“Ainda somos os mesmos E vivemos Ainda somos os mesmos E vivemos Como os nossos pais..Como Nossos Pais”Elis ReginaCompositor: Belchior

Foto: Arquivo Pessoal / DivulgaçãoQualquer semelhança não é mera coincidência
Qualquer semelhança não é mera coincidência

Loni, desde que aprendi as primeiras palavras, vivo implicando contigo. Hoje, que já não sou tão criança, nem tão adulta, paro para pensar como eu ainda incomodo você pelas coisas que faz, pelo teu jeito, tuas escolhas, tuas opiniões. Sem desrespeitar, é claro, mas coloco dedo em tudo que você faz. Quero dar palpite em tudoooooo. Sabe aquela implicância de filho? Pois é, é isso.Sempre achava que éramos tão diferentes e na adolescência – pouco rebelde -gostava de insistir nisso. Enquanto isso, nas ruas, as pessoas não cansavam de dizer como éramos tão parecidas fisicamente.

– Olha só, tal mãe, tal filha.

Na minha adolescência – repito, pouco rebelde – cansava de dizer que nós não éramos parecidas. E realmente, não enxergava essa semelhança toda.Mas hoje, mãe, volto aqui para dizer como estava errada. Sim, eu errei. As pessoas estavam certas. Somos iguais. Tá, quase iguais.Mal sabem essas pessoas, como somos ainda mais iguais, quando eu contar alguns defeitinhos teus que, confesso, são meus também. Os mesmos que vivo implicando contigo e hoje, me vejo sendo i-gual-zi-nha. Pior que dizem que quando mais velha eu ficar, mais parecida vou ficar.

Então, para não perder o costume, volto a implicar contigo para te dizer:

-Mãe, para de guardar potinho. (Sim, eu também guardo todos eles, os de sorvete, de margarina. Juro que estou me controlando)

– Mãe, fala mais baixo. Você grita. (Sim, eu falo alto demais e ainda por cima, tão rápido que nem minha respiração acompanha)

– Mãe, para de colocar esses guardanapos por toda a estante (Eu não coloco guardanapo, mas adoro um enfeite)

– Mãe, não tem porque guardar todos esses papéis de presentes (Eu reclamo mas guardo quase todos)

– Mãe, coloca essas sacolinhas de papelão, das lojas, fora. é só para acumular aí (eu guardo e faço muita propaganda com elas por aí)

– Mãe, já parou e analisar tudo que você guarda nesse guarda-roupa? (eu não me desgrudo das minhas coisas e guardo achando que amanhã ou depois vou precisar)

– Mãe, já disse, para de comprar coisas para os outros, cuida mais de ti, compra pra ti. (eu adoro presentear os outros e esquecer de me dar um presente)

é, mãe. Somos tão iguais.Desculpa tornar público tudo isso. é só pra dizer que somos almas gêmeas, digamos assim, e te lembrar, mais uma vez, que apesar de ser a chata que implica contigo, e repete as mesmas manias, tem algo que não abrirei mão de ser como você: uma mãe tão presente, tão chiclé, tão você!

Foto: Arquivo Pessoal / DivulgaçãoTe amo!
Te amo!