Amor materno em dobro para Miguel

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O segundo domingo de maio marca uma data muito especial. Para alguns, pela comemoração ao lado daquelas que lhe deram a vida. Para outros, a presença materna está em uma avó, uma tia ou outra pessoa que desempenhou este papel tão importante. Afinal de contas, mãe é aquela que cuida, protege e orienta, independente do vínculo de sangue. Para algumas pessoas, inevitavelmente, o Dia das Mães é marcado pela saudade daquelas que tão importante foram, mas não estão mais neste plano.
Já para o pequeno Miguel, de 4 meses e meio, será o primeiro domingo das mães especial e, no caso dele, comemorado em dose dupla. Isso porque Miguel é fruto do amor de duas mães, da união de duas mulheres que escolheram formar uma família.

A operadora de máquinas Aline Rodrigues dos Reis Vaz, 41 anos, e a assistente administrativo Bruna Fernanda Vaz, 28, estão juntas há cinco anos. Em 2020, elas oficializaram a união com uma festa com a família e amigos que, inclusive, foi destaque nas páginas da Folha do Mate.

Aline já é mãe de Thiago, de 18 anos, mas desde que começou o relacionamento com Bruna elas conversavam sobre ter um filho juntas. Primeiro, aguardaram se estabilizar financeiramente para dar início ao processo e casaram no civil, já que é uma exigência para o registro do bebê.

A escolha foi pela técnica de fertilização in vitro – na qual são retirados os óvulos das mães e fertilizados com o sêmen de um doador anônimo. O processo começou a ser feito em abril de 2020 e durou cerca de um ano.

Primeiro, foi feito o início do processo de fertilização em Porto Alegre, quando foram retirados os óvulos de Bruna para a fecundação e três embriões foram congelados. Foi feita uma transferência em abril, com dois embriões, e em junho, com mais um, todas sem sucesso.

Foi então que decidiram mudar o processo para Lajeado, até pela proximidade de Venâncio. As mães participaram de um programa chamado Ovodoação Compartilhada, que consiste na estimulação com metade dos óvulos que foram coletados, para os demais serem doados para outra pessoa. “Isso possibilitou a economia da nossa fertilização, porque parte dos custos é paga por quem recebe os óvulos”, explica Bruna.

GESTAÇÃO

Aline teve uma gestação tranquila, sem intercorrências. O único tratamento necessário foi o uso de anticoagulantes, com a realização de mais de 300 injeções, em virtude da trombofilia. Miguel nasceu no Hospital São Sebastião Mártir (HSSM) no dia 18 de dezembro de 2021, com 3,710 quilos e 48 centímetros.

Desde as primeiras semanas, as duas mães dividem as tarefas. Bruna teve cinco dias de licença para acompanhar Aline e Miguel em casa. Agora, o bebê fica até o final da manhã com Aline em casa e depois vai para a escolinha. Quem busca, à tardinha, é Bruna, que cuida dele sozinha até o retorno do trabalho de Aline à noite.

PRECONCEITO
As mães do Miguel afirmam que alguns constrangimentos ainda acontecem, mas casos de preconceito nunca vivenciaram. “Já estivemos em lugares em que automaticamente quem está com ele no colo é definida como a mãe e a outra é a vó, tia, irmã, qualquer coisa menos a outra mãe”, relata Bruna.
Na certidão de nascimento constam o nome das duas mães, mas em cadastros do governo como CPF, cartão SUS e caderneta de vacinação ainda há a opção apenas de nome do pai e nome da mãe. “Mas no geral sempre somos muito bem recebidas, no máximo as pessoas têm curiosidade sobre o processo”, afirma Bruna.

Batismo deve ser realizado no fim do mês

Ainda no mês de maio, Miguel deve ter mais um momento especial: vai receber o sacramento do batismo na comunidade católica. Ele será batizado na Igreja Matriz São Sebastião Mártir. Aline e Bruna já fizeram o encaminhamento e não precisaram proceder de uma forma diferente. “Não tivemos que fazer nada diferente das outras crianças, as exigências são as mesmas das de um casal heterossexual”, explica Bruna.

Embora sejam católicas, as duas não têm o hábito de frequentar de forma assídua as celebrações. Elas enfatizam que, na fase adulta, o filho deve ter liberdade de escolher outra religião, caso seja essa sua vontade. Os padrinhos e madrinhas são irmãos e amigos do casal. “Escolhemos pessoas que temos uma maior convivência, que torceram junto com a gente pela chegada do Miguel e que sabemos que vão nos ajudar na educação dele”, acrescenta Bruna.

Uma pergunta para Aline e Bruna

Folha do Mate: Como pensam em proceder com o filho em Dia dos Pais e outras datas em que a presença masculina tem evidência?

Aline e Bruna: O Miguel crescerá dentro de uma família onde existem apenas as duas mães, na nossa família não existe pai. Nós não pretendemos assumir esse papel, então esse dia não vai ser comemorado pela nossa família. Assim que ele tiver entendimento nós vamos explicar sobre o doador, mas ele jamais será um pai. O ideal seria que comemorássemos o dia da família, ao invés dessas outras datas como dia das mães ou dia dos pais. Muitas crianças vivem em famílias diferentes do ‘padrão’, e essas datas acabam excluindo essas famílias. Por hora, vamos apenas guardar os ‘trabalhinhos’ da escola caso sejam feitos. E, de qualquer forma, Miguel crescerá cercado por boas presenças masculinas.



Cassiane Rodrigues

Cassiane Rodrigues

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), atua com foco nas editorias de geral, conteúdos publicitários e cadernos especiais. Locutora da Rádio Terra FM, tem participação nos programas Terra Bom Dia, Folha 105 1° edição e Terra em Uma Hora.

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