E não é que ele perdeu mesmo o sono.
– Filho, agora dorme, amanhã tem aula.
Nada de fechar os olhos.
– Vamos, Bruno, deita, ou vai ter muito sono amanhã.
– Mas, mãe, estou preocupado, e se as pessoas não gostarem da minha loja…
– Vão gostar, filho, mas se você não dormir, vai estar cansado na aula e não vai ir bem na escola, daí, sim, vai ter problemas com a tua loja.
Foi difícil para o menino dormir naquela noite. Era quase impossível parar de pensar, havia um turbilhão de ideias precisando ser externalizado. A conversa iniciou tranquila, como já havia acontecido em outras situações, mas foi logo ganhando entusiasmo, ganhando euforia, simplesmente explodiu. O quarto escuro brilhava naquele momento. Havia fogos de artifício saindo da cabecinha do Bruno. A imaginação da criança se misturava à sensatez de um adulto e ele me deu a tarefa de anotar tudo e organizar o planejamento de seu negócio.
– Ai, mãe, quero fazer logo 18 anos.
Meu pequeno empreendedor havia começado a conversa avaliando qual profissão iria seguir, a minha ou a do pai, ficou cansado só de pensar em ter que escrever muito, estudar muito, não parecia divertido. Até que a ideia veio num estalar de dedos.
– E se?
– E se o quê, filho?
– Mãe, e se eu tiver uma loja de brinquedos?
Seria uma opção bem óbvia para uma criança de sete anos. Não fosse o que a sequência do diálogo revelou.
– é uma boa ideia, filho, pode ser.
– Minha loja precisa de um nome.
– Claro.
Acabamos fazendo um brainstorming digno das maiores agências de publicidade. E como é fácil realizar uma tempestade de ideias com uma criança. Nunca havia visto a técnica funcionar tão bem. Logo a loja tinha nome:
– Isso, mãe, já escolhi, vai se chamar Divershow. Anota.
E Bruno seguiu como uma metralhadora, listando tudo que eu deveria anotar:
– Mãe, a Divershow vai ter doze metros.
– De frente, filho?
– Não, mãe, de altura, vão ser três andares.
Pensei comigo, esse guri estudou arquitetura enquanto eu dormia?
– Anotei, Bruno.
– De frente, são quinze metros e de fundo também… Deixa eu pensar. Vai escrevendo enquanto eu falo, vou precisar de cinco vendedores e de um funcionário para atender no caixa. Cada um vai receber mil reais por mês. Eu vou ficar na loja vendo se os clientes estão sendo atendidos e se acharam o que procuravam. Se todos os vendedores estiverem ocupados, posso atender também.
– Claro, filho, tem que ajudar.
– Vou precisar colocar uma propaganda na Folha do Mate: – Contrata-se vendedores.
– Sim, colocar uma propaganda na Folha do Mate é bem importante.
– Anota outra, então: – Quer comprar um abajur, apenas R$ 12,99.
– Bom preço, Bruno, vou querer um destes.
– Mas, mãe, a minha loja ainda não está funcionando.
– Ah, quando estiver, então, vou querer um. Agora que está tudo anotado, pode dormir.
– Ainda não. E como eu vou ter dinheiro? Quando chegar a hora, tu me ajuda, mãe?
– Claro, a mãe te ajuda, mas vamos precisar financiar uma boa parte no Banco. Ainda mais pensando que você quer uma loja de três andares…
– E ir pagando aos poucos, com o dinheiro que ganhar na loja?
– Sim, meu economista, é isso mesmo.
Naquela noite, Bruno sonhou acordado. E sonhou tanto que quase não conseguiu dormir. Naquela noite, ele me fez dormir sonhando. E se?