Desde criança aprendi que era preciso trabalhar com qualquer tempo. às vezes, entre choros e falta de força, os braços frágeis seguravam o arado, que uma junta de bois insistia em arrastar por entre a plantação. Ao longe ouvia um grito: “Segura firme, segura firme”. Em muitos agostos, isso se repetiu. Palavras que ecoavam a cada tarefa executada, ou mal executada. Duas palavras, em estribilho, que foram se transformando em mantra. E que renovavam as forças para cada novo desafio, ao longo dos anos, entre sonhos e realizações.
Vieram os setembros, muitos setembros – lindas primaveras – com o colorido das flores e a renovação dos sonhos. Sonhos de criança, guardados em um cantinho da alma. A beleza de cada um aumentava, e crescia à medida do tempo, contrastando com a realidade urbana. Aprender todas as tarefas era uma questão de sobrevivência. E, não apenas as domésticas. éramos ensinados a exercer múltiplas tarefas. Entretanto, para cada atividade a exigência era máxima. Nas mais simples, “capricho” era a palavra de ordem. Por outro lado, esta exigência se constituía em incentivo à execução, à educação e o respeito.
Muitas décadas se passaram. Novamente, um agosto. Em meio às lembranças das raízes, as tecnologias do presente, a certeza de que “jamais devemos desistir de nossos sonhos. Ao mesmo tempo a emoção de ouvir o mantra. Mas desta vez: “segura firme a máquina e vai”. Significado, que transcendeu o tempo, alimentou a alma. E, neste agosto, mais uma vez, durante o acendimento da Chama Crioula, em Cruz Alta, a certeza de que podemos realizar nossos sonhos a qualquer tempo. Cada um – no seu tempo – nos é dado para viver com intensidade, na proporção que deles nos apropriarmos, com trabalho e determinação.
As grandes invenções que um dia foram pensamentos, acreditos por alguém chegaram até nós.