
Um dia a tábua perguntou para o prego:- Por que você me machuca deste jeito?- Mas eu não estou te machucando. Respondeu o prego.- Está sim, disse a tábua.- Olha só como está a minha cabeça, retrucou o prego. Além de me baterem insistentemente, ainda há um barulho ensurdecedor, acrescentou.
A conversa continuou por algum tempo, um tanto acalorada. Cada um queria se defender e apresentar a sua verdade. Os dois se julgavam prejudicados e não chegavam a nenhum acordo. Do diálogo inicial, as vozes se alteravam com o passar do tempo. Tábuas eram colocadas, lado a lado, pregos e mais pregos, e marteladas. Por dias, tudo continuava sem entendimento.
Alguns pregos se retorciam, negando-se a cumprir a sua função, por conta da animosidade das tábuas. Elas, por sua vez, embora reclamassem de vez em quando, aos poucos foram se acostumando com aquela dor passageira. A cada nova companheira, percebiam a importância do conjunto.
Um novo momento surgiu. Agora, as atenções das tábuas e pregos interligados nas paredes se voltaram para o alto.
– O que vai acontecer agora? Arriscou a pergunta uma das tábuas.- A partir de agora, vão colocar sobre nós, aquelas madeiras que formam o telhado, respondeu o prego que lhe unia às outras.- Mas isto não é justo, argumentou a colega que estava ao seu lado.- Não teremos vida por muitos anos, caso não se tenha uma proteção, destacou, outra.- Uhm! Silêncio total.
Madeiras, outros pregos maiores, telhas e assim por diante. Até que tudo ficou pronto.
-Ufa! Até que enfim, em coro – as paredes exclamaram.
Até aquele momento, os tijolos não haviam se manifestado. A tudo ouviram calados durante o tempo de construção. Entretanto, um deles achou que chegara o momento de apresentar a sua contribuição. E, foi dizendo:
– A tudo ouvimos desde o começo, porém calados permanecemos. Mas agora temos o dever de nos manifestar, afinal, juntos permaneceremos, talvez para o resto de nossas vidas.
Aqui, há diferenças, porém um único objetivo: abrigar àqueles que por um dia, por uma estação, ou por muitos anos vão se resguardar sobre nossa proteção. Portanto, cada um que aqui está tem importância vital, e não é melhor ou pior. Se alguma dor ou desentendimento, porventura, aconteceu deverá ficar para trás. Somos importantes no conjunto. E quem nos procura, quer e precisa da nossa estrutura firme e forte, para que possam sentir-se acolhidos, esperançosos, e sintam a energia maravilhosa que emanamos.
– A partir deste instante, acrescentou o cimento que unia os tijolos, somos únicos nesta construção. Até poderemos um dia ser removidos para dar lugar à moderna construção, porém, enquanto aqui nos for permitidos ficar, a nossa missão é unificar. Nossa responsabilidade ultrapassa qualquer diferença. Se apresentarmos rachaduras, os homens vão tentar consertar, ou nos substituir para que as suas necessidades sejam satisfeitas.
Há um perfeito equilíbrio entre a existência, a essência e a missão. Por isso, vamos cumprir com o triângulo que nos foi concedido, a fim de que muitas histórias se registrem a partir desta lição que aprenderemos juntos a cada dia, destacou a escada.