Já era de se imaginar que a cerimônia do Oscar 2016 tivesse reações, frente aos últimos comentários e ao chamado boicote dos negros. Pois a polêmica foi maior do que se esperava e divide as opiniões dos públicos.

Entenda o o que ocorreu

Pelo segundo ano consecutivo, nenhum ator negro estava na lista de indicados ao Oscar. Quando foram anunciadas as indicações, o diretor Spike Lee e a atriz Jada Pinkett Smith, já falaram sobre boicote à cerimônia.

Foto: Divulgação / InternetWill Smith, Spike Lee, Snoop Dogg e Jada Pinkett-Smith anunciam que iriam boicotar/não participar da premiação do Oscar 2016 por conta da falta de negros entre os indicados
Will Smith, Spike Lee, Snoop Dogg e Jada Pinkett-Smith não participaram da premiação do Oscar 2016 por conta da falta de negros entre os indicados

Mas a incógnita que rondava era sobre como seria a postura do apresentador Chris Rock, negro, ator e comediante.

Sem papas na língua, Chris soltou o verbo, abusando das frases irônicas já no início da noite de premiações. Durante o monólogo de abertura, ele começou a alfinetar.

Foto: Divulgação / InternetChris Rock já havia apresentado o Oscar em 2005
Chris Rock já havia apresentado o Oscar em 2005

Após mostrarem no telão trechos de lançamentos de filmes, ele disse:

Cara, eu contei 15 pessoas negras nessa montagem… se eles nomeassem apresentadores eu nunca teria esse emprego. Estaria assistindo Neil Patrick Harris agora”.

E foi só o começo. Se por um lado não haviam negros entre os cotados para receber a estatueta, por outro, muitos deles realizaram a entrega aos felizardos. Em diversas oportunidades, houve desabafos públicos.

Hegemonia brancaUma das justificativas atribuídas à ausência de negros nas indicações é o fato de que, dos mais de 5,7 mil votantes, pessoas que decidem os indicados ao Oscar, 94% são brancos. Considerando a história destas 86 edições do Oscar, foram mais de 300 atores e atrizes brancos que já venceram nas categorias principais de atuação. Em contrapartida, apenas 15 negros estiveram entre os premiados.

Foto: Divulgação / InternetIndicados na categoria de Melhor Ator e Atriz, a partir do alto e da esquerda: Bryan Cranston, Matt Damon, Michael Fassbender, Eddie Redmayne, Leonardo DiCaprio, Brie Larson, Saoirse Ronan, Charlotte Rampling, Jennifer Lawrence, Cate Blanchett, Mark Rylance, Christian Bale, Tom Hardy,  Sylvester Stallone, Mark Ruffalo, Alicia Vikander, Rachel McAdams, Rooney Mara, Kate Winslet e Jennifer Jason Leigh.
Indicados na categoria de Melhor Ator e Atriz 2016, a partir do alto e da esquerda: Bryan Cranston, Matt Damon, Michael Fassbender, Eddie Redmayne, Leonardo DiCaprio, Brie Larson, Saoirse Ronan, Charlotte Rampling, Jennifer Lawrence, Cate Blanchett, Mark Rylance, Christian Bale, Tom Hardy, Sylvester Stallone, Mark Ruffalo, Alicia Vikander, Rachel McAdams, Rooney Mara, Kate Winslet e Jennifer Jason Leigh.

No entanto, acho a Academia não pode ~ no meu ver ~ ser considerada racista. Afinal, a própria presidente, Cheryl Boone, é negra. E ela, como primeira mulher negra a ocupar o cargo, foi uma das que também lamentou o episódio. 

Foto: Divulgação / InternetCheryl quer promover a diversidade
Cheryl quer promover a diversidade

Por falar em presidente, até Barack Obama questionou sobre se existe, de fato, as mesmas oportunidades a brancos e negros.

Vitória, ainda que lenta

Diferente de alguns anos atrás, hoje já se vê com mais frequência negros protagonizando em papeis que não são apenas escravos, camareiras, empregados e babás. Temos negros interpretando papéis que fogem destes papéis estereotipados. Heróis, empresários, políticos, famílias ricas e importantes. * Também vemos isso em novelas brasileiras, na Totalmente Demais, por exemplo, o braço direito do presidente da Bastilee, Germano (Humberto Martins), é Zé Pedro, interpretado pelo talentoso Helio de La Peña. O personagem é contador da empresa de cosméticos.

Foto: Divulgação / InternetSamantha Schmütz e Hélio de La Peña interpretam o casal Dorinha e Zé Pedro, na novela Totalmente Demais, pais de João (Leonardo Lima Carvalho) e Maria (Juliana Louise)
Samantha Schmütz e Hélio de La Peña interpretam o casal Dorinha e Zé Pedro, na novela Totalmente Demais, pais de João (Leonardo Lima Carvalho) e Maria (Juliana Louise)

Twitter

Não foi só Leonardo DiCaprio que ganhou hastgs no Oscar ~aliás, parabéns, Leo!~ .

Como forma de protesto, o twitter foi invadindo por #OscarSoWhite (Oscar tão branco) e #WhiteOscars (Oscar branco), lideram as publicações. Hollywood nunca viu teve tão escancarado este assunto.Mas concordo com uma das falas de Chris Rock, também no início de sua apresentação, ver poucos negros recebendo Oscar é comum para Hollywood.

Mas e por que esta revolta não ocorreu antes? Chris disse durante a cerimônia:

Estávamos mais  preocupados em sermos assaltados, linchados do que com o cinema

Comentário forte, não é mesmo?Sim, eu achei muito forte!

Porém, por mais que eu, como negra, não perceba este racismo de frente tão avassalador, não posso fechar meus olhos como se não existisse.

Quando estou em alguma comemoração, solenidade ou evento social, me pego olhando para os lados. às vezes sou a única negra, entre cerca de 400 pessoas (ou mais), em outros casos, dá para contar nos dedos quantos negros estão presentes (como convidados).

é diferente quando trata-se de um evento esportivo ou comunitário, infelizmente. Não quero comentar sobre isso, não sou ativista, mas não sou alienada (risos). Por isso me surpreendi com o Oscar, foi uma vitrine enorme para levantar a dicussão.

Onde estão os negros entre os premiados?Onde estão os negros dentro das empresas?Onde estão os negros nos cargos políticos e públicos?Onde os negros são maioria? E por quê?

Não sei se acredito na utopia da igualdade, nas cotas… Oportunidade igual é algo extremamente relativo. E mais do que oferecer oportunidades, trata-se, sobretudo, da consciência dos próprios negros em enfrentar este mundo com muita garra e mostrar suas competências, sem medo, sem mais segregação, apenas sendo pessoas competentes independente de etnias.

Só espero que não volte ao tempo em que brancos e negros eram proibidos de frequentar os mesmos lugares.

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