Para quem não sabe, o ballet começou exclusivamente com homens. Em 1661, o rei Luiz XIV fundou a Academia Royal de Dança, e ela era formada apenas por bailarinos homens.

E hoje trago para vocês, uma entrevista com dois bailarinos do Estúdio Développé, Junior Vian, 19 anos e João Gabriel, 6 anos. Como o João ainda é muito pequeno, as perguntas para ele foram respondias por sua mãe Mariana e seu pai Fábio.

Foto: Luiza Reckziegel / Tudo & TodasJoão Gabriel, 4 anos e Junior Vian, 19 anos.
João Gabriel, 6 anos e Junior Vian, 19 anos.

Como foi a primeira vez que você teve contato com o Ballet?

Junior: A primeira vez em que tive contato com o Ballet foi quando eu dançava jazz em 2009, eu ficava após as aulas para assistir a turma de ballet que tinha depois da minha. Mas o peimeiro contato que tive em dançar ballet foi só agora no ano de 2016 onde comecei mesmo a dançar e me apaixonar por tudo isso.

João (Mariana e Fábio): A irmã do João, a Maira, faz ballet desde os dois anos, hoje tem quase 11. O João sempre foi um menino muito alegre, cheio de imaginação e ama dançar desde que aprendeu a caminhar. Acho que muitas crianças são assim. Ele ia conosco levar a irmã na aula de dança e queria ficar. Aos três anos começou a dançar ballet. Era o único menino da escola. Pra ele foi muito natural isso de dançar. Para crianças é algo simples. Se gostam de dançar, dançam.

Você recebeu apoio quando decidir fazer aulas?

Junior: Apoio 100% não, o que escutei foi “se é isso que você quer fazer”. Mas isso só aconteceu quando eu tinha 18 anos e já podia pagar pelas minhas aulas, pois lá em 2010 eu já pedia pros meus pais para fazer e eles não me deixavam fazer. Então quando eu comecei a tomar minhas próprias decisões optei por começar a dançar novamente.

João (Mariana e Fábio): João precisa apenas saber que pode ser quem ele quiser, se sentindo seguro, feliz e apoiado em suas escolhas. Ele está se experimentando, assim como toda a criança deveria ter espaço para fazer.

Que dificuldades você já teve que enfrentar pelo fato de fazer ballet?

Junior: Como citei anteriormente, senti muita represália da parte do meu pai la quando eu ainda só tinha o desejo de iniciar, ele nunca me disse que deveria parar de dançar mas ballet na quela época não, hoje ele me apóia e vê que não tem problema em eu dançar, felizmente eu nunca sofri algum tipo de preconceito ou desmotivação para com a dança, pelo contrário sempre fui incentivado e apoiado pela maioria.

João (Mariana e Fábio): Apesar de nós termos sempre feito o esforço de descontruir estereótipos de gênero em casa, a sociedade ainda é muito sexista. O machismo é algo presente e precisa ser apontado e pontuado sempre que aparece. Para fazer uma sociedade mais justa e humana, tem que começar na educação e, mais ainda, no exemplo que damos aos filhos. Quando deixamos o João fazer ballet aos 3 anos, tivemos longas conversas entre nós e com alguns amigos sobre isso. Conversamos com ele e a irmã longamente. Perguntamos o que responderiam se alguém dissesse que ballet era coisa de menina. Maira disse que só perguntaria isso quem não conhecesse a história do ballet (que foi criado por meninos), mas João, com apenas três anos, respondeu – “Ué…. Vou dizer a verdade, que não existe coisa de menino ou de menina, que existe coisa que a gente gosta ou não gosta”.

Por qual motivo você escolheu o Ballet?

Junior: Não sei dizer ao certo, mas o ballet sempre foi me dado como referência de “a base para todas as danças”, além de ser uma arte desafiadora, intensa, cansativa, delicada e bela. Me encanta ver a sutileza de um bailarino ao saltar mais de um metro do chão e quando retorna cai como uma pluma toca ao chão, ou como ter a impressão do mesmo estar flutuando no placo. Fazer isso me é tão gratificante como assistir.

João (Mariana e Fábio): Ele está se experimentando, assim como toda a criança deveria ter espaço para fazer. Ele adora dançar.

Que mensagem de incentivo você deixa para meninos que , como você, sonham em ser bailarinos?

Junior: Não só para os que tem o sonho de ser bailarino, mas sim a todos aqueles que tem um sonho que pode ser difícil de realizar.

Nunca deixe alguém desacreditar do seu potencial, só você sabe o que é melhor pra si. Sonhar é viver e viver e acreditar que seus sonhos se tornarão realidade. Não deixe que uma piada, um não, ou um preconceito bobo faça você desistir do que quer. Dançar é maravilhoso uma hora ou outra as pessoas irão reconhecer o seu verdadeiro talento e valor.

Deixe abaixo considerações finais (algo que acha importante citar):

Junior: Nunca desista dos seus sonhos, pois são eles que fazem a sua vida andar pra frente e o mais importe, respeite o sonho dos outros pois todos temos o direito de sonhar e querer algo para nós. Como disse Baryshnikov: “Não tento dançar melhor do que ninguém. Tento apenas dançar melhor do que eu mesmo.”

Então não tente e não ache que o que você quer ou faça é melhor que o que os outros querem ou façam, apenas busque ser melhor naquilo que acredita.

João: deixem as crianças serem livres para fazerem suas escolhas. O papel dos pais é sempre o de apoiar e dar segurança aos pequenos, além de educá-los para respeitar as escolhas dos outros.

A Maitrê e Diretora do Estúdio Développé, Tatiana Lehapan de Carvalho, também deixa suas considerações finais:

Nas escolas de dança, a presença masculina ainda é problemática nas aulas de ballet Clássico, não por falta de interesse dos meninos mas pelo pressão que existe da família e sociedade. Com isso os meninos geralmente ingressam no ballet mais tarde tendo que ter um treinamento acelerado. Engana-se quem pensa que a técnica masculina do ballet é pura leveza, é necessário muito força para executar movimentos individuais e principalmente com sua partner (parceira de coreografia).

Espero que vocês tenham gostado! Beijos da Lu!