Um artigo escrito pela colunista Rosane Oliveira, de Zero Hora, no último fim de semana, provocou bastante discussão na internet. No texto, que pode ser lido aqui, a jornalista fala sobre a preocupação quanto a “glamorização do parto em casa e a disseminação da ideia de que o ambiente hospitalar é desumano”. Ela ainda cita o exemplo de celebridades como Gisele Bündchen, que teve os dois filhos em casa.

Foto: Arquivo Pessoal / Tudo & TodasDiscussões sobre as formas de realização do parto têm sido mais frequentes
Discussões sobre as formas de realização do parto têm sido mais frequentes

Para saber um pouco mais sobre o que pensam, conversamos com diferentes mulheres, tanto profissionais da área, quanto mães, que puderam dar sua opinião, e também fazer um relato sobre seus partos. Confira:

Foto: Arquivo Pessoal / Tudo & TodasCaroline e o filho
Caroline e o filho Gabriel

“Quando decidimos ter um filho, também decidimos fazer tudo para tornar a gestação e o nascimento do nosso bebê o mais lindo e tranquilo possível. Sempre quis parto normal, pesquisei muito sobre o assunto. Conversei com minha médica, que me orientou, incentivou e me encorajou ainda mais. Preparei-me durante toda a gestação, fiz exercícios, pilates, e acompanhamento nutricional.

No dia 28 de outubro de 2011, às 3 horas, acordei com contrações; já estava com 40 semanas e 1 dia. Chegando ao hospital, foi necessário aguardar a evolução adequada, inclusive para a realização da analgesia. Com 10 centímetros de dilatação, a administração analgésica foi interrompida e o uso de ocitocina (hormônio que estimula as contrações uterinas), foi necessário.

Com contrações fortes, pude ajudar meu anjo nascer. às 12h26min nascia meu filho, lindo e saudável, que foi entregue à mim para mamar e reconhecer a mamãe. Meu parto foi lindo, perfeito, e como imaginei e idealizei. Minha recuperação foi fantástica e em menos de 24 horas depois já recebia alta.

Sou a favor do parto normal, pois acho que nós mulheres nascemos para isso, somos aptas e capazes de gerar e parir filhos da forma mais linda e natural possível. Mas isso não significa que sou contra a cesariana, que deve ser realizada quando realmente for necessária e com segurança.

O parto realizado em casa envolve muitos fatores. Respeito também, mas respeito muito mais a segurança do bebê e da mamãe. Parto humanizado, para mim, é todo parto que condiz com as expectativas e idealizações da paciente, que é conduzido com respeito e sabedoria, mas principalmente aquele que dá segurança e conforto ao bebê e a mãe.”

Caroline Battisti Kroth, cirurgiã-dentista, mãe de Gabriel, 4 anos.

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Foto: Arquivo Pessoal / Tudo & TodasJuliana e filha Carolina
Juliana e filha Carolina

“Desde o início da gravidez minha ginecologista conversava sobre os benefícios do parto normal, mas eu era irredutível: queria cesariana e ponto final. Ela dizia que até o fim iria me convencer, mas eu dizia que era impossível. Os meses foram passando e meu corpo foi se preparando para um parto normal. Com 6 meses a Carol já tinha ‘encaixado’ e então eu estava começando a aceitar a ideia do parto.

A data prevista era 18 de agosto. Eu já havia pego com a médica a requisição para a baixa hospitalar, pois estava decidida: tentaria a indução, mas se não desse certo, faria a cesariana sem aguardar mais.

Não foi bem como o planejado, pois no dia 17 de agosto de 2006, entrei em trabalho de parto em casa, por volta das 9h. Cheguei no hospital, fui para a fila de atendimento normal, porque achava que não tinha pressa, até que me passaram na frente para receber atendimento imediato. Foi feito o MAP, para verificar as contrações e confirmar que realmente eu estava em trabalho de parto.

Feito este exame, passei para outra sala, onde fiquei aguardando a médica. Assim que ela chegou, começou a verificar a dilatação, e pelas 13h fizemos a analgesia, pois eu não queria passar pelas dores do parto. Ficamos ali (meu marido me acompanhou o tempo todo!), monitorando a dilatação, e assim que atingiu os ‘9 dedos’, a médica rompeu a bolsa e fomos para a sala de parto.

O anestesista filmou o parto para que meu marido pudesse me acompanhar no processo, participando e me ajudando nos momentos de ‘fazer força’. Foi lindo! Na quarta tentativa, às 15h02min, nasceu a Carolina!

Achei o parto super tranquilo e confortável. Meu marido ficou comigo o tempo todo, e isso eu acho super importante, pois é um momento dos dois.

Juliana Mohr, bancária, mãe da Carolina, 8 anos.

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Foto: Arquivo Pessoal / Tudo & TodasAnanda com os filhos Vítor e Clara
Ananda com os filhos Vítor e Clara

“O parto humanizado não se restringe ao parto domiciliar ou ao parto normal. Ele pressupõe respeito à mãe e ao bebê, com o objetivo de garantir um nascimento cercado de amor e cuidado. Sendo assim, uma cesárea também pode ser humanizada, especialmente se ela for realizada por vontade da mulher e com a mesma ciente do processo, motivos e riscos envolvidos.

Sobre o local do parto, considero leviano chamar de ‘modismo’ o parto em casa, pois isso menospreza o sentimento de diversas mães que o escolhem por não se sentirem seguras em um hospital. Além disso, alguns países como Inglaterra e Holanda possuem uma política de incentivo ao parto domiciliar, por reconhecerem sua segurança e importância.

Muitas vezesm a decisão por um parto em casa está relacionada justamente com as rotinas hospitalares desnecessárias e com a violência obstétrica sofrida por processamentos não autorizados pela mãe ou que não levam em conta evidências científicas e pesquisas atualizadas, como a tricotomia (raspagem dos pêlos antes do parto), a lavagem intestinal pré- parto e a episiotomia (corte na região do períneo para facilitar a saída do bebê).

Concordo com a colunista da RBS quando ela diz que o que precisamos, inclusive no SUS, são vagas nas maternidades e relações mais humanas.

No entanto, completaria que também precisamos de informações embasadas (inclusive por parte da imprensa e de formadores de opinião), equipes mais preparadas para o parto normal, atenção para casos de violência obstétrica, reais indicações para uma cesárea sem interesses médicos e respeito ao próximo, sem minimizar escolhas alheias.”

Ananda Etges, jornalista e blogueira de maternidade. Mãe do Vítor, 4 anos, e da Clara, 2, ambos nascidos de parto normal no hospital.

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Foto: Arquivo Pessoal / Tudo & TodasDoutora Sandra Silberschlag
Doutora Sandra Silberschlag

Faço obstetrícia há mais de 20 anos, parto é muito mais seguro dentro do ambiente hospitalar. O idealismo do parto em casa expõe mãe e feto a um risco desnecessário. Quando engravidar, converse bem com seu obstetra

Sandra Silberschlag, médica ginecologista e obstetra. Acompanha partos desde março de 1993, e conta que nunca uma paciente lhe pediu para realizar o parto em casa. 

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E você, o que pensa sobre o assunto? Se você já teve filhos, ou pensa sobre como gostaria que fosse o momento de tê-los, compartilhe sua opinião nos comentários!