Bruno é teimoso e cheio de vontades. Sempre foi. Insistente à exaustão, nunca consegui lhe dar um castigo inteiro. Mas amor ele ganhou (e ganha) aos montes, e penso que isso bastou. Hoje, aos sete anos, vejo meu menino me acompanhar todos os dias na hora de buscar o irmão na escola. é meu ajudante favorito, o mais lindo, o mais falante, o mais gentil. Bruno é do bem, quer o bem, faz o bem. Sua educação vem de algo muito mais forte do que uma coleção de regras, vem de seu bom coração, de valores que estamos conseguindo plantar e cultivar dia a dia em nossas relações.

Por iniciativa própria, abre o portão para mim e para quem mais precisar entrar ou sair da escola, aguarda as pessoas passarem e só então segue seu destino. Se oferece para ajudar. Junta o casaquinho e entrega para um atarefado pai que, ao carregar bebê, sacola, mochila e chaves, acabou nem percebendo a roupinha caída no chão.

– Obrigado, Bruno.

– De nada.

Um sorriso tímido expõe as covinhas, passo o braço por seu ombro e seguimos enganchados, mãe e filho, felizes por nossa parceria.

Bruno é assim porque se importa com as pessoas, não porque algum dia eu tenha dito para ele que deveria fazer. Ele tem prazer em ser bom. Não é uma regra, nem imposição, não é uma ordem.

– Mãe, fui querido?

– Sim, meu amor.

Sorri, brinca com as professoras do irmão, chega na porta da sala para ver seu “pitoquinho” dormindo. Na saída, ainda confere:

– Mãe, pegou os tênis do mano?

Geralmente, Thomaz está dormindo na hora em que o pegamos na escola. A mim, cabe o colinho. Ao Bruno, a importante tarefa de carregar os pertences, de abrir e fechar o portão e de guardar a mochila no carro.

Respeito a importância da rotina, de termos regras e combinados, mas tenho convicção que na educação de nossos filhos, não há palavra que supere o exemplo, não há autoridade que sustente um modelo ruim, não há regra que se firme sobre um comportamento inadequado.

Troco a rigidez pelo sorriso, a ordem pelo abraço. Mas não se enganem, Bruno sabe quando precisa obedecer, ele respeita e tem limites. Dia desses, ao ganhar uma mordida do irmão, foi correndo para seu quarto, não revidou, não brigou. Sabia que no meio da brincadeira aquela foi a única defesa possível para o pequeno, que ficou acuado diante da diferença de tamanho.

Fiz Thomaz pedir desculpas. Bruno pediu um beijo. Fiquei com dó de ver o ferimento e orgulhosa por perceber o quanto Bruno está maduro o suficiente para não revidar, para mesmo quando agredido, conseguir compreender e ser afável.

Acredito, do fundo do coração, que o que somos educa muito mais do que o que dizemos. Filhos se espelham nos pais. Seja do bem e colha bons frutos. A educação adequada das crianças acontece quando há um ambiente amoroso, com equilíbrio entre o educar, o ensinar e o inspirar.

Quanto à teimosia, esta começa a se mostrar como persistência. E o garoto, que antes fazia birra mesmo sem motivo, hoje mostra-se corajoso e capaz de batalhar por suas ideias.

E a mãe vai aprendendo que as fases passam, que a infância é breve e que tudo o que for feito com amor fica como ensinamento. O resto, o tempo se encarrega de amadurecer.