Passaporte sanitário: os dilemas éticos e logísticos do novo documento

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PÉ NA ESTRADA

Por Ana Flávia Hantt*

À medida em que a vacinação avança nos países, aumenta também o debate sobre o passaporte sanitário, ou seja, um documento digital que atesta a imunização de uma pessoa contra o coronavírus. Essa medida pode garantir a retomada das viagens internacionais e também a abertura de outros setores da economia, como shows, festivais, cinemas e teatros.

Países como Islândia, Polônia, Belize, Estônia, Ilhas Seychelles, Tailândia e Austrália, além da União Europeia, já anunciaram que trabalham com a formatação desse modelo. Cerca de quinze companhias aéreas e de cruzeiros também já anunciaram a medida.

Embora a estratégia faça muito sentido em vários aspectos – afinal, seria incrível ir a uma sala de cinema lotada, sabendo que todos ali estão vacinados – a medida também tem sido apontada como discriminatória. Isso, porque muitas pessoas não receberão a vacina – gestantes, indivíduos que apresentem reações alérgicas ou mesmo quem faz essa opção por motivos religiosos ou políticos. Também é preciso considerar a disparidade entre o ritmo de vacinação nos países: enquanto Israel, Reino Unido e os Estados Unidos prometem vacinar toda a população adulta até a metade do ano, outros projetam atingir essa meta apenas ao fim de 2021, que é o caso do Brasil. Mesmo países ricos e pequenos em população, como a Nova Zelândia, devem levar cerca de um ano para completar o processo.

Outro ponto de interrogação diz respeito a possível dificuldade em atender aos requisitos do passaporte sanitário. A União Europeia, por exemplo, deve garantir a circulação de pessoas imunizadas apenas com as vacinas aprovadas pela Agência Europeia de Medicamentos: BioNTech/Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen. No Brasil, grande parte da população está sendo vacinada com a Coronavac, desenvolvida pela companhia biofarmacêutica chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan. Além disso, o governo do estado pleiteia a compra da russa Sputnik V e a Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas negocia a aquisição da Covaxin, do laboratório indiano Bharat Biotech.

Caso a adoção dos passaportes sanitários se confirmem nestes termos, a abertura de fronteiras internacionais pode atrasar ainda por muitos meses e seguir por 2022. Independente disso, o importante é que a vacinação avance. Seja no mercado doméstico ou no exterior, essa é a única forma de, mais cedo ou mais tarde, retomarmos o turismo.

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