Quem vê o sucesso da chef funcional Lidiane Barbosa, e o amor que ela tem pelos alimentos hoje em dia, mal pode imaginar que essa relação nem sempre foi tão boa assim. Na sua adolescência, ela teve anorexia e durante a doença, mal chegava perto de alimento algum, simplesmente não comia. Foi um período tumultuado.
Na tentativa de fugir da preocupação dos pais, a menina vestia roupas em cima de roupas para disfarçar a magreza, jogava chocolates e biscoitos pelo vaso sanitário e espalhava embalagens afim de diminuir a angustia de sua família. Mas os pais perceberam muito rápido: em um ano esse pesadelo acabou e depois que ela saiu dessa, decidiu que iria usar o alimento como um aliado e não como um inimigo.
Ainda adolescente, começou a ler e se dedicar, e seus presentes preferidos passaram a ser os cursos de gastronomia, depois dos quais tomava para si a tarefa de cozinhar para a família em festas e nos fins de semana. Não por acaso, seu sonho passou a ser seguir carreira na área, mas acabou cursando Direito por insistência do pai.
No entanto, durante intercâmbio na Espanha, inscreveu-se também em um curso técnico de culinária em Barcelona. De volta, concluiu os estudos, advogou por um período, casou-se, teve duas filhas e mudou-se para Blumenau, em Santa Catarina, a fim de acompanhar o marido. Lá, pode, enfim, dedicar-se à sonhada profissão.
Sempre teve a preocupação de preparar receitas mais saudáveis, então suprimia alguns ingredientes, trocava outros e assim criava novas possibilidades. Chegando ao Sul, percebeu uma carência desse tipo de comida no mercado e então, em parceria com nutricionistas, começou a desenvolver receitas alternativas, sem uso de açúcar, gordura, glúten e leite animal.
O cardápio criado por ela envolve principalmente o uso de biomassa de banana verde (espessante natural de sabor neutro) no lugar dos clássicos creme de leite, maionese e leite condensado, além de ingredientes naturais como leites vegetais (extraídos de castanhas, amêndoas, macadâmia), linhaça, chia, quinoa, amaranto, entre outros.
Também é característica da culinária funcional de Lidiane a substituição de farinha de trigo por farinhas de arroz, grão-de-bico, amêndoas, mandioca, féculas de batata, amido de milho e outras, e temperos funcionais têm vez, a exemplo do açafrão, cardamomo, cúrcuma. O resultado origina receitas tão gostosas quanto às tradicionais, muitas vezes até adaptações de receitas de família, mas muito mais saudáveis.
“A grande magia que existe nesse trabalho é poder encantar, com um prato preparado por mim, pessoas que um dia receberam um diagnóstico desanimador em relação a alimentação. Por exemplo. Oferecer um brigadeiro a um diabético ou até mesmo um pão para um celíaco me faz ter certeza de que estou no caminho certo”, revela a chef. Com a substituição de alimentos e troca de ingredientes, Lidiane mostra que há formas criativas e acessíveis de proporcionar mudanças no estilo de vida das pessoas.