A presença no mercado de trabalho, a busca por qualificação e pelo reconhecimento com cargos de liderança ou a aposta em um empreendimento próprio são temas de constantes reflexões e debates para as mulheres, com objetivo de conquistar espaço e valorização. Em entrevista para o Tudo & Todas especial do Dia da Mulher, a psicóloga Fernanda Cássia Landim aborda o assunto.
De acordo com ela, que é mestra em Psicologia, especialista em Avaliação Psicológica e em Psicologia Organizacional, aliar carreira e maternidade é um desafio e tem suas peculiaridades conforme o contexto da mulher. Entretanto, é possível encontrar formas de conciliar os papéis de forma positiva. “A maternidade não tem cartilha, ela é vivida a cada novo dia, não há previsibilidade, mas é possível planejar rotina e objetivos entre vida familiar, pessoal e profissional”, destaca.
Fernanda também observa que as habilidades e características relacionadas à maternidade contribuem para a atuação profissional, em diferentes áreas. Mãe de Cauê Landim Osório, 4 anos, considera que a maternidade contribui muito no planejamento, na organização, no comprometimento e na responsabilidade com as pessoas que buscam atendimento terapêutico.
“Ser mãe trouxe ampliação de visão nos mais diferentes processos de relacionamento. Hoje eu não imagino as sensações, eu as compreendo e tenho noção dos sentimentos e pensamentos, tornando tudo muito legítimo e verdadeiro. É uma expansão de sensibilidade, me referindo aqui à construção constante da empatia”, comenta ela, que é CEO e sócia-proprietária do Espaço em Família.
Apesar das mudanças e da busca por mais igualdade, ainda há desafios para as mulheres no mercado de trabalho? Quais?
A equidade de gênero é o início deste desafio, por vivermos ainda sob a regência do modelo machista e patriarcal, que nos coloca em lugares de inferioridade, de descredibilidade e desqualificação. As consequências deste modelo nos encaminham para a questão da interseccionalidade, que discute além do gênero, classe e raça, mostrando a amplitude e a complexidade deste desafio.
“Que possamos cada vez mais praticar o não julgamento, principalmente quando uma mulher sofre violência, entendendo que ela é vítima, acolhendo a sua dor e não querendo saber os motivos ou o porque ela não fez alguma coisa antes. Todos podemos fazer alguma coisa para transformar, basta cada um entender como e buscar fazer.”
FERNANDA CÁSSIA LANDIM – Psicóloga
Que dicas você dá para mulheres que desejam investir em um negócio próprio?
Empreender é acreditar e para acreditar precisamos de coragem para fazer tudo aquilo que queremos. Com a coragem, sempre teremos o medo, por isso precisamos cuidar para não nos autossabotar e desistir. É algo muito comum nos questionarmos a respeito. Investir em um negócio próprio requer buscar conhecimento e informação o tempo todo, ou seja, a qualificação para gerenciar o negócio que é algo que vai para muito além da nossa formação profissional. Processos como fluxo de caixa, despesas, custos, cliente ideal, identidade visual, marketing, vendas, parcerias, produtos e serviços, enfim, é um enorme leque de movimentos e desafios que nos ajudam a entender e a nos posicionarmos como empreendedoras.
Quais os desafios de aliar a maternidade com a profissão?
São muitos, mas é possível fazer esse alinhamento. A dimensão dos desafios vai ser conforme a realidade de cada mulher: número de filhos, idade, rede de apoio familiar, se é empreendedora ou funcionária. A maternidade não tem cartilha, ela é vivida a cada novo dia, não há previsibilidade, mas é possível planejar rotina e objetivos entre vida familiar, pessoal e profissional.
Como a sociedade como um todo pode e deve contribuir para mais igualdade entre homens e mulheres?
Precisamos aprofundar o diálogo sobre as intersecções nas relações como um todo. As diferenças são grandes, muitas estatísticas estão presentes em relatórios mostrando a realidade global. O movimento é se debruçar de verdade sobre os dados e buscar estratégias assertivas que venham contribuir para nos aproximarmos da igualdade. O universo feminino não é igual, a realidade da mulher branca é diferente da realidade da mulher negra, por exemplo.
É bastante complexo ocupar este lugar: de mulher e negra. Na escala salarial, somos as que temos o menor salário, comparado aos homens e a mulher branca. Sou uma mulher, negra e empreendedora, estudo para quebrar barreiras, para abrir caminhos para outras mulheres negras praticando a ‘dororidade’, conceito desenvolvido por Vilma Piedade, escritora negra que descreve as nossas dores, enquanto mulheres negras.
Para começar a diminuir a desigualdade, o interesse precisa ser coletivo, sendo pautado o tempo todo, com o desenvolvimento de ações por todas as instâncias, fortalecendo assim o processo de mudança.