Quem nunca teve vontade de chorar? De ficar aos prantos por qualquer motivo bobo, extravasando os sentimentos e colocando para fora angústias e frustrações? Thomaz fez isso hoje cedo, com todo o seu talento e competência.
Adoro as dicas de profissionais que orientam a não perder o autocontrole, não se alterar, não gritar, apenas ignorar o escândalo e manter a firmeza das decisões.
Quase gabaritei.
A caminho da escola, o menino, que havia acordado antes das seis da matina e já tinha brincado muito, sozinho, comigo e com o irmão, seguia feliz em direção a sua grande responsabilidade do dia, quando lembrou de um detalhe que acionou todo o seu poder dramático.
– Mãe, tu trouxe meus DVDs de heróis?
Respirei fundo e já imaginei o desfecho. Com medo de que se estragassem ou que fossem extraviados, no dia anterior, havia guardado dentro de casa todos os DVDs que estavam espalhados pelo carro, oito no total. Onde eu estava com a cabeça ao tomar uma atitude dessas?
– Não, filho, a mãe deixou em casa, amanhã tu traz.
– Mas eu quero hoje.
Fui firme, sem perder o autocontrole.
– Hoje não vai dar.
– Mas tu tem que buscar para mim ou não vou na escola.
– Vai, sim.
Estacionei o carro e o menino já se escondeu.
– Não vou sair daqui até tu buscar os DVDs.
Fui firme, sem perder o autocontrole.
– Vamos, filho, a mãe precisa trabalhar.
Nada de funcionar a negociação, tive que acabar tirando o menino à força de dentro do carro. Aquela atrapalhação toda de pendurar mochila no ombro, catar gurizinho no meio dos bancos, cuidar para não deixar a chave do carro cair no chão e acomodar, com toda a calma do mundo, meu pequeno rebelde sem causa no colo.
– Vamos, filhote, que o dia ainda vai ser longo e amanhã trazemos todos os DVDs que quiser.
Alguns minutos de tratativas depois, sem conseguir convencer, deixei meu menino na sala chorando. Mantive minha decisão, com firmeza e autocontrole, mas com o coração apertado em nível doze.
Resolvi me esconder, como fazia na época da adaptação, e ver quanto tempo durava o choro. Fiquei naquela de fazer ou não a vontade do pequeno. Esperei um, dois, cinco, dez minutos, e nada parecia ser capaz de o acalmar. Racionalmente, eu não queria ceder, pois meu lado direito do cérebro estava avisando que se eu fizesse o que ele queria, entenderia que chorando, leva. Mas Thomaz não compreende sobre agenda de adultos, e parece tão simples para a mãe buscar seus DVDs favoritos em casa, que o anjinho estacionado no meu ombro esquerdo me fez dar o braço a torcer.
Cedi, sim, deixei de ser firme e perdi o autocontrole. Assumi minha condição humana sujeita à imperfeição e fiz o que meu coração mandava naquele momento.
– Ufa, que alívio.
Entrei no carro, fui até em casa e, em poucos minutos, estava de volta. Ainda aos prantos, com o rosto e os olhos vermelhos, exausto do choro, o garoto me enxergou, veio até mim e, no abraço mais gostoso do mundo, limpou o rosto na minha camisa e suspirou aliviado:
– Mãe, eu não tinha te dado um beijo.
A briga havia sido tão grande que Thomaz não cumpriu o ritual diário de quando o deixo na escola. Beijo, abraço e tchau. Mais um beijo, abraço e tchau. Sua frustração pela falta dos DVDs o tornou tão alterado que me deixou sair sem se despedir. O que talvez o tenha feito chorar desesperadamente.
Perdi pontos no manual da mãe exemplar, mas ganhei a confiança de meu pequeno que, sem falar nada, me olhou com a certeza de que ele sabia que eu não o deixaria chorando. E a esse ponto, eu não deixaria mesmo.
Já fiz isso, principalmente quando estava em período de adaptação na escola, quando tive que o deixar as primeiras vezes com a babá. Mas hoje me deu um aperto, uma convicção de que ceder, às vezes, também nos coloca em uma condição de humanidade. E tenho certeza que para as crianças isso também é importante, perceber que a sua Mulher Maravilha também está sujeita a falhas e incertezas. Eu, sim. Quem não?