Foto: Paula Carvalho / Tudo e TodasJá escolhi meu cabo eleitoral
Já escolhi meu cabo eleitoral

Lá estão eles, na TV, nos jornais, nas ruas. Prometendo coisas, pedindo votos, mostrando números com as mãos, fazendo gracinhas. Uns fofos. Cada um com sua estratégia, mais de 20 mil candidatos disputaram cargos políticos neste pleito, que como bem sabemos, ainda não está encerrado. 

De casa, as crianças acompanham com curiosidade. O que aconteceu com a PROGRAMAÇÃO da TV? De quem são essas figurinhas estampadas no jornal? Por que tanta cartinha na caixa do Correio? Aos poucos, passam a se envolver e a compreender o processo democrático.

– Mãe, em quem tu vai votar?

E lá vai Bruno, opinando, escolhendo candidatos, acredito que mais pelos jingles do que por qualquer outro motivo. Mas começa a entender nosso sistema político, começa a mostrar que faz parte, que quer fazer.

– Mãe, também posso votar?

– Ainda não, filho.

– Mas eu quero. Faz um título para mim.

– Criança não pode.

– Por quê?

Como responder? Talvez porque são puros demais para entrar num processo em que é difícil passar por ele sem sujar as mãos. Não questiono a democracia, nem vou aqui fazer acusações. Mas o processo é torto. São candidatos demais e critérios de menos para imprimir santinhos. Tinha que haver prova de seleção rígida para os candidatos, como se estivessem entrando para exercer um cargo de suma importância em uma grande empresa. A maior de nosso país. O próprio país.

Eleição vira brincadeira, basta acompanhar os debates e o horário eleitoral gratuito. Tem marmelada, tem goiabada, e o palhaço quem é? Tínhamos que ter menos gente concorrendo. Menos gente se elegendo e mais gente trabalhando. Tínhamos que ter condições de acessar a internet e encontrar os currículos dos candidatos, isentos de adjetivos, apenas com o perfil, as qualificações, as realizações e também aquela parte que omitem e não aparece no plano de campanha. Depois, o psicotécnico, uma prova prática, uma dinâmica de grupo e a entrevista de seleção. Queria ver se estivessem concorrendo a vagas numa empresa com processo seletivo profissionalizado.

Nunca almejei cargo político. Sequer cogitei algum dia. Mas envolvido com a temática mais discutida da atualidade, Bruno teve uma ideia. 

– Mãe, tu poderia se candidatar a Presidente.

Acho que, assim como eu, ele estava com dificuldade de escolher um candidato. Achei graça, mas ele continuou.

– Pensa, mãe: Eu, o mano, o pai, a vó, o vô, o dindo… Tanta gente ia votar em ti. Acho que tu ganhava.

No meio de tanta incerteza, Bruno entendeu que precisava de um político em quem confiasse para assumir tamanha responsabilidade. Lembrou de mim (querido). Também gostaria de ter a convicção dele na hora do voto. Mas já que não vai dar, vou assim mesmo, esperando que um dia a gente possa escolher com menos circo e mais profissionalismo nossos representantes. Até lá, vamos do jeito que dá, tendo a certeza de que no fim das coisas, para o sucesso ou fracasso, importam mesmo as nossas atitudes em relação à vida. Não as dos outros.

Não há governo que resolva quando as pessoas não se ajudam. E não há governo que derrube quem tem iniciativa e responsabilidade por seus próprios atos.

– Entenderam, crianças?