Lembra dessa: Afofilhar – ou daquela vez que inventei uma palavra fofa

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Foto: Fernanda Carvalho / Tudo e TodasAfofilhando
Afofilhando

Acabo de inventar uma palavra, na verdade, criei um verbo, daqueles transitivos diretos que a gente conjuga sempre que pode, escreve-se assim: afofilhar. Deve ser a convivência com meus dois garotos que anda despertando minha criatividade, pois quando se conversa com crianças de 6 meses e de 5 anos, não é só o que se encontra no dicionário que vale, a comunicação multiplica-se em novas formas gramaticais e expressões inéditas, que a gente entende sem precisar pensar.

Afofilhar significa afofar um filho, esmagar suas bochechas contra as nossas, apertá-los a ponto de quase faltar o ar, mas ouvir ao final do desaperto um pedido de “de novo, mamãe”. Deve ser conjugado de todas as formas. Do eu afofilho até o eles afofilham, todos devem afofilhar.

E com tantas afofilhações, ser mãe torna-se a tarefa mais gostosa e divertida da vida de uma mulher. Gostosa porque filhos são uma delícia . Divertida porque permite voltar a jogar videogame, brincar no chão, comer Danette e tomar Todynho. Tá certo que para quem era fera no Odyssey demora um pouco até ganhar do filho nas disputas de Playstation. Mas assim a gente aprende a perder também.

Com pouco mais de um mês de minha volta ao trabalho e do retorno do Bruno à escola, percebo como tudo aconteceu naturalmente. E eu que havia me preparado para passar tardes no corredor aguardando meu menino grande se adaptar à nova realidade. Bruno não estranhou, não fez manha, não chorou para ficar com sua nova turma, não fez birra para colocar o uniforme e pouco tentou que eu não deixasse seu ângulo de visão. Surpresa e feliz, vejo meu filho crescido me dando tchau na calçada, entrando confiante escola adentro, cumprimentando as professoras com sorriso no rosto e histórias suficientes para cansá-las em menos de 5 minutos. Na hora de retornar para casa, Bruno, que tem ficado muitos dias por último, acalma meu coração dizendo que não se importa com o horário, que gosta da espera, pois pode ouvir mais histórias, montar diferentes quebra-cabeças e brincar mais um pouco com os novos amigos, que aos poucos vai aprendendo os nomes. Afofilho com força meu jovem estudante, ajusto o cinto de segurança e vamos para casa conversando sobre como foram nossos dias.

Não há monotonia em rotina que tem criança. Não há certezas e verdades absolutas, ou regras que não possam ser quebradas, como o chocolate roubado antes do almoço.

Um dia você acorda cansada, desajeitada, com vontade de ficar na cama mais uns 57 minutos pelo menos, mas a conversinha no berço ao lado alerta para a proximidade da hora do mamá. E quando finalmente consegue abrir bem os olhos, enxerga, achatadinho na tela do berço, o narizinho mais fofo do mundo, olhinhos estralados e um princípio de sorriso ao perceber que o olhar fora correspondido.

Irresistível pedido de atenção, irrecusável recado de me afofilha mamãe. Nesse momento, você nem lembra que recém passou das cinco da matina. Levanta da cama num pulo e acolhe nos braços seu pequeno despertador desregulado.

E assim segue-se a imprevisível maratona, quando achamos que querem pizza, atacam o prato de brócolis, quando compramos moranguinhos para um doce, devoram até a bandeja, mas se saímos especialmente para trazer uma porção novinha da fruta preferida, ignoram a delícia e resolvem querer a pizza.

Filhos nos surpreendem todos os dias. E não importa se são bebês pequeninos ou meninos grandes. Algo inusitado vão protagonizar, algum feito, alguma vitória ou mesmo uma travessura, não importa, todos os dias vão nos dar motivos para mais uma gostosa afofilhada.

>> Esse post foi publicado na quinta-feira, 29 de março de 2012, no caderno ‘Filhos’, da Folha do Mate, e no blog ‘Folheando Ideias’.

    

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