Já estou ansiosa pela chegada do verão e dos dias de calor. Não me interpretem mal, continuo gostando do inverno e de seus aconchegos, mas criança dá mais trabalho enquanto os ares ainda estão gelados.
– Bruno, cadê teus tênis?- Não sei.- E as meias?- Não sei.- Bruno, pelo menos os chinelos nos pés!- Tá. Depois eu coloco.
Depois ele coloca. Depois que andar pela casa descalço, que ficar cinco minutos em frente à geladeira procurando algo:
– O que tem pra comer?
Depois que correr na rua, que topar com o minguinho num canto qualquer.
– Ui, ui, ui.- Se tivesse de sapatos…
Na volta da escola, Bruno entra no carro tirando os tênis e as meias. Em casa, desce de pés descalços. Abrigo apeluciado e pés descalços. é hora da mãe pegar no pé.
– Filho, pelo menos guarda teus tênis no lugar.
Na verdade, acabo desistindo de cobrar. Não vejo reflexo do hábito em sua saúde. Então, ele nem me dá ouvidos. Até obedece na hora, mas logo em seguida já esqueceu das minhas súplicas. Fico agoniada toda vez que sai quentinho do banho, coloca bermuda e camiseta e se posta na cozinha, com os pés direto no piso frio, avaliando a geladeira aberta.
– Sai daí, guri! Isso não é televisão. Vai te dar um treco pegando frio com o corpo quente.
Corro e busco o primeiro par de chinelos que encontro.
– Coloca, agora, isso nos pés!
Ele coloca. Mas basta dar mais três ou quatro passos que o calçado já fica largado num canto. Desisto e mudo meu foco.
– Se não vai calçar, pelo menos guarda.
Não ter calçados espalhados pela sala, já vai ser um bom começo numa casa com população masculina predominante.
Thomaz segue pelo mesmo caminho. Vem para meu colo com os pés gelados e, enquanto saio para buscar um par de meias, já se mandou correndo de novo, seguindo os passos descalços do seu irmão mais velho.
Desencano e acho graça daqueles pezinhos gordos de fora, já que o verão vem chegando e os meninos estão crescendo. Logo logo as coisas mudam. E como pegar no pé faz parte do papel de mãe, na verdade sigo curtindo a folia dos sapatos e confesso que é bom ter de quem cobrar o calçado no pé.
– E aí, gurizada! Os dois sem tênis de novo?
