Todo dia a mesma confusão se armava. Thomaz querendo X-box, Bruno querendo Sky e eu querendo sossego.
Tentei colocar regras, horários, dias. Com o mais velho funcionou perfeitamente, com o Thomaz, só gerou mais confusão. O pequeno ainda não sabe o que é segunda ou terça e marca tudo o que quer, ou não quer fazer, para quarta-feira. Acha que amanhã é sempre de manhã e todos os dias pergunta se tem aula de novo.
– Mãe, né que já é de manhã?
– Pai, na quarta-feira vou no mercado contigo.
– Hoje é dia de aula?
A lógica dos adultos nem sempre funciona para os pequenos. E não é porque não querem, mas porque funcionam com outros parâmetros.
Comecei a me incomodar com minha incapacidade de organizar as atividades. Thomaz simplesmente berrava quando proibido. Chorava, batia a porta, reclamava. Chegou a atirar o joystick no chão várias vezes.
– Vai quebrar!!! A mãe não vai mais te deixar jogar X-box.
Mas como sei, por experiência própria, que as crianças passam por fases e que as fases passam pelas crianças, às vezes até do dia para a noite, respiro fundo e não aumento o problema. Vou me dando um tempo para assimilar melhor a questão e encontrar alternativas.
E elas estavam na frente dos meus olhos. Decidi mudar a rotina. Decidi me dedicar mais. Não com restrições, mas com novas possibilidades. Sem proibir, sem reclamar, simplesmente aproveitei a deixa e, ao ver meu menino grande recortando figuras em folhas de papel, lembrei da minha infância. Busquei revistas velhas e comecei a exercitar minhas poucas habilidades com origamis, ou dobraduras, melhor dizendo, que aprendi com minha mãe.
Sentamos no chão e começamos a fabricar aviões, planadores, jatos, barcos, chapéus e outras coisas que nem sei bem o que são. Logo, a brincadeira real se tornou mais atrativa do que o conflito virtual entre os legos Lucky Skywalker e Darth Vader. Thomaz juntou-se a nós e nos divertimos juntos. Nem lembro se a TV ficou ou não ligada.
No dia seguinte, recorremos às peças coloridas de madeira, montamos castelos e até fases do jogo preferido do X-box, pegamos bonecos Playmobill e outros da Imaginext, e a batalha, que antes acontecia na tela, passou a ser travada no tapete da sala.
No terceiro dia, um robô gigante com cabeça de elefante foi a atração da noite, com peças de plástico encaixáveis que Bruno ganhou no seu primeiro aniversário.
Aos poucos, as novas possibilidades e aquelas que estamos revisitando, vão te tornando tão legais que o videogame vai perdendo seu espaço. Não está esquecido, mas vem deixando de ser a atração principal. Quando vejo, sem eu pedir ou falar, Thomaz corre e desliga o aparelho:
– Mãe, vem me ajudar a escolher um brinquedo.
Adentramos em suas gavetas. Vasculhamos seus armários. E em cada caixa, um milhão de possibilidades de brincadeiras novas, porque o que menos importa é o brinquedo. O que vale mesmo é nossa capacidade de imaginar. E isso não falta em nossa casa.
Quer tentar também?