Estatísticas apontam que uma em cada cinco mulheres, ao longo da vida, sofrerá algum tipo de violência. O dado é assustador quando transportamos a informação para a nossa realidade, e pensamos que alguma das amigas, colegas de trabalho, primas e tias, além de nós mesmas, sofrerá com abuso sexual, agressão doméstica ou psicológica.

E isso nos lembra que as mulheres só estão expostas à essa vulnerabilidade porque existe um agente externo que se acha no direito de usar sua força e vantagem evolutiva para violentar ou intimidar. é claro que a generalização seria muito injusta (afinal, há muitos homens decentes por aí), mas há uma boa parcela que poderia voltar para as cavernas e, de lá, nunca mais sair.

Foto: Divulgação / Tudo & TodasUma em cada cinco mulheres sofrerá algum tipo de violência ao longo da vida
Uma em cada cinco mulheres sofrerá algum tipo de violência ao longo da vida

Segundo a psicóloga Adriana Oswald, autora da coluna Uma Colher de Açúcar, o comportamento violento masculino é uma questão cultural, passada a cada geração dentro das famílias. Acompanhe a entrevista e saiba mais sobre a opinião da profissional:

>> Por que é tão comum vermos casos de homens sendo violentos com as mulheres? De onde vem esse ímpeto?

O comportamento violento contra mulheres, em sua grande maioria, é um comportamento aprendido culturalmente. Na história da evolução do homem, é possível perceber que a mulher era considerada um ser inferior, portanto, este tinha a possibilidade de dominá-la, pois ela precisava dele para sobreviver e criar os filhos. Por muito tempo foi isso que aconteceu em muitas culturas e ainda acontece. Em muitas culturas a mulher ainda tem valor diminuído em relação ao homem.

A violência pode ser resultante de um ato impulsivo, o qual o homem não vê motivo para inibir ou controlar. Normalmente, este comportamento de agir com violência contra as mulheres são repassados entre gerações, onde o filho, que tem o pai, o avô, o tio, etc, como referência, entende que isto é normal, já que existe a crença de que a mulher precisa ser submissa ao homem, devendo respeito, deferência e obediência.

Na história da evolução do homem, alguns estudos indicam que a agressividade é resultante do homem primitivo que vivia da luta e da caça. Homens e mulheres tem comportamento agressivos, porém, culturalmente parece que o homem sente um direito maior de usar a violência física como forma de punição.

>> Por que alguns homens não conseguem controlar esse ímpeto violento?

A dificuldade de controlar ou não esse comportamento tem a ver com o grau de tolerância de cada ser humano, com a capacidade de redirecionar este impulso ou não. Porém, tem a ver também com a permissividade. Apesar das políticas de proteção à mulher estarem avançando, penso que é necessário trabalhar com as estruturas familiares doentes, onde os meninos não aprendam mais que agir com violência contra as mulheres é possível e natural. Precisamos conscientizar as meninas, mães, vizinhas e tias de que elas não precisam viver essa violência e que isso não é natural também.

>> O que deveria ser feito para que os homens tivessem um comportamento diferente?

Agir nas estruturas familiares doentes, onde muitas vezes estas crenças se propagam, e construir movimentos pensantes que sejam capazes de romper com este modelo, seriam projetos interessantes e formadores de uma nova realidade.

Vale lembrar que é para abordar este tipo de assunto, e também para promover ações práticas, que o T&T criou a seção RespeitAme. Acompanhe nossas postagens e nos ajude a formar uma rede de conscientização e direitos iguais entre os gêneros.