PÉ NA ESTRADA
Esta coluna está sendo escrita diretamente do bairro Glória, no Rio de Janeiro, onde passo alguns dias. A última vez em que estive na capital carioca havia sido em 2014 e, na ocasião, concentrei-me nas atrações turísticas mais tradicionais. Desta vez, o objetivo é outro: misturar-se aos locais.
O bairro Glória fica localizado entre a Lapa e o Aterro do Flamengo, na Zona Sul da cidade. É um bairro histórico, fundado pelos franceses, cujos moradores pertencem à classe média. Não há luxos. Os prédios são antigos e pixados e há um número considerável de moradores de rua na área. Ainda assim, é possível ver idosos indo ao supermercado ou passeando com animais de estimação.
Uma coisa é unanimidade entre os locais, no entanto: a segurança é a maior fragilidade do Rio. Evitar andar à noite pelas ruas, não ostentar o celular e outros eletrônicos, e ter sempre um dinheiro no bolso para o pedinte/assalto, são algumas dicas que recebi. Curiosamente, esse discurso vem de quem mora no ‘asfalto’. Nesta semana, estive todas as tardes voluntariando no Morro Tabajaras, a favela localizada em Copacabana. Quando perguntei sobre haver riscos para ‘subir’ e ‘descer’ o morro, a resposta foi: “Não tem problema nenhum. Pode vir bem tranquila. Nunca acontece nada aqui.” De fato, só recebi cumprimentos cordiais nos 900 metros de ladeiras e escadas estreitíssimas.
O que chama a atenção, contudo, em qualquer lugar do Rio, é a atitude ostensiva da polícia. Guardas e patrulhas civis estão por todos os lugares, além da polícia militar — que anda com fuzis para fora do carro, mesmo em locais elitizados como o Leblon.
A impressão que fica é de uma cidade extremamente dividida entre ricos e pobres, privilegiados e desfavorecidos, criminosos e vítimas. Nada que faça o visitante — e boa parte dos locais — mudarem de opinião: o Rio continua lindo. (Por Ana Flávia Hantt/ana.hantt@gmail.com).
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