Faz pouco tempo, tirei um anel de noivado do dedo. Depois de uma década de relacionamento, com alguns anos morando junto, cada um pegou sua escova de dentes e seguiu seu rumo. E como se não bastasse eu mesma ter que processar toda a separação, erguer a cabeça e me reinventar, ainda foi preciso lidar com ‘os outros’.
Ah, ‘os outros’. Adorável patrulha da vida alheia.
No começo, os comentários se dividiam em dois grupos: aqueles que queriam saber da fofoca (do tipo quem traiu quem), e aqueles que se compadeciam (não te preocupa, vocês ainda vão voltar). Nem preciso falar sobre minha vontade de dar um tapa na cara de cada um que dizia qualquer variação disso.
O tempo passou, o interesse pela fofoca também, e os mais otimistas se conformaram que não haveria volta. Então eu pensei ‘ufa!, estou salva, agora basta eu continuar vivendo a minha vida, bem quietinha, por aqui’.
Mas é claro que ‘os outros’ não estão satisfeitos. Como assim, você é jovem, bonitinha, não tem nenhum grande defeito, e mesmo assim não tem um namorado? (Por que afinal, se você tem qualidades, mas não tem um um namorado, só pode ter um grande defeito oculto, né?)
Aí começa o festival de absurdos:
“Não vou admitir que você comece a trazer homens para dentro de casa” – o pai, machista, sobre os acompanhantes imaginários.
“é bom mesmo que você fique amiga da fulaninha, pois caso contrário, poderia achar que você quer roubar o namorado dela” – a tia, sobre um casal de conhecidos da família.
“Ciclaninha virou lésbica, depois de uma desiluzão amorosa” – a prima, sugerindo que você ‘mude’ sua orientação sexual.
Vai dizer que não dá vontade de gritar com essa gente?
Qual o problema de acordar pela manhã, tomar um banho, um café, colocar um batom e um salto alto, e sair para trabalhar? E no fim do expediente, sair para um happy hour com os amigos, e depois simplesmente voltar para casa, feliz pelo dia legal que teve?
Percebo que é nessa ditadura imposta pelos ‘outros’, que muita gente se perde em relacionamentos sem muita razão de ser. Vivem à procura de um parceiro, muitas vezes sem nem saber o porquê. Procuram companhia porque é assim, porque a sociedade acredita que só é possível viver feliz com uma alma gêmea.
E veja bem, esse texto não tem nada a ver com propaganda pró-solteirice. Aliás, ser solteiro é tão legal quanto ter um namorado. Cada situação é única e proporciona experiências diferentes.
Então, se ‘os outros’ insistirem em meter o nariz na sua vida, simplesmente sorria e faça cara de quem entendeu o recado. Depois, vá cuidar da sua vida, livre, leve e tranquila com as suas decisões. Quando você tiver um namorado, todos eles saberão.