Foto: Divulgação / Almanaque da CulturaNise é interpretada pela atriz Glória Pires
Nise é interpretada pela atriz Glória Pires

 

A vida da doutora Nise da Silveira, que revolucionou os tratamentos psiquiátricos no Brasil na década de 1920, está no filme ‘Nise – O Coração da Loucura’, que estreia dia 21 de abril. Um drama que revela mudanças nos tratamentos para práticas mais humanas, baseadas na arte e na liberdade criativa dos seus pacientes. Nise faleceu em 1999 declarando sua luta pela psiquiatria: “Eu não acredito em cura pela violência.”

Dirigido por Roberto Berliner, o drama tem no elenco principal Glória Pires, Simone Mazzer e Julio Adrião Na página em uma rede social, Glória Pires – atriz principal da obra – anuncia o dia 21 de abril como data de lançamento. “ é um filme lindo, emocionante, muito bem feito e incrivelmente atual, quando estamos discutindo a questão da saúde mental no país”, descreve a atriz.

VIDA E OBRA

Nise da Silveira (15.02.1905 – 30.10.1999) foi pioneira na terapia ocupacional, introduzindo este método no Centro Psiquiátrico Pedro II do Rio de Janeiro.Nise era alagoana e fez seus estudos médicos na Faculdade de Medicina da Bahia (1921-1926) e foi a única mulher numa turma de 157 alunos. Colou grau com a tese “Ensaio Sobre a Criminalidade da Mulher no Brasil” (28.12.1926) No Rio de Janeiro (1927) estabeleceu suas raízes intelectuais e profissionais. Casada com o sanitarista Mario Magalhães, engajou-se nos meios artísticos e literários e freqüentava ativamente os círculos marxistas, junto com marido. Em 1932 estagiou na famosa clínica neurológica de Antônio Austregésilo, e em 1933 entrou para o serviço público, através de concurso, trabalhando no Serviço de Assistência a Psicopatas e Profilaxia Mental, na Praia Vermelha, pertencente da antiga Divisão de Saúde Mental.O envolvimento de Nise com o marxismo valeu-lhe 15 meses de reclusão no presídio da Frei Caneca, no período de 1936-1934, local onde conheceu Graciliano Ramos, que a descreve no seu famoso livro “Memórias do Cárcere” (José Olympio Ed., RJ, 1953)Segundo a própria Nise, ela fora denunciada por uma enfermeira que mostrou à polícia política de Getúlio Vargas, liderada então pelo feroz Filinto Müller, os livros marxistas “subversivos” que ela guardava na sua estante. Sobre esta prisão, há uma anedota que Nise deliciava-se em contar, tanto porque ilustrava sua total descrença na existência do “embotamento afetivo” dos esquizofrênicos, fruto de sua experiência em terapêutica ocupacional com estes doentes. Luiza, uma esquizofrênica que todas as manhãs levava o café da Nise, ao saber que esta tinha sido presa, aplicou uma formidável sova na infeliz enfermeira que denunciara sua querida doutora. Nise terminava este relato dizendo que aquilo fora “uma verdadeira reação afetiva”, e ria satisfeita, para então concluir seriamente: “o esquizofrênico não é indiferente, não é não”.

Fonte: polbr.med.br/ano02/wal0902.php-Fernando Portela Câmara