Foto: Reprodução / Se essa rua fosse minhaE ai, como você se sente? - Esse é um dos questionamentos que a página faz
E ai, como você se sente? – Esse é um dos questionamentos que a página faz

Conversando ontem à tarde com alguns colegas sobre os acontecimentos das últimas semanas e, especialmente, sobre esse post da Ana Flávia, me deparei com os seguintes pensamentos: “ei, já passei por isso” e “por que será que isso acontece?”. 

Para entender melhor do que esse post se trata, é preciso compreender alguns pontos e o mais importante é sobre esse texto (leia apenas se você estiver com o estômago forte e preparado para ficar de boca aberta e revoltada com as pessoas). Agora que você leu, podemos conversar ‘cara a cara’.

Antes de qualquer outra coisa, aqui vai meu desabafo (e meu medo, claro): Tenho medo, e muito, de andar sozinha nas ruas. Não interessa o horário. Gelo, tremo e olho paras os lados descontroladamente. E isso tem motivo. Faço faculdade de manhã e normalmente sou a última a descer do ônibus. Optei, durante muito tempo, por permanecer no ônibus e fazer o caminho mais longo e descer em uma parada movimentada, onde o percurso até em cada fosse repleto de pessoas e casas com portas e janelas abertas.

Porém, com a correria e a dependência de mais um ônibus para ir trabalhar, meu horário era apertado. Por isso, resolvi mudar – e me arriscar. Desço mais cedo, porém em uma parada mais longe de casa. Caminho mais, mas chego mais cedo em casa. Agora, o problema disso tudo: esse novo percurso é deserto, com poucas casas, algumas ainda em construção e muitas ou com aspecto de abandono.

Isso tudo, por si só, já me apavora. Mas, tem mais. Certo dia, por volta das 11h50min estou caminhando e percebo que uma moto está mais devagar e ‘me seguindo’. Me apavoro. Começo a pensar em muitas coisas, como ‘vão me estuprar’, ‘vão me roubar’, ‘vão me matar’. Começo a caminhar mais rápido e a moto continua a me acompanhar. Acelero o passo. A moto passa devagar e os dois passageiros me olham de cima a baixo, duas, três, quatro vezes e, por fim, aceleram e vão embora.

Depois que tudo isso passou, me questiono a respeito de muitas coisas. Foi exagero meu? Os caras estavam me ‘seguindo’ ou me analisando? Estavam refletindo sobre a minha rotina? Pensaram em fazer algo ou simplesmente também estavam fazendo seu caminho até em casa e ficaram curiosos? O que eu poderia ter feito? E se eles tentassem algo? Enfim, tive medo, tenho medo e, pelo jeito, esse sentimento ficará comigo.

*** 

Agora, meus questionamentos sobre isso e todo o resto que vem ocorrendo: POR QUê? QUAL O MOTIVO? A RAZãO? O SENTIMENTO? O que leva um homem, ou dois, ou três ou dez a acordarem pela manhã, levantarem, lavarem o rosto, se olharem no espelho e pensarem ‘hmm, acho que hoje vou estuprar uma menina/mulher na rua’. O que leva um ser humano, que deveria pensar na igualdade e no próximo como um ser semelhante e que precisa de respeito, a estuprar, maltratar, roubar, violentar ou violar outra pessoa?

Não, pra mim não existe explicação ou justificativa. Não existe nada nesse mundo, ou em qualquer outro planeta e galáxia, que vá me fazer acreditar e me convencer de que existe um motivo ou uma razão para tal ato. Não existe e isso precisa ficar claro, ciente na mente (às vezes pequena) das pessoas. 

Até quando, milhares de mulheres terão que se silenciar por medo de represália, de opinião alheia ou do pré-conceito da sociedade? Até quando teremos que ouvir das pessoas que deveriam nos proteger ou prestar algum tipo de auxílio, por menor que seja, que devemos comprar um spray de pimenta ou procurar um jornal/rádio da cidade, pois só assim seremos ouvidas e vistas? 

Até quando as mulheres, terão que se calar porque foram vítimas de violência doméstica e quando foram denunciar, aquele sujeito (que não merece ser chamado de marido, amigo ou companheiro) ameaçou seus filhos ou familiares? Ou, ainda, terão que aguentar o sorrisinho daquele profissional de um ‘órgão de segurança’ que mais parece um deboche descarado e que diz ‘bem feito, mereceu’?

Até quando nós, mulheres, teremos que cuidar o que vestimos por medo de sermos julgadas ou violentadas em praça pública? Até quando teremos que ouvir aqueles absurdos, já conhecidos, de que ‘mulher que usa roupa curta merece ser estuprada’, ‘ai, tá com roupa provocante, então pediu para que isso acontecesse’, ‘se tivesse ficado em casa, na frente do fogão isso não teria acontecido’?

São perguntas que permanecem sem respostas, mas que revoltam, machucam e nos faz pensar sobre o caminho que a humanidade está tomando. Não é possível continuar com os olhos fechados, como algumas pessoas ainda fazem, é preciso mostrar, compartilhar e tornar visível nossos medos.

Já passou por algo assim? Quer compartilhar esse medo e pavor, mas sem se expor? Existe uma página no Facebook chamada ‘Se essa rua fosse minha’, que pode te ajudar. Clique AQUI e conheça um pouco mais.