estudos epidemiológicos, do tipo randomizado ou coorte (estudo observacional com indivíduos divididos em dois grupos: dieta equilibrada e desequilibrada) apontam que cerca de 35% dos diversos tipos de câncer ocorrem em razão de fatores dietéticos.
Prevenção de câncer e a importância de se diversificar os alimentos inteligentes – Também conhecidos como funcionais, são alimentos que, reconhecidamente, auxiliam na prevenção do câncer. Dentre suas funções, além de proteger o sistema de reparo do DNA contra tumores, eles possuem funções nutricionais importantes, gerando efeitos benéficos à saúde como parte da dieta habitual. Entre os alimentos funcionais, estão os flavonóides (encontrados, por exemplo, nas frutas vermelhas e chá verde), licopeno (tomate, molho de tomate, goiaba e melancia), betacaroteno (cenoura e abóbora), luteína e zeaxantina(espinafre e couve), vitamina C (frutas cítricas como laranja, acerola e abacaxi), isoflavonas (soja e feijão), alicina (alho) e ômega 3 (sardinha, atum, salmão, chia e linhaça).
Apesar de ter suas funções conhecidas, os alimentos inteligentes não devem ser consumidos em excesso. Não será o simples fato de comer muito tomate, que é rico em licopeno, que impedirá, por exemplo, um homem de vir a desenvolver câncer de próstata. O válido é lembrar que o mais importante é diversificar, pois a alimentação saudável é aquela que contempla todos os alimentos inteligentes. Estudos demonstram que alimentos antioxidantes podem inibir a ação do tratamento radioterápico, impedindo a redução do tumor que a radiação proporcionaria, agindo como um antagonista.
Dieta neutropênica – O papel do Serviço de Nutrição dos centros especializados é oferecer o mínimo de contaminantes na alimentação. Em hipótese alguma, são oferecidos alimentos crus ao paciente, pois, mesmo que bem lavados, eles podem ter uma grande carga bacteriana, que seria eliminada pelo sistema imunológico de um indivíduo sadio. O que é recomendado, é cozer todas e frutas e verduras, sob processos de cocção e desinfecção.
Gastronomia hospitalar – Trata-se de um serviço que oferece conforto, acolhimento e que, inclusive, remete às boas recordações do paciente. Um paciente com dificuldade para se alimentar pode solicitar a presença de um chef que, ao lado da nutricionista, esboçará um prato personalizado (desde que adequado às condições clínicas do paciente), que remeta a um momento especial, afetivo, simbólico para o bem-estar do paciente.
ética perante o paciente terminal – O papel ético da equipe multidisciplinar em relação a continuar ou não nutrindo um paciente fora de tratamento curativo e paliativo e a importância da família para a tomada de decisão junto à equipe clínica.