Eles te conceberam, cuidaram, educaram, criaram. Te carregaram. Os pais são os principais exemplos, os braços que ajuntam, as palavras que aconselham, os passos que guiam. Que passam noites em claro preocupados com a febre que não baixa, que não dormem enquanto não voltamos para casa da balada.
A gente cresce, eles envelhecem, mas na cabeça deles, ainda somos aquela criança que precisa cuidados. Mas enganam-se eles, que na verdade não percebem que nos tornamos adultos e que eles envelheceram. Está ali, nos fios de cabelo branco, basta ver.
Com tempo os papéis se invertem. Não é preciso esperar muito. Logo é você que começa a compartilhar com eles as novas receitas de viver e que eles não conhecem. Logo eles deixam de ensinar o que aprenderam ‘no tempo deles’ e mostramos o que o nosso tempo ensina e exige. é….logo, às vezes cedo demais, você acumula a função de filha e ‘mãe’ da casa. As contas, as compras, as consultas médicas, a ligação para a operadora telefônica, o planejamento das férias, da festa de fim de ano passam a ser responsabilidade dos filhos.
Hoje me sinto, muitas vezes, a mãe dos meus pais. Isso mesmo, mãe. Mas uma mãe diferente. Uma mãe que não educa nem cria, apenas, cuida e ama. Um cuidar que nos faz sofrer junto, achar graça do mais simples, a abrir mão de momentos para estar junto. Se antes eram eles que me ligavam o tempo todo para saber como e onde eu estava, hoje o papel inverteu. Se antes eram eles que marcavam a consulta médica para mim, agora eu que aviso:
– Vou te levar para o médico hoje mesmo!
Se antes eram eles que sentavam comigo para conversar e puxar um papo sério, agora este alguém é eu. Se antes eram eles que não dormiam preocupados, agora sou eu. Se antes eram eles que falavam comigo sobre se preparar para o futuro, agora sou eu, falando de aposentadoria e saúde.
Desde o ano passado, principalmente, estou vivendo essa nova fase: ser mãe dos meus pais. Foi a primeira vez que, de fato, entendi que o papel de filha é ser mãe, também. Foi quando percebi que depois de todos esses mais de vinte anos, era chegada a minha vez de assumir o posto e retribuir, sem precisar esperar que eles sejam idosos e indefesos. Pelo contrário, meus pais são muito jovens, ativos e cheios de sonhos.
Mas foi neste período que comecei a virar noites para cuidá-los, correr atrás de médicos, marcar com a caneta os horários de medicamentos nas caixas, acalentar a dor, dar uma de pscicóloga. Foi neste momento que entrou um discurso de quem se entrega e não de filha que pede colo.
O aprendizado só cresce a cada compromisso assumido. Nos últimos meses tive que aprender a administrar o tempo e incluir OS PAIS entre minhas tarefas. Até mesmo, ‘tocar’ a monografia de dentro de um quarto de hospital, mas só depois que ELA conseguisse dormir. Ensinar que preocupação é coisa da cabeça e não vai mudar a ordem das coisas e que não desistir é o melhor dos remédios. Aprendi a sentar junto com ELE e explicar coisas do mundo moderno, a dizer que o remédio é ruim, mas pior é não usá-lo.
Ganhei em responsabilidade. Sim, nesta história toda eu fui a que mais ganhei. Como é bom saber que eles precisam de mim. E querem saber mais? Espero que precisem de mim por muito, muito tempo ainda. Sempre que precisarem, sempre que quiserem, sempre, para sempre!