Basta chegar perto e as evidências começam a aparecer. As pedrinhas do jardim estão espalhadas no pátio e há um arame prendendo o pequeno portão à prova de fujões. Ao fundo, duas motocas, uma gangorra-jacaré e algumas bolas de plástico. Na entrada da casa, se avistam pequenos porta-retratos e há um Max Steel atirado no canto, junto com alguns carrinhos e um cavalo de garrafa pet feito artesanalmente por algum artista mirim.
Um leve toque na campainha e lá está a prova. Sim, nesta casa moram avós. E lá estão eles, vovó e vovô, ansiosos, esperando a segunda duplinha que chega para completar a desordem, tirar as coisas do lugar, derramar suco de uva no tapete e riscar de caneta esferográfica o estofado nude da sala de estar.
Está feita a farra. Vovó já está sentada no chão, montando “pé na cabeça”, que é como o Rafa chama aqueles joguinhos de peças de encaixar. Vovô pegou uma furadeira e está demonstrando no muro como a ferramenta funciona. Tento conversar, contar novidades, mas logo preciso correr porque alguém resolveu brincar com o enfeite da mesa.
Há um chimarrão passando entre os presentes, olho para as paredes e vejo uma dezena de fotos das crianças, ou seriam duas dezenas?
– Quem está com a térmica?
Thomaz resolve disputar um tablet com o Arthur e, ali adiante, está o Bruno, às 11h40min, servido de um prato de mini pizza de chocolate.
– Quem deu mini pizza para o Bruno?
Volto ao assunto iniciado, começo falando baixinho e quando vejo estou aos gritos, competindo com a Mônica, dentuça, ‘golducha’ e baixinha que passa na TV, e com os Backyardigans do telefone. Desisto e me sento no chão para ajudar a finalizar o ‘pé na cabeça’, porque a vovó não está se achando.
Arthur chega espalhando as pecinhas, encontra um jornal e arremessa as páginas pela sala. O tapete encontra-se escondido no meio de tanta criança, brinquedo e papel. Vovô, calmamente, pergunta:
– Tem alguma coisa no fogo?
Vovó sai correndo.
Thomaz sai correndo, Arthur sai correndo, Rafa sai correndo. Bruno pede mais pizza.
– Nem pensar, filho, é hora do almoço.
Vovó volta com um banquete.
Adultos se revezam entre servir os pequenos e conseguir almoçar. Alguém come a refeição já fria.
A sala está bagunçada. à mesa, tem dois ou três ainda tentando finalizar o almoço. Do nada, quase tropeçando em algum brinquedo do chão, aparece uma visita. Isso é hora de aparecer visita? Bom, já são duas da tarde, a visita chegou no horário.
– Não repara na bagunça – alguém tenta justificar.
A visita junta um brinquedo do chão e confirma:
– Vim mesmo para ver as crianças.
Vovó serve a sobremesa. A tarde fica ainda mais doce. Há alegria, brincadeira, amor. Não é preciso mais nada naquele momento. Estamos na casa da vovó e do vovô e isso já é suficiente.
Bagunça se ajeita, sujeira se limpa, visita se acomoda, tempo perdido, não volta mais.
Desejo a todas as vovós e vovôs, lindos e felizes dias. Com guloseimas, bagunça e alegria. Que possam rejuvescer junto a seus netos e que permitam-se brincar e amar incondicionalmente.
Antecipo e eternizo meus desejos de feliz dia dos avós. Neste sábado e sempre.
Alguém adivinha de quem é essa casa?
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