Foto: Paula Carvalho / Tudo e TodasThomaz e seu mágico mundo de heróis e vilões
Thomaz e seu mágico mundo de heróis e vilões

Foi numa madrugada qualquer, perto da hora de acordar, quando ouvi o barulho. Daqueles que deixam o corpo da gente imóvel, desobediente. Vinha da parte debaixo da casa. 

– Eu não vou lá sozinha. 

Esperei a companhia do Cristiano para descer. Thomaz estava em nosso quarto, aguardando a mamadeira. 

Descemos. Descobrimos uma janela que havia ficado aberta e um objeto caído. Ação do vento, do tempo, de algo largado sem cuidado. E só. 

Preparei a mamadeira e subi. Meu pequeno aguardava ansioso. E eu, que achei que o sonolento garoto nem tinha entendido sobre meus medos, fiquei surpresa quando ele me perguntou:

– Né, mãe, que Lobo Mau não existe?

– Claro que não. 

– Nem Papão e nem bruxa, né? 

– é, meu querido. Nada disso existe. 

– Nem gente malvada, né mãe? 

Agora, Thomaz me pegou. 

– Olha, filho, gente malvada existe. 

– Mas que tipo de malvadeza? 

Como responder?? Depois de pensar muito, resolvi simplificar. 

– São os ladrões. Eles roubam coisas de outras pessoas. 

– Ah, tá. E tem mais algum tipo de pessoas malvadas? 

Não tive coragem de me estender sobre as maldades do mundo. 

– Não, meu amor. A mãe só lembra dos ladrões mesmo. 

Thomaz ainda não está pronto para ouvir sobre as coisas que nunca estaremos prontos para contar. Por enquanto, deixo meu pequeno fantasiar suas batalhas contra os vilões da ficção.

Protejo por mais alguns anos a inocência. Disfarço meus medos e o acolho em meus braços. Mais um dia está prestes a se iniciar. E que encontremos muito mais bondades do que maldades em nossos caminhos.

E fim.