Associação Internacional dos Produtores de Tabaco (ITGA) promove nos dias 24 e 25 deste mês, o Encontro Regional das Américas, na Província de Salta, na Argentina. Na oportunidade, países produtores de tabaco, entre eles, o Brasil, estarão debatendo as tendências do mercado e assuntos de interesse direto dos produtores de tabaco. O baixo preço praticado na hora do produtor comercializar o tabaco será uma das pautas.
Para a Associação dos Fumicultores do Brasil (Afubra), que integra a ITGA, este será o momento dos países produtores firmarem, de forma oficial, um acordo para que a área plantada de tabaco seja reduzida, não apenas na região das Américas, mas em todo mundo. “Estamos notando dentro da associação internacional uma certa pressão ou tendência em baixar preços em todos países produtores. Nós temos que sentar e convencionar, entre nós, uma diminuição da área plantada e, para isso, é preciso ter um acordo entre todos os membros da associação internacional”, antecipa o presidente da Afubra, Benício Werner, que também é tesoureiro da ITGA.
Segundo Werner, o preço do tabaco está estagnado, enquanto os custos de produção subiram. Para ele, como as empresas argumentam que têm altos estoques, “é preciso equilibrar oferta e demanda.”
A proposição que será defendida pela associação brasileira durante o encontro já vem sendo debatida há mais tempo entre representantes de entidades ligadas à associação internacional. “Atualmente, 90% da produção está nas mãos da ITGA, que é formada por 24 países”, observa Werner.
“É um assunto que já vem sendo trabalhado, discutido entre nós [países produtores] e agora vamos formatar isso como uma proposição da região das Américas.”
BENÍCIO WERNER – Presidente da Afubra
As resoluções do encontro regional serão levadas à assembleia anual da associação internacional que ocorre, normalmente, no mês de outubro. Werner destaca que o controle precisa ocorrer, principalmente nas regiões das Américas e África, onde estão os maiores produtores de tabaco.
Folha explica: Associação Internacional dos Produtores de Tabaco recebe a sigla ITGA, pois é uma referência ao nome da associação em inglês: International Tobacco Grower’s Association.
Comercialização lenta
Ao analisar o mercado, o presidente da Afubra, Benício Werner, manifestou preocupação com a compra do tabaco na atual safra. Segundo o dirigente, havia uma expectativa de que ocorresse uma comercialização “mais branda, melhor para o produtor, e isso não está acontecendo.”
Conforme Werner, a comercialização do tabaco está muito lenta neste ano. “A gente tinha uma expectativa, primeiro porque nenhuma empresa acordou com nosso custo de produção. Elas não praticaram o percentual de aumento na tabela que acusou a variação no custo de produção.”
Werner comentou que técnicos da Afubra, que acompanham a comercialização de tabaco, já visitaram 701 produtores de tabaco na atual safra e se constatou que, a média do quilo do produto, que era vendido a R$ 9,84 no mesmo período no ano passado, agora está em R$ 9,73. “Uma variação de R$ 0,11”, calcula. Essa avaliação é com base em dados levantados até o sábado passado. Além disso, com a alta do dólar, observa Werner, as empresas deveriam estar praticando preços melhores. “Há um desequilíbrio muito grande”, frisa.
Kaufmann reduziu a área plantada e diversifica
Há quase 30 anos, Wilson Kaufmann, 61 anos, planta tabaco. A cultura é a principal fonte de renda da família, mas a aposta na diversificação também vem ‘marcando’ presença. Em 2013, ele e a esposa começaram a plantar hortaliças. Atualmente, por meio da Cooperativa dos Produtores de Venâncio Aires (Cooprova), comercializam a produção que integra a merenda escolar. Além disso, a família cultiva milho, que representa a terceira fonte de renda.
O auge da produção de tabaco na propriedade de Kaufmann foi entre os anos 2010 e 2012, quando foram plantados 84 mil pés. Na safra passada foram 48 mil pés e na atual, com muitas perdas em virtude da estiagem, a produção é de 40 mil pés. “Espero vender 420 arrobas nesta safra”, disse.
Apesar da redução da área, Kaufmann observa que ainda não pode “largar o fumo, que é uma venda certa e garante mais renda.” Além da desvalorização na hora da compra, o produtor observa que a mão de obra de diaristas está cara, e acrescenta a dificuldade de encontrar pessoas para trabalharem com a cultura. “E pessoas de confiança”, observa o fumicultor que atuou, no passado, como orientador agrícola de uma fumageira. Sobre a safra de 2021, o fumicultor acha ainda cedo para fazer projeções. “Tudo depende. Estou com 61 anos, preciso ver como as minhas pernas vão estar até lá para decidir quanto iremos plantar”, afirma.