
Em uma noite, dessas de inverno, cheguei em casa. Cansada, após um longo dia de serviço. Amo o que faço, mas o cansaço é inevitável muitas vezes. Jantei e fui lavar a louça.
De repente, minha mãe me chamou e disse que gostaria de ver no computador informações sobre alguns benefícios de um chá. Larguei as louças, as quais eu segurava e me desloquei até o computador para ajudá-la. Então eu disse:
– Mãe, eu já havia te ensinado a mexer no notebook e, por isso, vou apenas te mostrar algumas coisas. O resto você vai conseguir, não precisa ter medo de clicar nas coisas, não irá estragar nada.
Com calma, mostrei e ensineia ela, o que fazer. Voltei a lavar a louça. Pertinho de mim, ela estava sentada em frente ao notebook, que, em sua visão, parecia algo complicado, confuso e complexo. Só ouvi:
-Filha, eu não sei se vou conseguir.
Eu respondi: -Vai sim mãe, não precisa ter medo.
Eu lavava a louça e ela mexia ‘naquela coisa estranha.’ Fiquei olhando para ela. Via seus dedinhos vagarosamente se deslocando de uma tecla para a outra. Coisa que eu, acostumada, faço muito mais rápido. Preocupada e com medo de fazer algo errado, questionava cada coisa que aparecia naquele ‘mundo virtual.’
Terminei de lavar a louça e fui tomar um banho. Ela continuou no local onde estava. Depois disso, parei para pensar em algumas coisas. Minha mãe tanto me ensinou. Transmitiu-me valores, cuidou sempre de mim. Ensinou-me a ter ética, caráter, comprometimento, responsabilidade. Ensinou-me o que é SER humano de verdade.
Por que não ensiná-la algo também? Nem que eu queira explicar parte deste ‘mundo virtual’, não representará nem metade do que ela me ensinou sobre VALORES, sentimentos ímpares.
Quantas pessoas nesse mundo chamam seus pais de desatualizados, burros, seres da pré-história e ignorantes por não saberem mexer em computadores, celulares, tablets e notebooks? Mas será que todos nós já paramos para pensar se isso é ao menos um terço de tudo o que eles nos ensinaram e transmitiram no decorrer de nossas vidas?

Quantas pessoas deixam de conversar, fazer amizades, conhecer histórias incríveis do próximoem um ônibus, por exemplo, porque simplesmente só pensam e querem mexer no celular? Quanto conhecimento,valores e cultura deixamos de adquirir por nos comunicarmos mais com as pessoas virtualmente do que pessoalmente?
Por que chamarmos nossos pais de desatualizados e burros, quando, na verdade, eles fizeram de tudo para nos oferecerem estudo de qualidade, pois, quando crianças, não tiveram a oportunidade de ter? Por que chamarmos eles de ignorantes por não saberem mexer em um computador? Enquanto nós tivemos tempo para mexer nessa ferramenta, eles estavam trabalhando para conseguirem pagá-la.
Muitas vezes, julgamos as pessoas e não analisamos os dois lados da moeda. é muito mais fácil criticar, mas são poucos os seres humanos que se dão ao trabalho de escutar e analisar o que se passa na vida do próximo.
Quanto mais moderno e virtual esse mundo fica, menos pessoas falam umas com as outras, mais conhecimento e cultura são desperdiçados. Quanto mais tecnologias surgem no mercado, mais acomodadas e preguiçosas algumas pessoas ficam. Menos conversas olho no olho se vê, mais vidas perfeitas e maravilhosas são conferidas nas redes sociais e mais pessoas caladas, sem assunto, com um celular na mão, se encontra nesse mundo.
Questiono-me muitas vezes, sobre muitas coisas. Muitos itens, equipamentos e ferramentas modernas surgiram nos últimos anos, mas parece que, com isso, menos algumas pessoas crescem como seres humanos.
A vida é tão curta, nossos pais não são eternos, ninguém é. Que tenhamos então paciência, calma, e que sejamos capazes de ao menos nos darmos o trabalho de ensinar aos nossos pais 0,2% dos 100% cheio de valores que eles nos ensinaram!